ÒRÚNMÌLÁ / IFÁ.

Mas pelo fato que este trabalho era diretamente inspirado pelo próprio Ọrúnmìlá, não seria fácil para ninguém dispor de tempo, esforços e dinheiro, para iniciar desta maneira numa aventura interminável. Aquilo é dizer que a sociedade de Ifá chamada conhecimento é interminável, imutável e imortal. Ver-se-á de suas revelações que Ọrúnmìlá, embora a mais nova de todas as divindades criadas por Deus, era verdadeiramente a própria testemunha de Deus quando começou a criar outras substâncias orgânicas e inorgânicas. Este é o porque de ser consultado como o Ẹlẹri Upin. Somente ele conhece a verdadeira natureza e Orígem de todos os objetos animados ou inanimados criados por Deus.

Este conhecimento tem lhe dado desta maneira incomparáveis poderes que fazem-no o mais eficiente de todos os adivinhos, que eram as primeiras criaturas de Deus.

Seus seguidores que são capazes de alcançar algo do conhecimento conseqüentemente controlam enorme poder o qual tem muitas vezes confundido muito em chamando na magia ou fetiche.

Por outro lado à expressão “IFÁ” encerra as revelações, estilos devida, e religião ensinada por Ọrúnmìlá. Este é o porque de ser freqüentemente dito que Ọrúnmìlá é a divindade mas Ifá é sua palavra.

O sacerdote de Ifá é o pedaço da boca de Ọrúnmìlá e até comparativamente recentemente, ele era o eixo em torno do qual a vida diária da comunidade girava. Naqueles dias era respeitável ir abertamente até ele para buscar solução para os problemas da vida. Atualmente tem se tornado moda consultar um sacerdote de Ifá em segredo absoluto e furtivamente.

Três fatores têm sido os responsáveis por esta espetacular mudança de atitude.

O primeiro é a chegada da civilização moderna e a educação trazida desta forma. A segunda é a despótica influência das religiões modernas as quais eram usadas pela espécie humana como armas para conquistas não apenas das mentes mortais, mas também para manifestamente ambições de território.

O terceiro é o impacto agregado das duas primeiras forças. As crianças dos sacerdotes de Ifá, não mais desejam ser associadas com a religião e ao modo de vida de seus pais, aos quais eles rejeitam como superstições pagãs.

Muitos sacerdotes de Ifá dotados de brilhante conhecimento teórico e prático do oráculo, têm morrido não restando nada gravado de suas riquezas de conhecimento e experiência. O volume de livros os quais eu estou prestes a me lançar são uma tentativa para deixar um relato histórico da grande obra de Ọrúnmìlá.

Eles se destinam a provocar debates para o enriquecimento do conhecimento de modo que as gerações vindouras conhecerão sobre Ọrúnmìlá e seu acesso para religião, em tempo, ser orgulhoso por estar associado com ela. Este trabalho se designa também para assistir a estudantes da filosofia de Ifá na obtenção mais profunda do conhecimento o Ifismo, tão bem quanto gerar interesse nele.

Também irá prover assistência para aqueles que foram iniciados na religião , mas que continuam a duvidar da veracidade da concepção inteira de Ọrúnmìlá.

Freqüentemente quando uma pessoa vai a um sacerdote, ele conta para seu cliente os encantamentos do Ọdu específico que se apresentou para ele. Depois disso ele prescreve os sacrifícios a serem feitos sem preocupar-se em narrar ao questionador a história fundamental do sacrifício que ele está pedindo para fazer. Eles o fazem por que acreditam que a mente não iniciada não irá entendê-los.

O cliente começa a questionar se o sacrifício é ou não relevante.

Se ele faz ou não o sacrifício, torna a reputação do sacerdote de Ifá incerta e não as suas convicções da necessidade disto. Mais importante é uma tentativa para fazer a religião se classificar como muitas religiões novas, como o judaísmo, cristianismo, budismo e islamismo. Estas outras religiões tinham a vantagem da documentação anterior. Quanto ao mais, nós veremos que Ifá é muito mais rico e mais antigo corpo de conhecimentos.

È importante notar que todavia este trabalho não coloca reivindicações quaisquer que sejam por conta completa da religião de Ifá. É dito que ninguém pode saber no total a Obra completa de Ọrúnmìlá. Este trabalho é portanto o início, e a pesquisa continuará durante toda a vida do autor. Espera-se que ela será atualizada de tempos em tempos tendo em vista a ausência de pesquisas e revelações adicionais.

Por outro lado, o escritor espera com esses volumes de dezessete livros no todo, desmistificar a filosofia da Religião de Ifá. Contrário a todas as aparências externas, não há nada mágico sobre Ifá. A arte é análoga ao trabalho de astrologia. Um astrólogo conta o futuro de um homem lendo o comportamento das estrelas que estavam no céu na época em que a pessoa nasceu. Do mesmo jeito quando uma criança nasce, os instrumentos principais de divinação de Ifá são usados para sensibilizar sua cabeça e escutá-la. O instrumento irá declarar o nome do Ọdu que é sua estrela guia. O sacerdote de Ifá irá então revelar a história da vida do Ọdu que surgiu para ele e pode proclamar com cem por cento de certeza que a vida da criança irá tomar alguns caminhos que aparecem no Ọdu. É uma coisa que acontece quando o Ọdu particular surge no jogo quando uma pessoa é iniciada na religião de Ifá e na sociedade secreta (Ogbodu).

Por exemplo, se a cerimônia do nome ou durante a iniciação em ifá , Ejiogbe é o Ọdu que surgir , a pessoa pode convenientemente ser informada de que sua história de vida seguirá o caminha da vida de Ejiogbe.
Se por exemplo o iniciado é negro e de estatura média, ele pode ser informado que se ele é capaz de seguir os èto e ewọ de Ejiogbe ele certamente prosperará na vida e dispensará sua vida em serviços humanitários. Se por outro lado à pessoa é clara ou baixa, ele pode ser informado que ele não será provavelmente muito próspero a menos que consulte seu Ifá e execute sacrifícios especiais para remover os obstáculos que Ejiogbe tinha em circunstâncias similares. Neste caso Ejiogbe tinha retornado para o céu para se recuperar antes da fortuna lhe sorrir na terra.

No mesmo jeito, se algum Ọdu particular surgir no jogo , o sacerdote vai recomendar a perguntar se é para realizar algum sacrifício executado pelo Ọdu em tais circunstâncias. Se o jogo revelar que a morte da pessoa é iminente, o sacerdote simplesmente informará a pessoa para fazer um sacrifício que Ọrúnmìlá foi informado a fazer , e o qual ele recomendou a outros fazerem a fim de evitar o perigo da morte prematura em circunstâncias similares.

É razoável imaginar pela análise anterior que longe de uma vida de mágico, o sacerdote de Ifá é simplesmente um hábil intérprete. Contanto ele pode desenvolver uma memória retentiva, desde que a maiOría não pode ler e escrever, ele tem somente que relatar os problemas de um cliente com uma situação correspondente ao que ocorreu a milhares ou milhões de anos atrás, para revelar problemas constantes em uma informação de hoje e colocá-los na forma apropriada. Estas considerações da obra de Ọrúnmìlá são uma tentativa de auxiliar os não iniciados, bem como os neófitos, a serem capazes de interpretar as revelações de Ifá por eles mesmos, a fim de perceber que o sacerdote tenta fazer no discurso de sua prática a arte de Ifá.

È importante observar do início que Ọrúnmìlá não procura pela conversão dos fiéis. Esta é uma religião do indivíduo, o qual não confia na importância dos números para sobrevivência. No início Ọrúnmìlá ensina que a melhor maneira de compreensão é prezando seus conhecimentos, o que é completamente eficaz para seu trabalho e para a melodia de sua música.

 Por: Cromwell Osamoro

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Iyàsan

Òya é a divindade dos ventos, das tempestades e do rio Níger que, em iorubá, chama-se Odò Òya. Foi à primeira mulher de Sàngo e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Conta uma lenda que Sàngo enviou-a em missão na terra dos baribas, a fim de buscar um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca e pelo nariz. Òyà, desobedecendo às instruções do esposo, experimentou esse preparado, tornando-se também capaz de cuspir fogo, para grande desgosto de Sàngo, que desejava guardar só para si esse terrível poder.

Òyà foi, no entanto, a única das mulheres de Sàngo que, ao final do seu reinado, segui-o na sua fuga para Tapa. E, quando Sàngo recolheu-se para baixo da terra em Koso, ela fez o mesmo em Irá.

Antes de se mulher de Sàngo, Òyà tinha vivido com Ogum. Vimos, em capítulos precedentes, como a aparência do deus do ferro e dos ferreiros causou-lhe menos efeito que a elegância, o garbo e o brilho do deus do travão. Ela fugiu com Sàngo, e Ogum, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival; mas este último foi à procura de Olodumaré, o deus supremo, para lhe confessar que perdoasse a afronta. E explicou-lhe: “Você, Ogum, é mais velho do que Sàngo! Se, como mais velho, deseja preservar sua

dignidade aos olhos de Sàngo e aos outros orixás, você não deve se aborrecer nem brigar; deve renunciar a Òyà sem recriminações” . Mas Ogum não foi sensível a esse apelo, dirigido aos sentimentos de indulgência. Não se resignou tão calmamente assim, lançou-se à perseguição dos fugitivos e, como vimos anteriormente, trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel. Que foi então, dividida em nove partes. Este números 9, ligado a Òyà, está na origem de seu nome Iansã e encontramos esta referência no ex-Daomé, onde o culto de Òyà é feito em Porto Novo sob o nome de

Avésan, no bairro Akron ( Lokoro dos Iorubás) e sob o de Abésan, mais ao norte em Baningbe. Esses nomes teriam por origem a expressão Aborimésan (“ com nove cabeça” ), alusão aos supostos nove braços do delta do Níger.

Outra indicação da origem desse nome nos é dada pela lenda da criação da roupa de Egúngún por Òyà. Roupas sob as quais, em certas circunstâncias, os mortos de uma família voltam à terra a fim de saudar seus descentes. Òyà é o único orixá capaz de enfrentar e de dominar os Egúngún.

Òyà lamentava-se de não ter filhos. Esta triste situação era conseqüência da ignorância a respeito das suas proibições alimentares. Embora a carne de cabra lhe fosse recomenda, ela comia a de carneiro.

Òyà consultou um babalawo, que lhe revelou o seu erro, aconselhando-a a fazer oferendas, entre as quais deveria haver um tecido vermelho. Este pano, mais tarde, haveria de servir para confeccionar as vestimentas dos Egúngún. Tendo cumprido essa obrigação, Òyà tornou-se mãe de nove crianças, o que se exprime em iorubá pela frase: “ Iyá ómó mésàn, Origem de seu nome Iansã.

Quanto ao seu outro nome _ya, há uma lenda que faz alusão à sua origem explicando-a por um jogo de palavras. Nela se conta “ como uma cidade chamada Ipô esta ameaçada de destruição, invadida pelos guerreiros tapás. Para preservá-la foi feita uma oferenda das roupas do rei dos ipôs. Esse traje era de tal beleza que as galinhas do lugar puseram-se a cacarejar de surpresa – razão pela qual, diz-se gravemente na lenda, as galinhas cacarejam até hoje, sempre estão em presença de qualquer coisa estranha. Esse prestigioso traje foi rasgado (ya) em dois para servir para servir de almofada de apoio

às cabaças de oferendas. Apareceu então, misteriosamente, uma água que se espalhou (ya), inundando os arredores da cidade e afogando os agressores tapas. Quando os habitantes de Ipô procuraram um

nome para este rio que surgiu e se espalhou, ya, quando as roupas foram rasgadas, ya, decidiram chamá-lo Odò Òya.

Existe uma lenda, conhecida na África e no Brasil, que explica de que maneira os chifres de búfalo vieram a ser utilizados no ritual do culto de Òyà-Iansã:

“Ogum foi caçar na floresta. Colocando-se à espreita, percebeu um búfalo que vinha em sua direção.

Preparavam-se para matá-lo quando o animal, parando subitamente, retirou sua pele. Uma linda mulher apareceu diante de seus olhos. Era Òyà-Iansã. Ela escondeu a pele no formigueiro e dirigiu-se ao mercado da cidade vizinha. Ogum apossou-se do despojo, escondendo-o no fundo de um depósito de milho, ao lado de sua casa, indo, em seguida, ao mercado fazer a corte à mulher-búfalo. Ele chegou a pedi-la em casamento, mas Òyà recusou inicialmente. Entretanto, ela acabou aceitou, quando, de volta à

floresta, não mais achou a sua pele. Òyà recomendou ao caçador não contar a ninguém que, na realidade, ela era um animal. Viveram bem durante alguns anos. Ela teve nove crianças, o que provocou o ciúme das outras esposas de Ogum. Estas, porém, conseguiram descobrir o segredo da aparição da nova mulher. Logo que o marido se ausentou, elas começaram a cantor: “ Máa je, máa um, àwò ré nbó nínú àká”, Você Pode beber e comer (e exibir sua beleza), mas a sua pele está no deposito (você é um animal).

“Òyà compreendeu a alusão; encontrando a sua pele, vestiu-a e voltando à forma de búfalo, matou as mulheres ciumentas. Em seguida, deixaram os seus chifres com os filhos, dizendo-lhes: Em caso de necessidade, batam um contra o outro, e eu virei imediatamente em vosso socorro. É por essa razão que chifres de búfalos são sempre colocados nos locais consagrados a Òyà-Iansã”.

Tivemos oportunidade de ouvir essa história na Bahia, narrada por Pai Cosme, um Velho pai-desanto, hoje falecido. Ele pronunciava com perfeita correção a frase iorubá citada acima.

Os oríkì dirigidos a Iansã descrevem-na bastante bem:

“Òyà, mulher corajosa que, os acordar, empunhou um sabre”.

Òyà, mulher de Sàngo.

Òyà, cujo marido é vermelho.

Òyà, que embeleza seus pés com pó vermelho.

Òyà, que morre corajosamente com seu marido.

Òyà, vento da morte.

Òyà, ventania que balança as folhas das árvores por toda parte.

Òyà, a única que pode segurar os chifres de um búfalo”.

 Òyà-Iansã no Novo Mundo

 As pessoas dedicadas a Iansã, nome sob o qual ela é mais conhecida no Brasil, usam colares de contas de vidro grená. A quarta-feira é o dia da semana consagrado a ela, o mesmo dia de Sàngo, seu marido. Seus símbolos são como na África: os chifres de búfalo e um alfanje, colocados sobre seu “ pejí”. Ela recebe sacrifícios de cabras e oferendas de acarajés (àkàrà na África). Ela detesta abóbora e a carne de carneiro lhe é proibida.

Quando se manifesta sobre um dos iniciados, ela está adornada com uma coroa semelhante à dos reis africanos, cujas franjas de contas escondem o seu rosto. Ela traz um alfanje em uma das mãos e um espanta-moscas feito de cauda de cavalo na outra. Suas danças são guerreiras e, se Ogum está presente, ela se engaja num duelo com ele, lembrança, sem dúvida, de suas antigas divergências. Ela evoca também, através de seus movimentos sinuosos e rápidos, as tempestades e os ventos enfurecidos. Seus fiéis saúdam-na gritando: “ Epa Hei Òya!”.

Arquétipo

O arquétipo de Òyà-Iansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias, mas que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar a manifestações a mais extrema cólera. Mulheres, enfim, cujo temperamento sensual e voluptuoso pode levá-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e freqüentes, sem reserva nem decências, o que não as impede de continuarem muito ciumentas dos seus maridos, por elas mesmas enganados.

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Òrìsá e Magia

O Culto Tradicional Ioruba e minha oralidade são minhas formas mais simples de amar o Òrìsá.

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Osòósi na África

Osòósi, o deus dos caçadores, teria sido o irmão caçula ou filho de Ogum. Sua importância deve-se a diversos fatores.

O primeiro é de ordem material, pois, como Ogum, ele protege os caçadores, torna suas expedições eficazes, delas resultando caça abundante.

O segundo é de ordem médica, pois os caçadores passam grande parte do seu tempo na floresta, estando em contato freqüente com Ossain, divindade das folhas terapêuticas e litúrgicas, e aprendem com ele parte do seu saber.

O terceiro é de ordem social, pois normalmente é um caçador que, durante suas expedições, descobre um lugar favorável à instalação de uma nova roça ou de um vilarejo. Torna-se assim o primeiro ocupante do lugar e senhor da terra (onílé), com autoridade sobre os habitantes que aí venham a se instalar posteriormente.

O quarto é de ordem administrativa e policial, pois antigamente os caçadores (Odé) eram únicos a possuir armas no vilarejo, servindo também de guardas-noturnos (Osi).

Uma lenda explica com surgiu o nome Osòósisì, derivado de Osowusì (“ o guarda noturno é popular” ):

“Ólófin Odùduà, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos inhames, um ritual indispensável no inicio da colheita, antes do quê, ninguém podia comer desses inhames. Chegado o dia, uma grande multidão reuniu-se no pátio do palácio real. _l_fin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido, cercado de suas mulheres e de seus ministros, enquanto os escravos o abanavam e espantavam as moscas, os tambores batiam e louvores eram entoados para saudá-lo. As pessoas reunidas conversavam e festejavam alegremente, comendo dos novos inhames e bebendo vinho de palma.

Subitamente um pássaro gigantesco voou sobre a festa, vindo pousar sobre o teto do prédio central do palácio. Esse pássaro malvado fora enviado pelas feiticeiras, as Ìyámi Ò_òròngà, chamadas também as Iyà mi Osoronga, isto é, as proprietárias dos pássaros, pois elas utilizam-nos para realizar seus nefastos trabalhos. A confusão e o desespero tomam conta da multidão. Decidiram, então, trazer sucessivamente Osotogun, o caçador das vinte flechas, de Ido; Osotogí, o caçador das quarenta flechas, de Moré; Osotadotá, o caçador das cinqüenta flechas, de Ilarê, e finalmente Osotokansô, o caçador de uma só flecha, de Iremã. Os três primeiros muitos seguro de si e uns tanto fanfarrões, fracassaram em suas tentativas de atingir o pássaro, apesar do tamanho deste e da habilidade dos atiradores. Chegada a vez de Osotokansosô, filho único, sua mãe foi rapidamente consultar um babalaô que lhe declarou: “ Seu filho esta a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza” . Ela foi colocar na estrada uma galinha, que havia sacrificado, abrindo-lhe o peito, como deveriam ser feitas as oferendas as feiticeiras, e dizendo três vezes: “Quero o peito do pássaro receba esta oferenda” . Foi no momento preciso que seu filho lançava sua única flecha. O

pássaro relaxou o encanto que o protegia, para que a oferenda chegasse ao seu peito, mas foi a flecha de Osotokansosô que o atingiu profundamente. O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu.

Todo mundo começou a dançar e cantar: “Osó (osi) é popular! Osó é popular! Oxowussi (Osowusì)!

Oxowussi!! Oxowussi!!”

Com o tempo Osowusì transformou-se em Osòósì.

 Osòósi no Novo Mundo

 O culto de Osòósi encontra-se quase extinto na África, mas bastante difundido no Novo Mundo, tanto em Cuba como no Brasil. Na Bahia chega-se mesmo a dizer que ele foi rei de Kêto, onde outrora era cultuado. Isso explica, talvez, pelo fato de este país ter sido completamente destruído e saqueado pelas tropas do rei Daomé, no século passado, e seus habitantes, inclusive os iniciados de Osòósi, foram vendidos como escravos para o Brasil e Cuba. Esses africanos trouxeram consigo o conhecimento do ritual de celebração desse culto. Chegou-se a tal ponto que, embora extinto ainda em

Kêto os locais onde Osòósi recebia outrora referendas e sacrifícios, já não existiam atualmente pessoas que saibam ou desejem cultua-lo.

No Brasil, seus numerosos iniciados usam colares de contas azul-esverdeadas e quinta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Seu símbolo é, como na África, um arco e flecha em ferro foriado.

Sacrificam-lhe porcos e são lhe oferecidos pratos de feijão preto ou fradinho com eran patere (miúdos de carne).

Osòósi é sincretizado na Bahia com São Jorge e com São Sebastião no Rio de Janeiro, enquanto em Cuba ele é São Noberto.

No decorrer do “ xirê” dos orixás, ele segura em uma das mãos um arco e flecha, seus símbolos, e na outra um “ erukerê” (espanta moscas), insígnia de dignidade dos reis da África e que lembra ter sido ele rei de Ketô. Suas danças imitam a caça, a perseguição do animal e o atirar da flecha. Osòósi é saudado com o grito “Okê!” .

Conta-se no Brasil que Osòósi era irmão de Ogum e de Exu, todos os três filhos de Iemanjá. Exu era indisciplinado e insolente com sua mãe e por isso ela o mandou embora. Os outros dois se conduziam melhor. Ogum trabalhava no campo e Osòósi caçava na floresta das vizinhanças, de modo que a casa estava sempre abastecida de produtos agrícolas e de caça. Iemanjá, no entanto, ainda inquieta resolveu

consultar um babalaô. Este lhe aconselhou a proibir que Osòósi saísse à caça, pois se arriscava a encontrar Ossain, aquele que detém o poder das plantas e que vivia nas profundezas da floresta.

Osòósi ficaria exposto a um feitiço de Ossain para obriga-lo a permanecer em sua companhia.

Iemanjá exigiu, então, que Osòósi renunciasse as suas atividades de caçador. Este, porém de personalidade independente, continuou suas incursões à floresta. Ele partia com outros caçadores, e como sempre faziam, uma vez chegados juntos a uma grande árvore (ìrókò), separavam-se, prosseguindo isoladamente, e voltavam a se encontrar no fim do dia e no mesmo lugar. Certa tarde, Osòósi não voltou para o reencontro, nem respondeu aos apelos dos outros caçadores. Ele havia encontrado Ossain e este lhe dera pára beber uma poção onde foram maceradas certas folhas, como a amúnimúyè, cujo nome significa “ apossa-se de uma pessoa e de sua inteligência” , o que provocou

Osòósi uma amnésia. Ele não sabia mas quem era nem onde morava. Ficou, então, vivendo na mata com Ossain, como predissera o babalaô.

Ogum inquieto com a ausência do irmão partiu à sua procura, encontrando-o nas profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Iemanjá não quis mas receber o filho desobediente. Ogum, revoltado pela intransigência materna, recusou-se a continuar em casa (é por isso que o lugar consagrado a Ogum está sempre instalado ao ar livre). Osòósi voltou para a companhia de Ossain, e Iemanjá, desesperada por ter perdido seus filhos, transformou-se em um rio, chamado Ògùn (não confundir com Ògún, o orixá).

O narrador desta lenda chamou a atenção para o fato de que “ esses quatro deuses iorubas — Exu, Ogum, Osòósi e Ossain — são igualmente simbolizados por objetos de ferro forjado e vivem ao ar livre” .

Arquétipo

O arquétipo de Osòósi é o das pessoas espertas, rápidas, sempre alerta e em movimento. São pessoas cheias de iniciativas e sempre em vias de novas descobertas ou de novas atividades. Têm o senso de responsabilidade e dos cuidados para com a família. São generosas, hospitaleiras e amigas da ordem, mas gostam muito mudar de residência e de achar novo meios de existência em detrimento, algumas vezes, de uma vida doméstica harmoniosa e calma.

 Outros deuses de caça

 Oreluerê (Órúlúéré)

Além de Ogum e Osòósi, existem outros deuses da caça entre os iorubas, citemos _r_ (Ore) ou

Órúlúéré (Oreluerê), que, segundo alguns, teria sido um dos dezesseis companheiros de Odùdùa na ocasião de sua chegada a Ifé. Segundo outros, ele teria sido um dos chefes dos igbôs, juntamente com Orixalá, para opor uma forte resistência aos invasores.

 Erinlé

 Em Ijexá, onde passa um rio chamado Erinl_, há um deus da caça com o mesmo nome. Seu templo principal é em Ilobu, onde, segundo onde Ulli Beier, dois cultos teriam se misturado: o culto do rio e do caçador de elefantes, que, em diversas ocasiões, viera ajudar os habitantes de Ilobu a combater seus adversários. Seu símbolo, de ferro forjado,é um pássaro fixo sobre uma haste central, circundada por dezesseis outra hastes sobre as quais se encontra também um pássaro. O culto de Erinl_ realiza-se

as margens de diversos lugares profundos (ibù) do rio. Cada um desses lugares recebe um nome, mas é sempre Erinl_ que é adorado sob todos esses nomes. Ele recebe oferendas de acarajé, de inhames, bananas, milhos, feijão assado, tudo regado com azeite-de-dendê.

No Brasil e em Cuba é conhecido com o nome de Inlé.

 Ibualama (Ibùalámo)

 Um desses lugares profundos de Erinlé dos quais falamos acima Ibùalám_ (Ibualama). Ele tem uma certa notoriedade e é objeto de um culto praticado no Novo Mundo, principalmente na Bahia, onde, durante as danças, ele traz nas mãos o símbolo de Osòósi, o arco e flecha de ferro, assim como uma espécie de chicote (bilala), com o qual ele se fustiga a si mesmo.

Logunedé (LógunÉde)

Erinlé teria tido, com Oxum Ipondá, um filho chamado Lógun_de (Logunedé), cujo culto se faz ainda, mas raramente, em Ilexá, onde parece estar em vias de extinção. No Brasil, tanto na Bahia como no Rio de Janeiro, Logunedé tem, entretanto, numerosos adeptos. Esse deus tem por particularidade viver seis meses do ano sobre a terra, comendo caça, e os outros seis meses, sob as águas de um rio, comendo peixe. Ele seria também, alternadamente do sexo masculino, durante seis meses, e do sexo feminino durante os outros seis meses. Esse deus, segundo se conta na África, tem aversão por roupas vermelhas ou marrons. Nenhum dos seus adeptos ousaria utilizar essas cores no seu vestuário. O azul turquesa, entretanto parece ter sua aprovação. É sincretizado na Bahia com São Expedito.

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ÒGÚM

Ògúm, como personagem histórico, teria sido o filho mais velho de Odùduà, o fundador do Ifé. Era um temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos. Dessas expedições, ele trazia sempre um rico espólio e numerosos escravos. Guerreou contra a cidade de Ará e a destruiu. Saqueou e devastou muitos outros Estados e apossou-se da cidade de Ire, matou o rei, aí instalou seu próprio filho no trono e regressou glorioso, usando ele mesmo o título de Oníìré, “Rei de Ire”. Por razões que ignoramos Ògúm nunca teve direito de usar uma coroa (adé), feita com pequenas contas de vidro e ornada por franjas de miçangas, dissimulando o rosto, emblema da realeza para os iorubas. Foi autorizado a usar um simples diadema, chamado àkòró, e isso lhe valeu ser saudado, até hoje sob os nomes de Ògún Oníìré e Ògún Aláàkòró inclusive no Novo Mundo, tanto no Brasil como em Cuba, pelos descendentes dos iorubas trazidos para esses lugares.

Ògúm teria sido o mais enérgico dos filhos de Odùduà e foi ele que se tornou regente do reino de Ifé quando Odùduà ficou temporariamente cego.

Ògúm decidiu, depois de numerosos anos ausente de Irê, voltar para visitar seu filho. Infelizmente, as pessoas celebravam, no dia da sua chegada, uma cerimônia em que os participantes não podiam falar sob nenhum pretexto. Ògúm tinha fome e sede; viu vários potes de vinho de palma, mais ignorava que estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às suas perguntas. Ele não era reconhecido no local por ter ficado ausente por muito tempo. Ògúm, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, por ele considerado ofensivo. Começou a quebrar com golpes de sabre os potes e, logo depois, sem poder se conter, passou a cortar as cabeças das pessoas mais próximas, até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe as suas comidas prediletas, como cães e caramujos, feijão regado com azeite-de-dendê e potes de vinho de palma. Enquanto saciava sua fome e sua sede, os habitantes de Ire cantavam louvores onde não faltava a menção a Ògúnjajá, que vem da frase Ògún ja aja (_Ògúm come cachorro), o que lhe valeu o nome de Ògúnjá. Satisfeito e acalmado Ògúm lamentou seus atos de violência e declarou que já vivera bastante. Baixou a ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu pela terra adentro com uma barulheira assustadora. Antes de desaparecer, entretanto, ele pronunciou algumas palavras. A essas palavras, ditas durante uma batalha, Ògúm aparece imediatamente em socorro daquele que o invocou. Porém elas não podem ser usadas em outras circunstâncias, pois, se não encontra inimigos diante de si, é sobre o imprudente que Ògúm se lançará.

Como orixá, Ògúm é o deus do ferro, dos ferreiros e de todos aqueles que utilizam esse material: agricultores, caçadores, açougueiros, barbeiros, marceneiros, carpinteiros, escultores. Desde o início do século, os mecânicos, os condutores de automóveis ou de trens, os reparadores de velocípedes e de máquinas de costura vieram juntar-se ao grupo de seus fiéis.

Ògúm é único, mas, em Ire, diz-se que ele é composto de sete partes. Ògún méjeje lóòde Ire, frase que faz alusão as sete aldeias, hoje desaparecidas, que existiam em volta de Ire. O número 7 é, pois, associado à Ògúm e ele é representado, nos lugares que lhe são consagrados, por instrumentos de ferro, em número de sete, catorze ou vinte e um, pendurados numa haste horizontal, também de ferro:

Lança, espada, enxada, torquês, facão, ponta de flecha e enxó, símbolos de suas atividades.

Uma história de Ifá, publicada em outra obra, explica como o número 7 foi relacionado à Ògúm e o número 9 a Oyá-Iansã. Conta a lenda:

“Òyà era companheira de Ògúm antes de se tornar a mulher de Sàngo. Ela ajudava o deus dos ferreiros nos seus trabalhos; carregava docilmente seus instrumentos, da casa à oficina, e aí ele manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ògúm ofereceu a Òyà uma vara de ferro, semelhante a uma de sua propriedade, e que tinha o dom de dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres que por ela fossem tocados no decorrer de uma briga.

Sangô gostava de vir sentar-se à forja a fim de apreciar Ògúm bater o ferro e, freqüentemente, lançava olhares Òyà; esta, por seu lado, também o olhava furtivamente. Sàngo era muito elegante, muito elegante mesmo, afirmava o contador da história. Seus cabelos eram trançados como os de uma

mulher e usava brincos, colares e pulseiras. Sua imponência e seu poder impressionaram Òyà.

Aconteceu, então, o que era de se esperar: um belo dia ela fugiu com ele. Ògúm lançou-se a sua perseguição, encontrou os fugitivos e brandiu sua vara mágica. Òyà fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo tempo. E, assim Ògúm foi dividido em sete partes e Òyà em nove, recebendo ele o nome de

Ògún Mejé e ela o de Iansã, cuja origem vem de Iyámésàn Órun, a mãe (transformada em) nove.

Ògúm é também representado por franjas de folhas de dendezeiros devidamente desfiadas, chamadas màrìwò. Elas serviam de vestimenta aos Igbá Imó, os duzentos deuses da direita, dos quais fala Epega, aqueles que, tendo se conduzido mal, foram destruídos por Olodumaré, com exceção de Ògúm, que se tornou assim o guia, o condutor dos Irun Imó, os quatrocentos deuses da esquerda, os únicos, segundo ainda Epega, de que se pode falar sem perigo.

Esses màrìwò, pendurados acima das portas e janelas de uma casa ou à entrada dos caminhos, representam proteção, barreiras contra as más influências.

Os lugares consagrados a Ògúm ficam ao ar livre, na entrada dos palácios dos reis e nos mercados.

Estão presentes também na entrada nos templos de outros orixás. São geralmente pedras em forma de bigorna colocadas perto de uma grande árvore, àràbà (Ceiba pentandra), ou protegidas por uma cerca de plantas nativas chamadas pèrègùn (Dracaena fragrans) ou de akòro (Newbouldia laevis). Nesses locais, periodicamente, realizam-se sacrifícios de cachorros e galos, acompanhados de oferendas de vinho de palma e pratos de feijão e inhame cozidos e regados com azeite-de-dendê.

O culto de Ògúm é bastante difundido no conjunto dos territórios de língua ioruba e em certos países vizinhos, gêges, como o ex-Daomé e o Togo, onde é chamado de Gun. Ògúm é, provavelmente, o deus ioruba mais respeitado e temido. Tomá-lo como testemunha no decorrer de uma discussão, tocando com ponta da língua a lâmina de uma faca, ou um objeto de ferro, é sinal de sinceridade absoluta. Um juramento feito invocado o nome de Ògúm é o mais solene e digno de fé que se possa imaginar, comparável àquele que faria um cristão sobre a Bíblia ou um mulçumano sobre o Corão.

A vida amorosa de Ògúm foi muito agitada. Ele foi o primeiro marido de Òyà aquela que se tornaria mais tarde mulher de Sàngo. Teve também relações com Oxum antes que ela fosse viver com Osòósi e com Sàngo. E também com Oba, a terceira mulher de Sàngo, e Éléfunlósunlórí, Aquela-que-pinta sua- cabeça-com-pós-branco-e-vermelho, a mulher de Òrìsà Oko. Teve numerosas aventuras galantes durante suas guerras, tornando-se, assim, pai de diversos orixás, como Osòósi e Oranmian.

A importância de Ògúm vem do fato de ser ele um dos mais antigos dos deuses iorubas e, também, em virtude da sua ligação com os metais e aqueles que os utilizam. Sem sua permissão e sua proteção, nenhum dos trabalhos e atividades úteis e proveitosas seria possível. Ele é, então e sempre, o primeiro e abre o caminho para os outros orixás.

Entretanto, certos deuses mais antigos que Ògúm, ou originários de países vizinhos aos iorubas, não aceitam de bom grado essa primazia assumida por Ògúm, o que deu origem a conflitos entre ele e Obaluwaiyè e Nanã Buruku, dos quais falaremos mais adiante.

Os oríkì de Ògúm demonstram seu caráter aterrador e violento:

“Ògúm que, tendo água em casa, lava-se com sangue”.

Os prazeres de Ògúm são os combates e as lutas.

Ògúm come cachorro e bebe vinho de palma.

Ògúm, o violento guerreiro,

O homem louco com músculos de aço,

O terrível ébóra que se morde a si próprio sem piedade.

Ògúm que come vermes sem vomitar.

Ògúm que corta qualquer um em pedaços mais ou menores.

Ògúm que usa um chapéu coberto de sangue.

Ògúm, tu és o medo na floresta o temor dos caçadores.

Ele mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro.

Ele mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada.

Ele mata o proprietário da coisa roubada e aquele que critica esta ação.

Ele mata aquele que vende um saco de palha e aquele que o comprar” .

Mas os guerreiros, mesmo os valorosos, têm algumas vezes momentos de fraqueza. Uma lenda africana nos conta como Ògúm, voltando de uma guerra, em companhia de sua mulher, deixa-se atemorizar pelo coaxar das rãs, e como ele cortou a cabeça de sua mulher, que o havia humilhado contando essa aventura em público. Essa mesma lenda foi publicada por Lydia Cabrera, que a recolheu em Cuba.

 

Cerimônias para Ògúm.

 

Cerimônias dignas de serem mencionadas celebravam-se com regularidade na região de Ahori (no lado nigeriano) ou Holi (no lado daomeano), realizavam-se todas no dia da semana ioruba dedicado a Ògúm, ou seja, de quatro em quatro dias. Os ó nla (grandes domingos) alternavam se com os Ósé kékeré (pequenos domingos); os primeiros tinham mais esplendor que os outros. Esta região Ahori- Holi ficava relativamente preservada da ação civilizadora das administrações coloniais e daquelas que as sucederam. A estrada que atravessa Holi, ligando Kêto ao sul de ex-Daomé, só foi aberta em 1953,

em virtude da natureza pantanosa de algumas partes dessa região, ou seja, apenas sete anos antes da independência desses países.

Citamos, a seguir, alguns dos numerosos templos de Ògúm nessas paragens:

Ogún Igiri em Adja Were,

Ogún Edeyi em Ilodo,

Ogún Ondó em Pobê, em Igbó-Isso e em Irokonyi,

Ogún Igboigbo em Isedé,

Ogún Elénjo em Ibanion e em Modogan,

Ogún Agbo em Isapo,

Ogún Ólópé em Isedé Ije,

Ogún Abésan em Ibanigbe Fuditi.

Trata-se de um só e único Ògúm, cujo segundo nome designa ou o lugar de origem, como Ondô, ou o nome do fundador, ou, ainda, o nome de uma divindade como no último da relação, para qual ele serve de guardião.

O aspecto desses templos era notável. Situados, geralmente, em lugares calmos e isolados, no meio de uma clareira cercada de arvores frondosa. Apresentavam a forma semelhante à de uma cabana redonda, com telhado cônico e pontiagudo, precedidos por uma galeria ornada com pilastras esculpidas. Construídos com materiais locais: engradamento de madeira, telhado de palha ou de folhas de palmeira trançadas, paredes feitas de bambu.

Os templos dedicados a Ogún Ondô eram de estilo diferente. Todos eles tinham em comum o telhado de cumeeira alta, com duas águas descendo quase até o chão. Vistos de frente, pareciam uma muralha elevada, tendo, ao nível do solo, uma entrada cuja verga era tão baixa que só se podia penetrar no interior do templo curvando-se muito, de maneira respeitosa, ou então se rastejando com apoio dos cotovelos e joelhos.

O templo de Igbo-Isso, apresentado neste trabalho, perto de Aba, conservou essas características. O de Podê, que conhecemos em 1936, era um edifício majestoso com telhados de palha, alto e pontudo, mas, infelizmente, católicos zelosos, estimulados pelos sermões “ incendiários” de um reverendo missionário que, do púlpito, esbravejava sempre contra as religiões pagãs, julgaram por bem “ ajudar a Providência” ateando fogo ao templo de Ondó numa noite de verão. Foi uma bela fogueira cuja conseqüência foi à reconstrução do templo, com material à prova de fogo, coberto por um telhado de zinco ondulado, semelhante a um galpão ou um galinheiro. Para dar graça ao conjunto e, ao mesmo tempo, amedrontar os incendiários, desenhou, acima da porta, dois leopardos mostrando todas as suas garras. As cerimônias ó nlà, em Ògún Ondó, realiza-se numa grande praça, de cerca de cem metros de comprimento por trinta de largura, que era antigamente, uma clareira no meio de uma floresta. Com o tempo essa floresta ficou reduzida a uma estreita faixa de árvores, formando uma cortina medíocre entre o recinto sagrado e a cidade. O templo de Ondó esta situado em um dos lados maiores do retângulo. Defronte, encontra-se outro templo menor e circular, dedicado a Arè, e no fundo, onde devia ser antigamente a entrada da clareira, um templo igualmente circular, de Èsù Elegbára. Este conjunto se completa por dois pequenos cercados quadrados, de cinqüenta centímetros de lado, chamados idomosun. Num deles, no começo da cerimônia, colocam-se o osun de cada um dos principais dignitários; o outro é reservado ao osun de Olúpónahá ainda, em diversos locais, troncos de árvores deitados no chão, servindo de assento aos diversos participantes da cerimônia.

Os principais oficiantes do culto de Ògún Ondó são:

Aláàsé, responsável pelo àsé do orixá. Ele não entra em transe e seu papel é semelhante ao dos Mógbà Sangó, do qual trataremos mais adiante. Aláàsé era antigamente o chefe religioso mais importante da comunidade e é, ainda, saudado com um título de Kábiyèsí, reservado aos reis. Ele senta-se durante a cerimônia ao lado do templo de Ògún Ondó.

Saba que é assistente de Aláàsé entra em transe de possessão por Ògun Ondó durante o osé; Ókéré, assistente de Saba; são dois em geral, e ambos são possuídos (montados por gùn) por Ògún Ondó. Sentam-se lado a lado, perto do idomosum.

Isa, que cuida de Arè e toma lugar perto do seu templo, é durante a cerimônia possuída por esta divindade.

Olápòna, que se ocupa de Esù e senta-se perto do seu templo, é por ele possuído por ele muitas vezes, é acompanhado por um Olápòna de outro templo de Ogún, vindo de alguma cidade vizinha.

Há ainda cerca de outros vinte olóyè, portadores de títulos, que não entram em transe e têm cada um deles, seu lugar reservado, de onde assistem a cerimônia e dela participam. Entre eles há os égbénlá, os soldados de Ògúm, armados com grandes facões e longos bastões. Duas mulheres consagradas a Dúdúa, nome dado na região a Òrìsàálá, sentam-se perto dos Ókéré, mas permanecem como meras espectadoras e contentam-se em bater em instrumentos de ferro, em sinal de respeitosa atenção, nos momentos mais solenes. Há ainda as ìyàwó (iaôs) de Ondó, que cantam em seu louvor. Ao lado do templo de Ar_ instala-se o conjunto, composto de três atabaques e um agogô. Os atabaques são: uma aposi, pequeno tambor em terracota; um ogidan, tambor alongado colocado rente ao chão; e o kele, pequeno tambor com pés. Os participantes do ósé de Ògún Ondó chegam de manha cedinho. Aláàsé, Saba, os ókéré, Isa ou os Olúpóna vestem-se com um pano colorido, amarrado no ombro direito. Tem na cabeça um gorro de palha pontudo, enfeitado com grandes penas de galo e penas vermelhas da cauda de papagaios. Os pulsos são ornados com numerosas pulseiras de contas de vidro de diversas cores. Eles trazem numa das mãos seus osun de ferro que vão colocar no idomosun. Na outra mão, tem um facão e dois grandes chocalhos (ààjà), que são batidos um no outro enquanto caminham. Olúpóna traz ainda um ógó, bastão esculpido de forma fálica. Todos vão se sentar em seus respectivos lugares, com ar severo e recolhido. As ìyàwó de Ògún Ondó em seguida trazendo oferendas de alimentos para as divindades: Ògún Ondó, Ará e Èsù. As grandes gamelas são colocadas nas portas dos três templos. Saba, ajudado pelos ókéré, Isa e os Olúpóna levantam-se com a cabeça descoberta, deixando seus gorros, ààjà e facões em seus respectivos lugares e entram em atividade, nos seus templos respectivos, colocados ali uma parte das oferendas preparadas com inhame e feijão, regadas com azeite-de-dendê. Põem uma porção desses alimentos em seus osun para que os antigos titulares do posto, atualmente ocupados por eles, participem também da festa. Em seguida, fazem oferendas de divindade para divindade e para os diversos olóyè. Isso provoca uma série de idas e vindas em que cada divindade recebe, em troca de seus donativos, um contra donativo dos dois outros. Resulta desses intercâmbios uma refeição comunitária em que participam todos os espectadores do ósé. Os oficiantes do culto consultam as divindades utilizando nozes de cola para verificarem se os deuses estão satisfeitos, em seguida alguns dos dignitários vão se reunir em um local que era outrora uma clareira adjacente, para deliberarem e comentarem o resultado das consultas. Ao cabo de certo tempo, voltam e sentam-se nos lugares que lhe são reservados. Um período de calma sucede a toda essa agitação, após o que, os músicos entram em ação. Executam uma série de invocações. Aláposi bate alguns compassos em seu tambor aposi, que está preso entre seus joelhos; Ológidan, cavalgando seu instrumento ogidan colocado no chão, o acompanha. Esses dois tambores formam um conjunto falante, emite sons ondulados, de acordo com a pressão mais ou menos intensa de uma das mãos do executante sobre os couros dos tambores, invocando os deuses. O terceiro tambor, kele, está no chão, diante de Oníkele, que nele bate com duas varetas numa cadência extremamente rápida. Vez por outra ele é substituído por um dos seus assistentes, que mantém o ritmo, com a mesma cadência acelerada, criando com seu tom agudo uma atmosfera de tensão nervosa que, em certos momentos, torna-se quase insuportável. O conjunto toca assim, por períodos interrompidos por curtos e repentinos momentos de silêncio. Essas interrupções contribuem para criar uma sensação de ansiosa expectativa. Na sétima vez, os Olúpóna dão um grito estridente. A expressão de seus rostos transforma-se. Põem gorro pontudo, pegam seus ààjà e seus ógó, com eles tocam três vezes o chão e levantam-se de um salto. Seus gritos são retomados por Saba, pelos dois ékéré, sentados lado a lado, e por Isa. Enquanto os atabaques fazem suas chamadas, todos passam pelas mesmas fases de tensão e de concentração progressivas. Apertam nervosamente suas mãos, com os dedos entrelaçados, seus músculos se contraem, baixam a cabeça, fazem a testa e cerram os dentes. São, então, possuídos respectivamente por Èsù, Ògún Ondó e Ara. Cada um deles dá um grito estridente e levanta-se de um só impulso, saltando muito alto, e vai, apressadamente, reunir-se diante do templo de Ògún Ondó. A expressão dos rostos mudou de novo. Agora estão com um ar descontraído, folgazão e vagamente alegre, balançando a cabeça e resmungando frases inacabadas. Caminham com passos irregulares, desajeitadamente, levantando muito os pés. Quando param, eles se estremecem e oscilam para frente e para trás, bem devagar.

O conjunto toca sem parar, mas em surdina. Os elégùn, possuídos pelos deuses, com Olúpóna à frente, partem em fila e correm ofegantes, com o corpo inclinado para frente e arrastando os pés. Vão em direção à entrada da clareira e a outros lugares, parando um momento agitado seus ààjà, saúdam os quatro cantos do mundo. Em seguida, vão cumprimentar Aláàsé, que está sentado perto do templo de Ògún Ondó. Aproximam-se um a um, passam cuidadosamente seus ààjà e seu facão para a mão direita e com a esquerda apertam a de Aláàse, sacudindo-a com força. Tocam três vezes o chão com seus ààjà, entrechocam-nos com força e regularidade e executam assim uma verdadeira música de ferreiros que lembra o som do martelo batendo sobre uma bigorna. Formulam, com voz de falsete votos de prosperidade e de felicidade. Vai em seguida saudar da mesma forma todos os dignitários, os tocadores de atabaques, os egbonlá e os ìyàwó de Ògún Ondó. O ritmo da música transforma-se e torna-se cada vez mais rápido. Os elégùn começam então a dançar, lado a lado, como numa quadrilha e seguindo, cuidadosamente o compasso marcado pela música, indo do templo de Ondó ao de Ara.

Recuando, voltam ao ponto de partida e continuam dançando durante um bom tempo, um pouco pesadamente e em diversas direções, marcando seus movimentos com o som de sinos entrechocados. A música pára e os elégùn também. Passam a caminhar de um lado para o outro, com passos ora apressados, ora indolentes, mas sempre desajeitados e hesitantes. Eles profetizam, cantarolam e alternadamente sorriem ou ficam carrancudos; levantam as sobrancelhas, arregalam os olhos ou, com ar beato, exprimem votos aos presentes. Por fim, vão se sentar em seu lugar habitual, resignadamente, com a cabeça baixa e o queixo encostado no peito. Por instantes são agitados por tremores, mas pouco a pouco, voltam a si e retomam sua expressão e comportamentos habituais. Para os fon do Daomé, Gun desempenha o mesmo papel que Ogun dos iorubas, mas como Odùdùwa, é desconhecido em Abomey. Gun, aí, é considerado o filho de Lisa e Mawu, versão fon de Orìsàálá e Yemowo. Maximilien Quénum o compara a Légba e assinala sua presença diante das forjas. Christian Merlo indica que _todos os templos têm seu Gun, cuja virtude é fortificar o vodun.

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Esù

 

Esù é um òrìsá ou um ébora de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira coerente. De caráter irascível, ele gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e calamidades públicas e privadas. É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente, a tal ponto que os primeiros missionários, assustados com essas características, compram-no ao diabo, dele fazendo o símbolo de tudo o que é maldade, perversidade, abjeção, ódio, em oposição à bondade, à pureza, à elevação e ao amor de Deus.

 

Entretanto, Esù possui o seu lado bom e, se ele é tratado com consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas se esquecerem de lhe oferecerem sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as catástrofes Esù revela-se, talvez, dessa maneira o mais humano dos òrìsás, nem completamente mau, nem completamente bom.

 

Ele tem as qualidades dos seus defeitos, pois é dinâmico e jovial, constituindo-se, assim, um òrìsá protetor, havendo mesmo pessoas na África que usam orgulhosamente nomes como Èsùbíyìí (concebido por Esù), ou (Esù merece ser adorado).

 

Como personagem histórica, Esù teria sido um dos companheiros de Odùduà, quando da sua chegada a Ifé, e chamava-se Èsù Óbasin. Tornou-se, mais tarde, um dos assistentes de Orunmilá, que preside a adivinhação pelo sistema de Ifá. Segundo Epega, Esù tornou-se rei Kêto sob o nome de Èsù Alákétu.

 

É Esù que supervisiona as atividades do mercado do rei em cada cidade: o de Oyó é chamado Èsù Akésan.

 

Como òrìsá, diz-se que ele veio ao mundo com um porrete, chamado Ógò, que teria a propriedade de transportá-lo, em algumas horas, a centenas de quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes.

 

Esù é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. É também ele que serve de intermediário entre os homens e os deuses. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes e qualquer outro òrìsá, para neutralizar suas tendências a provocar mal-entendidos entre os seres humanos e em suas relações com os deuses e, até mesmo, dos deuses entre si.

 

Esù teve numerosas brigas com os outros òrìsás, nem sempre saindo vencedor. Certas lendas nos contam seus sucessos e seus reveses nas suas relações com Obatalá, ao qual fez passar alguns maus momentos, em vingança por não haver recebido certas oferendas, quando Obatalá foi enviado por Olodumaré, o deus supremo, para criar o mundo. Esù provocou-lhe uma sede tão intensa que Obatalá bebeu vinho de palma em excesso, com conseqüências desastrosas, como veremos. Teremos

 

oportunidade, também, de ver como Esù foi responsável pelos transtornos de que o mesmo Obatalá foi objeto quando certa vez foi visitar Sangô.

 

Por outro lado, em lendas publicadas numa outra obra, narra-se que houve uma disputa entre Esù e o Grande Òrìsá, para saber qual dos dois era o mais antigo e, em conseqüência, o mais respeitável.

 

Obatalá provou sua superioridade durante um combate cheio de peripécias, ao fim do qual ele apoderou-se da cabacinha que encerra o poder de Esù e Obaluaiyè, foi este último que saiu igualmente vencedor.

 

O lado malfazejo de Esù é evidenciado nas seguintes histórias:

 

Uma delas, bastante conhecida e da qual existem numerosas variações, conta como ele semeou discórdia entre dois amigos que estavam trabalhando em campos vizinhos. Ele colocou um boné vermelho e um lado e branco do outro e passou ao longo de um caminho que separava os dois campos. Ao fim de alguns instantes, um dos amigos fez alusão a um homem de boné vermelho; o outro retrucou que o boné era branco e o primeiro voltou a insistir, mantendo a sua afirmação; o segundo permaneceu firme na retificação. Como ambos eram de boa fé, apegavam-se a seus pontos de vista, sustentando-os com ardor e, logo depois, com cólera. Acabaram lutando corpo a corpo e mataram-se um ao outro.

 

Outra lenda mostra Esù mais maquiavélico ainda. ““Ele foi procurar uma rainha abandonada já há algum tempo por seu marido e lhe disse”: “ Traga-me alguns fios da barba do rei e corte-os com esta faca”. Eu lhe farei um amuleto que lhe trará de volta o seu marido”. Em seguida, Esù foi à casa do filho da rainha, que era o príncipe herdeiro. Este vivia numa residência situada fora dos limites do palácio do rei. O costume assim o determinava, a fim de prevenir toda tentativa de assassinato de um soberano por um príncipe impaciente por subir ao trono. “O rei vai partir para guerra”, disse-lhe ele, e pede o seu comparecimento esta noite ao palácio, acompanhada de seus guerreiros. Finalmente, Esù foi ao rei e disse-lhe: A rainha, magoada pela sua frieza, deseja matá-lo para se vingar. Cuidado, esta noite. E a noite veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois, a rainha aproximar um afaça de sua garganta. O que ela queria era cortar um fio da barba do rei, mas ele julgou que ela desejava assassiná-lo. O rei desarmou-a e ambos lutaram, fazendo grande algazarra. O príncipe, que chegava ao palácio com seus guerreiros, escutaram grito nos aposentos do rei e correu para lá. Vendo o rei com a uma faca na mão, o príncipe pensou que ele queria matar sua mãe. Por seu lado, o rei, ao ver o filho penetrar nos seus aposentos, no meio da noite, armado e seguido por seus guerreiros, acreditou que eles desejavam assassiná-lo. Gritou por socorro. A sua guarda acudiu e houve então uma grande luta, seguida de massacre generalizado.

 

Uma história mais simples mostra a atividade de Esù na vida cotidiana: uma mulher se encontra no mercado vendendo os seus produtos. Esù põe fogo na sua casa, ela corre para lá, abandonando seu negócio. A mulher chega tarde, a casa está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou as suas mercadorias.

 

Nada disso teria acontecido – nem os amigos teriam brigado nem o rei e o príncipe teriam se massacrado, nem a vendedora teria se se arruinado tivessem feito a Esù as oferendas e os sacrifícios usuais.

 

O lugar consagrado a Esù entre os iorubás é constituído de um pedaço de pedra porosa, chamada Yangi, ou por um montículo de terra grosseiramente modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca assinalados com búzios, ou então ele é representado por uma estátua, enfeitada com fieiras de búzios, tendo em suas mãos pequenas cabaças (àdó), contendo os pós por ele utilizados em seus trabalhos. Seus cabelos são presos numa longa trança que cai para trás e forma, em cima, uma crista para esconder a lâmina de faca que lê tem no alto do crânio. Isso, por sinal, é dito em uma de suas saudações:

 

Sinso abè kò lóri érù.

 

[“A lâmina (sobre a cabeça) é afiada, ele não tem (pois) cabeça para carregar fardos”.].

 

A Esù é oferecida bodes e galos, pretos de preferência, e prato cozidos em azeite-de-dendê (epo), porém nunca se lhe deve oferecer o óleo branco (adi), que é extraído das amêndoas contidas nos caroços do dendê. “Este àdí tem a reputação de “ser “ cheio de violência e de cólera”. Dizem que uma boa maneira de se vingar de um inimigo consiste em derramar sobre a estátua de Esù esse óleo, fervendo de preferência, declarando em voz alta que essa oferenda é feita pela pessoa desprezada. Esù não deixaria então de lhe pregar uma peça!

 

Os elégùn de Esù participam das cerimônias celebradas para os outros òrìsás. Alguns acompanham Sangô e traz nas costas uma tralha curiosa, onde se encontram, em desordem, duas ou três estatuetas de Esù, fieiras de búzios, pentes, espelhos e as indispensáveis cabacinhas àdó, contendo os elementos de seu poder. Outros, chamados olúpòna, participam das cerimônias que se realizam a cada quatro dias, para Ogum, na região de Holi. No decorrer de suas danças, trazem sempre na mão um ògo, bastão de forma fálica.

 

Esù pode fazer coisas extraordinárias que se exprimem nos seus oríkí, os louvores tradicionais:

 

“ Esù faz o erro virar acerto e o acerto virar erro”.

 

“ É numa peneira que ele transporta o azeite que compra no mercado; e o azeite não escorre dessa estranha vasilha”.

 

“ Ele matou um pássaro ontem, com uma pedra que somente hoje atirou. Se ele se zanga, pisa nessa pedra e ela põe-se a sangrar”.

 

“Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga”.

 

“ Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge nem mesmo a altura do fogareiro.

 

Légba

 

Entre os fon do ex-Daomé, Èsù-Elégbára tem o nome de Légba. Ele é representado por um montículo de terra em forma de homem acocorado, ornado com um falo de tamanho respeitável. Esse detalhe deu motivo a observações escandalizadas, ou divertidas, de numerosos viajantes antigos e fizeram-no passar, erradamente, pelo deus da fornicação. Esse falo ereto nada mais é do que a afirmação de seu caráter truculento, atrevido e sem-vergonha e de seu desejo de chocar o decoro.

 

Os Légba, guardiões dos templos de Hévioso, vodun do trovão, e de sakpata, vodun equivalente a Sànpònná dos iorubás, manifestam-se através de légbasi, equivalentes a Olúpòna, durante as cerimônias celebradas para esse vodun. Os légbasi vestem-se com uma saia de ráfia tinturada de roxo e usam a tiracolo inúmeros colares de búzios. Debaixo da sua saia traz, disfarçado, um volumoso falo de madeira que levantam, de vez em quando, com mímicas eróticas. Além disso, têm na mão uma espécie de espanta-moscas, Roxo, semelhante a um espanador, no qual está escondido um bastão em forma de falo, que eles agitam, de maneira engraçada, na cara das pessoas presentes, particularmente sob o nariz dos turistas, pois os légbasi não deixam de observar seus sentimentos ambivalente diante dessas exibições.

 

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NANÃ

NANàBURUKU (NÀNÁ BURUKU/NÀNÁ BÙKÙÚ/NÀNÁ BRUKUNG)

Nàná Buruku na África

Nàná Buruku ou Nàná Bùkùkú ou Nàná Brukung é uma divindade muito antiga. A área que abrange o seu culto é muito vasta e parece estender-se de leste, além do Níger, pelo menos até a região tapa, a oeste, além do volta, nas regiões dos guang, ao nordeste dos asbantí.

No entanto, se o culto de Nanã Buruku confunde-se no leste com o de Xapanã Obaluaê-Omolu, dele se afasta completamente no oeste, onde seu nome se pronuncia Nàná Brukung ou simplesmente Brukung.

Parece que, segundo as informações publicadas em notas recolhidas em Oyó, Abeohutá, Kêto, Ifanhim, Saketê e Porto Novo, o Lugar de Procedência, nessas regiões, sejam Savê. No entanto, este é na realidade o local de disseminação desse culto e não seu lugar de origem.

Em Savê e nas regiões mais a oeste não houve essa confusão. Encontramos aí o culto de Nàná Bùkùú, mas também o de várias outras Nanãs, ali chamadas Nèné, uma das quais seria de origem bariba. Isso lembra que a antiga dinastia originária de um filho de Odùduà, fundador de Savê, mais tarde abandonou o trono (para voltar para Ipetumodu, Perto de Ifé) e deu lugar a uma nova dinastia vinda de território bariba.

Por outro lado, é preciso ressaltar que Nàná é um termo de deferência empregado na região de Ashanti para as pessoas idosas e respeitáveis e que esse mesmo termo significa “mãe” para os fon, os ewe e os guang da atual Gana.

Todas as pesquisas feitas a respeito de Nanã Buruku em Dassa Zumê, Abomey, Dumé, Tchetti, Bobé,

Lugbá, Banté, Djagbala, Kpesi e Atakpamê indicam Siadé ou Schiari, na região do Adelê do atual Gana e perto da fronteira do Togo, como destino de peregrinação e não como lugar de origem.

É difícil saber, no estado atual das pesquisas, quais são os laços existentes entre todas as divindades cujo nome é precedido de Nàná ou Nèné. Elas são chamadas de Inie e parecem todas desempenhar um papel de deus supremo. Em todos esses templos há um assento sagrado salpicado de vermelho, em forma de trono ashanti, reservado à sacerdotisa de Inie, no qual só ela pode tocar. Todos os iniciados ligados ao templo têm grandes bengalas salpicadas de pó vermelho e, em torno do pescoço, usam cordinhas trançadas sustentando uma conta achatada de cor verde.

O ponto extremo a oeste, até onde nos foi possível fazer pesquisas, foi Atakpamê, no Togo, onde há um templo importante de Nanã Buruku. Ali vivem os aná, originários de Ifé que teriam deixado, talvez, antes da chegada de Odùduà. Os estudos realizados não chegaram a uma conclusão: se eles teriam habitado a região de Adetê, antes de se fixarem em Atakpamê, esboçando um movimento de retorno para o leste, ou então se os aná, segundo outra hipótese, teriam lutado entre si, por ocasião de

sua chegada em Atakpamê. Um velho caçador os teria abandonado, indo refugiar-se em Odum (Odómi), perto de Schiari, sede da divindade Bùkùú ou Brukung. “ Ela está lá” diz-se em Atakpamê, “ dela, aqui, só há representações” .

De Atakpamê, como de Kpesi, Tchetti, Dassa Zumê, Savê, Abomey e, provavelmente, Abeokutá, as pessoas cosagradas a Nanã Buruku vão fazer peregrinação em Schiari, no Adélé.

Em Atakpamê forneceram-nos pormenores a respeito dessas peregrinações: “Realizam-se de três em três anos e é preciso fazer três peregrinações sucessivas. Depois disso, suas famílias, devendo absterse de ter relações sexuais. Durante esse período, devem suportar certas provocações para demonstrar que são dignos de participar da viagem para o Adelê. A peregrinação é dirigida pelo Olíbùkùú, sacerdote da Bùkùú. As famílias acompanham os que partem até a aldeia de Olibissô, vizinha de Atakpamê, onde se despedem. É também ali que as famílias vêm esperar a volta dos peregrinos, três meses mais tarde. Eles partem munidos de grandes bastões, de cerca de dois metros de comprimento, e se um dos peregrinos morrer no caminho, o Olíbùkùú, ao voltar, devolve o bastão à família do finado sem nada dizer. Seu desaparecimento é considerado um castigo aplicado pela divindade, e não se pode realizar cerimônia alguma pelo repouso de sua alma. Ao voltar, cada peregrino deverá ser acompanhado por uma criança. Que desempenhará, em seu lugar, as atividades que lhe são proibidas

até o fim de sua iniciação, por um período de seis anos e três meses, isto é, isto é, entre a partida da primeira peregrinação e a volta da terceira. Só algumas famílias têm o direito de participar do culto:

od Koko Gberi, os Koko Sale, os Lema, os Lama, Os Modji que vivem em Atakpamê, Tchetti, Kpesi e Savalu” .

Sobre Schiari ou Schiadé, a menos que seja Siarê ou Siadê, temos informações datadas de 1896, quando o Tenente Conde Zeck, chefe do posto de Krete-Kratchi e futuro governador do Togo alemão, dirigiu um “ comando” contra os habitntes de Schiari e deu a conhecer em seu relatório que “ Siadê (ou Siarê) era antes a capital do país Atyuti (Adjuti) e a sede do ídolo Buruku, conhecido em regiões mais longínquas por causa de seu podr. Por essa razão, a região se chama também, em Tschi, Buruku obose,isto é, a região de Buruku. Para se ter uma idéia do poder que teria esse ídolo, é significativo

que os reis do Dagomba, do Ashanti, de Gonya, de Tschautcho procurassem, sobretudo em períodos de guerras, obter a proteção do ídolo por meio de presentes e de embaixadas. O feiticeiro era o rei da região e opunha ao governo alemão uma resistência pacífica… Tive que marchar contra o chefe de Siadê. Ele se sentia em segurança na sua residência pelo fato de ser ela cercada, por todos os lados, de altas Montanhas difíceis de serem transpostas. Um só caminho era praticável para uma tropa

importante: passava por Odomi, de onde o chefe podia ser prevenido a tempo a tempo, se uma ação fosse empreendida contra ele. Em 4 de outubro de 1896, conseguiu-se prende-lo através de uma incursão. Escolhi, partindo de Bismarckburg, outro itinerário que só era utilizado por comerciantes de borracha extraída nas florestas da região, passando por Digpelleu, Tshoye, Aibahomi e uma montanha extraordinariamente escarpada. Assim chegamos a Siadê, sem que o chefe tivesse sido prevenido de

nossa vinda. Ele estava vestido com uma pele de leopardo, sentado em uma cadeira defronte da casa.Foi preso e amarrado. Em sua casa encontravam-se duas imagens de ídolos feitas em uma barra de ferro afiadas, arrematadas por um cabo em forma de pêra, em material desconhecido. Essas espécies de bengala eram fincadas no chão no momento dos sacrifícios, das festas, etc. Vários outros objetos e uma bengala de madeira comum em cuja extremidade superior foram conservado pequenos

pedaços de galhos, tendo também um acabamento em forma de pêra, como nas imagens dos ídolos, porém cobertos de sangue e de penas de galos que são, com toda a certeza, vestígios de sacrifícios.

De um trabalho sobre o Adjati, datado de 1934, redigido por J.C. Guinness extraímos algumas informações sobre as origens de Brukung que, embora discutível, apresentam o interesse de terem sido recolhidas na região do Adélé, de um informante do Kotokoli, região vizinha. No trabalho citado, há a curiosa indicação de que na fronteira dos paises Haussa e Zaberima (Djerma) há um rio chamado Kwara (Níger) que deu seu nome a uma cidade situada às suas margens. Em uma gruta, no fundo do rio, vivia outrora um grande ídolo chamado Brukung e com ele viviam sua mulher, seu filho e um

homem chamado Langa, que era o criado de Brukung. Viviam todos juntos na gruta. Na cidade de Kwara vivia um homem chamado Kondo, um homem bom que era conhecido, mesmo nos locais mais distantes, pelo nome de Kondo Kwara. Tinha o costume de todos os dias colocar oferendas de galos e de pito (beberagem) e algumas vezes um carneiro nas margens do rio Longo vinha pegá-los e os levava para a gruta debaixo dágua. Um dia, porém, um grupo de pescadores haussa veio da Nigéria para pescar no rio Kwara. Roubaram as oferendas e Kondo ficou tão contrariado que foi para

Gbafolo, na região Kotokoli, e instalou-se com sua família em Dikpileu, a seis ou sete milhas dali. Brukung, por sua vez, foi viver em uma gruta na floresta próxima de Dikpileu. Kondo soube disso e recomeçou a colocar suas oferendas. Longa reapareceu também, trazendo assentos que fizera na gruta de Kwara. Mais tarde Kondo reencontrou Brukung. Porém, pouco tempo depois, uma invasão ashanti obrigou Brukung e os seus a refugiarem-se em Shiari.

É interessante constatar que uma lenda recolhida no extremo oeste da área de difusão do culto de Nanã Buruku faça alusão à outra situada no extremo leste dessa mesma área, falando de Kwara, que é o nome utilizado para designar o Estado, na Nigéria, onde vivem os tapa.

Deve-se ver nessa lenda uma transposição de antigos fatos históricos e alusões às migrações leste – oeste, de que falamos no capítulo precedente. Nele evocávamos a migração Ga que foi Benim para Accra, no reinado de Udagbede no fim do século XIII, com posterior retorno para o leste provocado pelas guerras do ashanti, Daryll Forde escreve a esse respeito que a região entre o Weme e o Mono foi ocupada por um refluxo de iorubás estabelecidos perto de Mono, especialmente nas proximidades de Kpesi. A fundação de Kpesi parece ter sido muito antiga, enquanto a das aldeias ao norte de Savalu, fundadas pelos emigrantes que voltavam para o oeste, data do fim do século XVIII, depois que desapareceu a pressão exercida pelos ashanti.

Em toda a região dos Itcha de Dassa Zumê e seguindo para o oeste, voltando à fonte que seria Schiari, encontra-se, nos templos de Nàná Brukung, o mesmo objeto enigmático descrito pelo Tenente Conde Zeck, esse cabo em forma de Pêra, feito com material não identificado, cujo simbolismo nos escapa.

Lembremos que nas regiões do oeste esse culto é completamente diferente do de Sapata-Xapanã- Obaluaê-Omolu, enquanto no leste em nenhum templo encontra-se esse estranho cabo em forma de pêra e que o culto de Nàná Brukung, muitas vezes, é confundido com o de Xapanã-Obaluaê-Omolu.

Somos, pois, levados a pensar que poderia haver duas divindades cujos nomes se assemelhassem e cujos cultos, porém diferissem sensivelmente. Uma dentre elas teria permanecido independente no oeste, enquanto a outra teria sido incorporada a um culto local.

 Cerimônias para Nanã Buruku

 A população de Tchetti faz parte dos grupos emigrantes de Ifé, em uma época que antecedeu a chagada de Odùduà e que hoje não mais fazem parte de um reino propriamente dito. “ Eles se comportam, escreve J. Igué, “ como populações asiladas e apresentam uma estrutura social pouco desenvolvida, limitada unicamente ao poder aldeão. Mas, na ausência de Estado, o impacto das religiões tradicionais é muito forte na sociedade e são precisamente os chefes religiosos que garantem a coesão social” .

Tivemos oportunidade de assistir, em Tchetti, às danças em honra de Nanã Brukung.

Na noite anterior, realizou-se a vigília. O quadro era impressionante. Algumas pedras grandes,

amontoadas no flanco da colina, avançavam sobre a aldeia. Distinguiam-se, ainda confusamente, os tons avermelhados dos telhados de palha e da vegetação amarelada pela seca. Anoitecendo, não se distinguia mais que a primeira fila dos espectadores, levemente iluminados pela luz de lampião e pelas chamas ondulantes de uma fogueira. As pessoas reunidas bebiam muito _èk_té, cerveja de milho, e _apalo, cerveja de milho miúdo. Houve danças de caráter profano em que os dançarinos executavam alguns passos rápidos e batiam os pés, com o corpo inclinado pra frente e os cotovelos

jogados bem para trás, em movimentos vivos e enérgicos. Os cantos tinham um curioso aspecto de uivos em que as inflexões das vozes subiam e desciam uma oitava em tempos alternados. Um agogô destacava o ritmo, baseado em uma alternância de duas pancadas fortes, seguidas de duas outras mais fracas.

As danças para Nanã Brukung realizaram-se no dia seguinte, ao redor de uma árvore (odan), um fícus que permaneceu verde, produzindo uma sombra fresca no meio da aridez geral da paisagem. Os dançarinos, de idade avançada, faziam evoluções ao som de tambores apinti e de sinos de percussão.

Tinham a cabeça raspada e, em volta dela, um círculo foi desenhado com asùn. Manchas brancas foram feitas com efun (giz) sobre a testa e as têmporas. Estavam vestidos com uns panos, presos acima do peito ou enrolados à cintura, deixando os ombros descobertos. Seus braços e pescoço estavam ornados com pulseiras e colares. Todos eles traziam na mão um cajado salpicado de vermelho, no alto do qual fora conservado um pedaço de galho, como os descritos pelo Tenente Conde Zeck em seu relatório sobre Schiari. A dança consistia num lento desfile dos iniciados de Nanã

Brukung e parecia rememorar a peregrinação por eles realizada no passado. Iam apoiados em seus batões, andando um pouco de lado, com passos lentos e circunspectos. Os pés tocavam o chão com precaução, suas atitudes imitavam a fadiga de uma longa viagem através das planícies queimadas pelo sol e os canteiros escarpados das montanhas, à volta de Schiari.

Os cantos, cujas letras são em iorubá arcaico (aná), parecem ser alusões a essa provação:

“Arua nona kò jina, a sin wa nona kò jina” .

(“ Enganaram-me dizendo que não longe, acompanhem-me, não é longe.” )

Elas param, vez por outra, inclinando-se para frente para saudar e depois arqueiam o corpo para trás.

Neste momento, os que assistem à dança vêm sustenta-los para evitar que caiam. Em seguida, dançam com precaução, a pequenos passos, inclinando-se para a esquerda e para a direita:

“Okè wa kò rigùn, Okè wa yo

Botolé mòfo, o ka jàdun.

Onilé wa nílé, Alàjo wa berena

Binie fun mi mo gba, bini_ tan mi o nko bere.”

 [“ Para o alto não podemos subir, do alto escorregamos

De volta para casa, não falar (do que se viu). Vamos celebrar a festa do ano.

O proprietário da casa está na casa, o estranho pede caminho

Se Inie me dá, eu tomo. Se Inie recusa, eu não peço.” ]

Algumas vezes os tambores param e iniciados interrompem também a dança. Fazem uma roda, virada para o centro, e entre as mãos fechadas, uma sobre a outra, estreitam seu cajado, num gesto semelhante ao dos inciados de Nanã Brukung no Brasil.

Constatamos que os oríkì para Nanã Brukung, colhidos em kêto e Abeokutá, cidades situadas na região leste, descrevem bem as suas diversas características definidas para esse culto na região oeste.

“ Proprietária de um cajado.

Salpicada de vermelho, sua roupa parece coberta de sangue.

Orixá que obriga os fon a falar nagô.

Minha mãe era inicialmente da região bariba.

Água parada que mata de repente.

Ela mata uma cabra sem utilizar a faca.”

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IROKO

Um Itan sobre Iroko.

 

No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroko. Iroko foi à primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Iroko, morava seu espírito. E o espírito de Iroko era capaz de muitas mágicas e magias. Iroko assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saia com o alugbongbo na mão, assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal. Todos temiam Iroko e seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia até a morte. Numa certa época, nenhuma das mulheres da aldeia engravidava. Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados. Foi então que as mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos poderes de Iroko. Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco. Não ousavam olhar para a grande planta face a face, pois, os que olhavam Iroko de frente enlouqueciam e morriam. Suplicaram a Iroko, pediram a ele que lhes desse filhos. Ele quis logo saber o que teria em troca. As mulheres eram, em sua maioria, esposas de lavradores e prometeram a Iroko milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Cada uma prometia o que o marido tinha para dar. Uma das suplicantes, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinham nada daquilo para oferecer. Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a Iroko o primeiro filho que tivesse. Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. As jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Iroko suas prendas. Em torno do tronco de Iroko depositaram suas oferendas. Assim Iroko recebeu milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Olurombi contou toda a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, a filhinha tão querida. E o tempo passou. Olurombi mantinha a criança longe da árvore. Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do Iroko, entretida que estava vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore. Disse Iroko: “Tu me prometeste a menina e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que viva sempre aprisionada em minha copa.” E transformou Olurombi num pássaro e ele voou para a copa de Iroko para ali viver para sempre. Olurombi nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda parte. Ele mantinha a menina em casa, longe de todos. Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Iroko. Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal pássaro, que cantava assim: “Onikaluku jeje euwre, euwre, euwre Onikaluku jeje agutan, agutan, bolojo Olurombi jeje Omo re, omo re a pon bi epo Olurombi o, jan-jan Iroko, Iroko, jan-ján (Todo mundo promete cabra Todo mundo promete ovelha bonita Prometeu a filha bonita, uma abiku muito linda Olorumbi não cumpriu o prometido a Iroko Com isso perdeu tudo) Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu tudo imediatamente. Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Iroko. Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto sua pequena filha? Ele pensou e pensou e teve uma grande idéia. Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroko, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido. O fez com os doces traços da filha, sempre alegre, sempre sorridente. Depois poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas da menina e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos. Quando pronto, ele levou a menina de pau a Iroko e a depositou aos pés da árvore sagrada. Iroko gostou muito do presente. Era a menina que ele tanto esperava! E a menina sorria sempre, sua expressão, de alegria. Iroko apreciou sobremaneira o fato de que ela jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam. Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. Iroko estava feliz. Embalando a criança, seu pequeno menina de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente. Tendo sido paga, enfim, a antiga promessa, Iroko devolveu a Olurombi a forma de mulher. Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e para a filha, já crescida e enfim libertada da promessa. Alguns dias depois, os três levaram para Iroko muitas oferendas. Levaram ebo de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. “Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi…” Até hoje todos levam oferendas a Iroko. Porque Iroko dá o que as pessoas pedem. E todos dão para Iroko o prometido…”Esta bela ìtàn nos mostra como devemos tratar Iroko , sempre que lhe pedimos algo é de suma importância pagarmos o prometido pra não cairmos em seu desagrado , outra coisa é muito comum nas cidades nigerianas vermos em baixo do pé de Iroko geladeiras, bicicletas, jóias, etc… Geralmente as famílias pagam a Iroko o que tem de mais valioso em sua casa.

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ÓBÁTÀLÁ

 

ORISALÁ (OBATALÁ/OSALÁ/ÒRÌSÀLÁ/OBÀTÁLÁ)

 Òrìsànlá ou Obàtálá na África

 “Òrìsànlá ou Obàtálá, “O Grande Òrìsa” ou” Rei do Pano Branco” , ocupa uma posição única e inconteste do mais importante òrìsa e o mais elevado dos deuses iorubás. Foi o primeiro a ser criado por Olodumaré, o deus supremo. Òrìsànlá-Obàtálá é também chamado Òrìsà ou Obà-Ìgbò, o Òrìsa ou o Rei dos Igbos. Tinham um caráter bastante obstinado e independente o que lhe causava inúmeros problemas.

Òrìsànlá foi encarregado por Olodumaré de criar o mundo com o poder de sugerir (àbà) e o de realizar (àsé), razão pela qual é saudado com o título de Aláàbáláàsé. Para cumprir sua missão, antes da partida, Olodumaré entregou-lhe o “ saco da criação” . O poder que lhe fora confiado não o dispensava, entretanto, de submeter-se a certas regras e de respeitar diversas obrigações como os outros òrìsas.

Uma história de Ifa nos conta como, em razão de seu caráter altivo, ele se recusou a fazer alguns sacrifícios e oferendas a Exu, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo.

Òrìsànlá pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu opá o sorò ou pasoro, o cajado para fazer cerimônias. No momento de ultrapassar a porta do Além, encontrou Exu, que entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu, descontente com a recusa do Grande Òrìsa em fazer as oferendas prescritas, vingou-me fazendo-o sentir uma sede intensa. Òrìsànlá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de furar, com o seu pasoro, a casca do tronco de um dendezeiro. Um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não sabia, mas onde estava e caiu adormecido. Veio então Olofin-Odùduà, criado por Olodumaré depois de Òrìsànlá é o maior rival deste. Vendo o Grande Òrìsa adormecido, roubou-lhe “o saco da criação”, dirigiu-se à presença de Olodumaré para mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Òrìsànlá. Olodumaré exclamou: “Se

ele esta neste estado, vá você, Odùduà! Vá criar o mundo!” Odùduà saiu assim do Além e se encontrou diante de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair à substância marrom contida no “ saco da criação” . Era terra. Formou-se então um montículo que ultrapassou a superfície das águas.

Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garros. Esta começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas. Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais, o que o ioruba se diz ilè nfé, expressão que deu origem ao nome da cidade de ilê Ifé. Odùduà aí se estabeleceu, seguido pelos outros òrìsas, e tornou-se assim o rei da terra.

Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o “saco da criação”. Despeitado, voltou a Olodumaré. Este, com castigo pela sua embriaguez, proibiram ao Grande Òrìsa, assim como aos outros de sua família, os òrìsas funfun, ou “òrìsas brancos”, beber vinho de palma e mesmo de usar azeite-de-dendê. Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida.

Por essa razão, Osalá é também chamado de Alámérere, o “proprietário da boa argila”. Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saíam de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. alguns, retirados do forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram albinos. Todas as pessoas que entravam nessas tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se adoradoras de Orixalá.

Mais tarde, quando Òrìsànlá e Odùduà reencontraram-se, eles discutiram e se bateram com furor. A lembrança dessas discórdias é conservada nas histórias de Ifá, das quais algumas podem ser encontradas em outra obra. As relações tempestuosas entre divindades podem ser consideradas como transposição ao domínio religioso de fatos históricos antigos. A rivalidade entre os deuses dessas lendas seria a fabulação de fatos mais ou menos reais, concernentes à fundação da cidade de Ifé, tinha como o “ berço da civilização ioruba e do resto do mundo” .Obàtálá teria sido o rei dos igbos, uma população instalada perto do lugar que se tornou mais tarde a cidade de Ifé. “A referência a esse fato não se perdeu nas tradições orais no Brasil, onde Orisalá e freqüentemente mencionado nos cantos como Òrìsa Igbo ou Babá Igbo, “ou òrìsa” ou “ o rei dos

igbos” . Durante seu reinado, ele foi vencido por Odùduà, que encabeçada um exército, fazendo-se acompanhar da dezesseis personagens, cujos nomes variam segundo os autores. Estes são conhecidos pelo nome de awón agbàgbà, “ os antigos” . Esses acontecimentos históricos corresponderiam à parte do mito onde Orixalá foi enviado para criar o mundo (enquanto, na realidade, ele tornou-se o rei dos igbos) e foi no mito que Odùduà tornou-se o rei do mundo, por ter roubado a Orisalá o “ saco da criação” (enquanto, na realidade, ele destronou Òrìsànlá-Obà-Ìgbò, usurpando-lhe o reino).

Odùduà teria vindo do leste, no momento das correntes migratórias causadas por uma invasão berbere no Egito. Esse fato provocou deslocamentos de populações inteiras, expulsando-se progressivamente, umas às outras, em direção ao oeste, para terminar em Borgu, também chamada região dos baribas.

Segundo uns, Odùduà teria vindo de uma longínqua região do Egito ou mesmo de Meca e, segundo outros, de um lugar perto de Ifé, chamado Oké-ara, onde os invasores teriam habitado durante várias gerações.

Não foi sem resistência que Òrìsànlá-Ìgbò perdeu seu trono. Ele reagiu com energia e chegou mesmo a expulsar Oduduwà de seu palácio, onde já se encontrava instalado. Foi ajudado por seus partidários, Orolúéré e Obawinni, mas foi uma vitória de curta duração, pois, por sua vez, foi expulso por Obameri, partidário de Odùduà, e, assim, Òrìsànlá teve que se refugiar em Ideta-Oko. Obameri

instalou-se na estrada que ligava esse lugar e Ifé para impedir, durante muito tempo, a volta de Òrìsànlá a esse lugar. Tendo este perdido o seu poder político, conservou funções religiosas e voltou mais tarde para instalar-se em seu templo em Ideta-Ile. A coroa de Òrìsànlá-Obà-Ìgbò, tomada por Odùduà, teria sido conservada até hoje no palácio do Oòni, rei de Ifé e descendente de Odùduà. Essa coroa, chamada até, é elemento essencial na cerimônia de entronização de um novo Oòni. Os sacerdotes de Òrìsànlá desempenham um papel importante nessas ocasiões. Eles participam de certos

ritos, durante os quais eles próprios colocam a coroa na cabeça do novo soberano de Ifé. Este também, antes da sua coroação, deveria dirigir-se ao templo de Òrìsànlá. Durante as festas anuais, celebradas em Ifé para Òrìsànlá, os sacerdotes desse deus fazem alusão à perda da coroa de Obà-Ìgbò, lembrando seu antigo poder sobre o país antes da chegada de Odùduà e da fundação de Ifé. Além disso. Oòni deve enviar todos os anos um seu representante a Ideta-Oko, onde residiu Òrìsànlá. O representante deve levar oferendas e receber instruções ou a benção de Òrìsànlá.

Os deuses da família de Òrìsànlá-Obàtálá, o “Òrìsa” ou o “Rei do Pano Branco”, deveriam ser sem dúvida, os únicos a serem chamados òrìsas, sendo os outros deuses chamados por seus próprios nomes ou, então, sob a denominação mãos geral de ebora para os deuses masculinos. O termo “Imole”, empregado por Epega, abrangeria o conjunto dos deuses iorubás.

Essa família de òrìsas funfun, os òrìsas brancos, é daqueles que utilizam o _fun (giz branco) para enfeitar o corpo. São-lhe feitas oferendas de alimentos brancos, como pasta de inhame, milho, caracóis e limo da costa. O vinho e o azeite, provenientes do dendê, e o sal são as principais interdições. As pessoas que lhe são consagradas devem sempre se vestir de branco, usar colares da mesma cor e pulseiras de estanho, chumbo ou marfim.

Os òrìsas funfun seriam em número de cento e cinqüenta e quatro, dos quais citamos alguns nomes:

Òrìsá Olufon ajígúnà koari, “aquele que grita quando acorda”;

Òrìsá Ògiyán Ewúléèjìgbò, “Senhor de Ejigbô”;

Òrìsá Obaníjìta;

Òrìsá Àkirè ou Ìkirè, um valente guerreiro muito rico que transforma em surdo-mudo aquele que o negligencia;

Òrìsá   Eteko Oba Dugbe, outro guerreiro muito ligado a Òrìsànlá;

Òrìsá Alásé ou Olúorogbo, que salvou o mundo fazendo chover num período de seca

Òrìsá Olójo;

Òrìsá Àrówú;

Òrìsá Oníkì;

Òrìsá Onírinjà;

Òrìsá Ajagémó, para o qual, durante sua festa anual em Édé, dança-se e representa-se com mímicas um combate entre ele e Olunwi, no qual este último sai vencedor e aprisiona seu adversário. Mas tarde Òrìsá Ajagémó é libertado e volta triunfante para seu templo Ulli Beier sugere que nesta

representação poderia haver uma espécie de reconstituição da conquista do reino Igbo por Odùduà, da derrota de Orixalá no plano temporal e de sua vitória final no plano espiritual.

Òrìsá Jayé em Jayé;

Òrìsá Ròwu em Owu;

Òrìsá Olobà em Obá;

Òrìsá Olúófin em Iwófin;

Òrìsá em Oko;

Òrìsá Eguin em Owú, etc.

William Bascom observa que o ritual da adoração de todos esses òrìsas funfun é tão semelhante que, em alguns casos, é difícil saber se trata de divindades distintas ou simplesmente de nomes e manifestações diferentes de Òrìsànlá.

Òrìsànlá-Óbàtálá é casado com Yemowo. Suas imagens são colocadas um ao lado da outra e coberta por traços e pontos desenhados com _fun, no ilésìn, local de adoração desse casal no templo de Ideta- Ilê, no bairro de Itapa, em Ilê-Ifé.

Dizem que Yemowo foi à única mulher de Òrìsànlá-Óbàtálá. Um caso excepcional de monogamia entre os òrìsas e eboras, muito propensos, como vimos nos capítulos precedentes, a ter aventuras amorosas múltiplas e a renovar facilmente seus votos matrimoniais.

Cerimônias para Òrìsànlá-Obàtálá

 

As cerimônias públicas para Òrìsànlá em Ilê-Ifé comemoram acontecimentos históricos. Antigamente, as festas duravam nove dias e foram posteriormente reduzidas para cinco. Como estão em concordância com a semana ioruba de quatro dias, começam e terminam no dia consagrado a Obàtálá.

Nos dois casos observados, começaram no dia imediato ao primeiro quarto da lua, respectivamente, em 13 de janeiro de 1977 e em 1º de fevereiro de 1978.

Foram realizados sacrifícios de cabras no templo de Óbàtálá, no ilésìn de Ideta-Ilê, onde se encontram as imagens de Óbàtálá-Òrìsànlá e de sua mulher Yemowo. Uma parte do sangue é derramada sobre as imagens que, em seguida, são lavadas com infusão de folhas colhidas na floresta de Yemowo. Essas folhas são de diferentes variedades, entre as quais figuram as plantas calmantes: Ódúndún (Kalanchoe crenata), àbámódá (Bryophyllum pinnatum), òwú (Gossypium sp.), efinrin (Ocimun viride), rinrin

(Peperomnia pellucida), tétérégun (Costus afer), etc. Em seguida, as duas imagens são enfeitadas com uma série de traços e pontos brancos feitos com _fun. O sacerdote mais importante, o Óbàlásé, guarda de Obàtálá, e Óbàlásé, guarda do Òrìsà Alásé, dança por muito tempo nesse primeiro dia ao som dos tambores ìgbìn, próprio do culto de Òrìsànlá. São tambores pequenos e baixos, apoiados

sobre pés, um macho e outro fêmea. O ritmo é marcado pelos eru, ferros achatados em forma de “T” “T”, batidos uns no outro.

No dia seguinte, Óbàlálé e Obàlásé fazem abluções com as mesmas infusões que serviram na véspera para Òrìsànlá e Yemowo; seus corpos são igualmente enfeitados com desenhos feitos com _fun. As imagens são bem enroladas em pano branco e levadas, de manhã cedinho, em procissão desde Ideta- Ilê até Ideta-Oko. Todos os ingredientes da oferenda — ibó òrìsà — a ser feita são levados até lá. Essa oferenda consta de dezesseis caracóis, dezesseis ratos, dezesseis peixes, dezesseis nozes de cola e

limo da costa. O dia será passado em Ideta-Oko, lembrando o exílio de Òrìsànlá-Obà-Ìgbò quando teve de deixar o palácio de Ifé.

No momento da chegada à floresta, faz-se uma pequena parada diante de uma árvore isìn, “a que é adorada”, e o cortejo penetra mais adentro numa vasta clareira, cercada de grandes árvores e margeada de montículos de terra que parecem ser ruínas de construções antigas. No centro, encontra se uma espécie de grande pote emborcado com um pequeno furo a meia altura, através do qual pode se ver o crânio de animais sacrificados nos anos anteriores. As imagens são desenroladas e colocadas no chão, de costas para o pote; Òrìsànlá à direita e Yemowo à esquerda, como no ilésìn em Ideta-Ilê.

Todos os participantes sentam-se em silêncio na floresta calma e sombria. Pouco a pouco a multidão se amontoa. Os tambores ìgbìn tocam de vez em quando, acompanhando os cantos e os oríkì de Obàtálá e Yemowo. Sacrifica-se uma cabra. Faz-se uma adivinhação, com as quatro partes de uma noz de cola, para saber se os deuses estão satisfeitos. A cabeça do animal é separada do corpo e jogada embaixo do grande pote. Recomeçam os cantos acompanhados pelos tambores. Os sacerdotes

dançam. Obàlálá, com ar distante e crispado, está em transe, possuído por Òrìsànlá.

No entardecer, dois mensageiros do Oòni de Ifé chegam e param à entrada da floresta, perto da árvore isìn. Traz da parte de seu senhor, descendente de Odòduwà, uma cobra como oferenda; antigamente era um ser humano que deveria ser sacrificado. O animal é levado para uma pequena clareira, contígua ao local da reunião. Já quase à noite e a cabeça do animal é presa no chão por uma forquilha. Óbàlásé, com o rosto tenso e entorpecido pelo transe, dança ao redor da pequena clareira e faz várias idas e vindas ao local onde estão as imagens dos òrìsas. Em seguida, ele pega um dos ferros eru, em forma de “T” “T”, e com ele bate com força na cabeça da cabra, matando-a. Molha suas mãos no sangue que escorre do corte e vai passá-las na cabeça das imagens de Òrìsànlá e Yemowo.

Um ajudante de Óbàlálásé arrasta, com a forquilha, a cabra abatida, evitando tocá-la, e a lança no mato.

A multidão grita: “Gbákú ló, gbárùn ló!!!”

“Leva a morte para longe, leva as doenças para longe”

Em contraste com a primeira cabra sacrificada, cuja carne foi cozida e distribuída para ser ritualmente

comida pelos presentes, em comunhão com os deuses, a carne da segunda cabra, que substituiu a vítima humana, não pode ser tocada nem comida, pois seria atrair sobre si a morte e as doenças… e praticar antropofagia.

Terminada a cerimônia desse dia, as imagens dos deuses são novamente enroladas nos panos brancos, levadas a Ideta-Ilê e reinstaladas no ilésìn até o ano seguinte.

No último dia, consagrado a Yemowo, os sacerdotes e seus auxiliares vão à floresta sagrada dessa divindade, a Ita-Yemowo. Levam para ali um acento de madeira esculpida, àgá Yemowo, devidamente lavado e purificado com a infusão de folhas e enfeitado com traços brancos. Um dos sacerdotes, dedicado a Yemowo, entra em transe, possuído por essa divindade. A expressão de seu rosto, com seu ar distante, lembram o transe de Óbàlásé na floresta de Ideta-Oko, porém mais calmo e tranqüilo. Transformando-se momentaneamente em Yemowo, o sacerdote é revestido com um grande pano branco e amarra em sua cabeça um turbante também branco. Seguida por uma grande multidão, na qual predominam as mulheres, algumas das quais tiveram filhos por sua intercessão, Yemowo, encarnava, vai sentar-se em sua cadeira, em frente ao palácio de Oòni. Porém o descendente de Odùduà não se apresenta e Yemowo retira-se para o templo de Ideta-Ilê. Esta visita de Yemowo é repetida duas vezes mais sem que o Oòni apareça; entretanto, a cada vez, ele envia nozes de cola a Ideta-Ilê por um mensageiro.

Não obtivemos explicação sobre o sentido preciso dessa parte do ritual. Parece tratar-se de uma referência aos esforços sucessivos que antigamente fez Yemowo para restabelecer a paz entre Òrìsànlá e Odùduà e a acolhida reticente reservada por este último aos esforços de pacificação.

 Osalufã (Òrìsà Olúfon)

 Òrìsà Olúfón, Òrìsà fun, velho e sábio, cujo templo é em Ifón, pouco distante de Osogbô. Seu culto permanece ainda relativamente bem preservado nessa cidade tranqüila, que se caracteriza pela presença de numerosos templos, igrejas católicas e protestantes e mesquitas que atraem, todas elas, aos domingos e sextas-feiras, grandes números de fiéis de múltiplas formas de monoteísmos importados do estrangeiro. Em contraste, infelizmente, com essa afluência, o dia da semana ioruba consagrado a Òrìsànlá só interessa atualmente a pouca gente. Exatamente um pequeno núcleo de seis

sacerdotes, os Ìwèfà méfà (Aájá, Aáwa, Olúwin, Gbógbó, Aláta e Ajíbódù) ligados ao culto de Òrìsà Olúfón e uns vinte olóyè, os dignitários portadores de títulos, que fazem parte da corte do rei local, Óbà Olúfón.

A cerimônia de saudação ao rei de dezesseis em dezesseis dias pelos Ìwófà e pelos Olóyè é impressionante pela calma, simplicidade e dignidade. O rei, Olúfon, espera sentado à porta do palácio reservada só para ele e que dá para o pátio. Ele estava vestido com um pano e um gorro brancos. Os Olóyè avançam vestidos de tecido branco amarrado no ombro esquerdo, e seguram um grande cajado. Aproximam-se do rei, param diante dele, colocam o cajado no chão, tiram o gorro, ficam descalços, desatam o tecido e amarram-no à cintura. Com o torso nu em sinal de respeito, ajoelha-se e

prostra-se vária vez, ritmando, com uma voz respeitosa, um pouco grave e abafada, uma série de votos de longa vida, de calma, felicidade, fecundidade para suas mulheres, de prosperidade e proteção contra os elementos adversos e contra as pessoas ruins. Tudo isso é expresso em uma linguagem enfeitada de provérbios e de fórmulas tradicionais. Em seguida, os Olóyè e os Ìwèfà vão sentar-se de cada lado do rei, trocando saudações, cumprimentos e comentários sobre acontecimentos recentes que

interessam à comunidade. A seguir, o rei manda servir-lhes alimentos, dos quais uma parte foi colocada diante do altar de Òsàlúfón, para uma refeição comunitária com o deus.

Osaguiã (Òrìsà Ògiyán)

 Òrìsà Ògiyán é um òrìsa funfun jovem e guerreiro, cujo templo principal encontra-se no Ejigbô. Foi a esse local que este òrìsa chegou, depois de uma viagem que o fez passar por vários lugares; num deles, Ikiré deixou um de seus companheiros que se tornou o opulento Òrìsà-Ìkìrè.

Chegando ao ponto final de sua viagem, tomou o título de Eléèjìgbó, rei de Ejigbô. Porém, uma característica deste òrìsa era o gosto descontrolado que tinha pelo inhame pilado, chamado iyán, que lhe valeu o apelido de “Òrìsa-Comedor-de-Inhame-Pilado”, o que se exprime em ioruba pela frase Òìsà-jé-iyán e pela contração Òrìsàjiyán ou Òrìsàgiyán. Comia inhame dia e noite; de fato, o inhame era-lhe necessário há todas as horas. Dizem que ele foi o inventor do pilão para facilitar a preparação de seu prato predileto. Também, quando um elégùn desse òrìsa é possuído por ele, traz sempre na

mão, ostensivamente, um pilão com alusão a sua preferência alimentar. Esse detalhe é conhecido no Brasil pelas pessoas consagradas a Osaguiã que, quando estão em transe durante suas danças, agitam com a mão, infalivelmente, o pilão simbólico. Além disso, a festa que lhe oferecem todos os anos chama-se “o Pilão de Osaguiã”.

Por ocasião das cerimônias anuais em Ejigbô, a tradição exige que os habitantes de dois bairros da cidade, Osolô e Oke Mapô, lutem uns contra os outros a golpes de varas durante várias horas. Uma história de Ifá explica a origem desse costume com a seguinte lenda:

“Certo Awoléjé, babalawo companheiro e amigo de Eléèjìgbò, havia-lhe indicado o que deveria fazer para transformar a aldeia de Ejigbô, recentemente fundada, em uma cidade florescente. Em seguida, dirigiu-se para outro lugar. Em alguns anos, a aglomeração tornou-se uma grande cidade, cercada de muralhas e fossos, com portas fortificadas, guardas, um palácio para Eléèjìgbò, numerosas casas, um grande mercado para onde vinham de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias diversas e escravos. Eléèjìgbò vivia em grande estilo e era costume, quando se falava de sua pessoa, designá-lo pelo termo bajulador Kábiyèsi (‘Sua Majestade Real’). Ao cabo de vários anos, Awoléjé voltou e, embora babalawo, nada sabia da grandeza de seu amigo, o ‘Comedor-de-Inhame- Pilado’. Chegando ao posto da guarda, na porta da cidade, pediu familiarmente notícias do Ojiyán. Os guardas surpresos e indignados com a insolência do viajante para com o soberano do lugar agarraram Awoléjé, bateram-lhe”. cruelmente e o prenderam. O babalawo ferido vingou-se utilizando seus poderes. Ejigbô conheceu então anos difíceis: não chovia mais, as mulheres ficaram estéreis, os cavalos do rei não tinham mais pasto e outros dissabores. Eléèjìgbò fez uma pesquisa e soube da prisão de Awoléjé. Ordenou imediatamente que o pusessem em liberdade e pediu-lhe para perdoar e para esquecer os maus-tratos de que fora vítima. “Awoléjé concordou, mas com uma condição: ‘No dia da festa de Òsàgiyán, os habitantes de Ejigbô deveriam lutar entre si, com golpes de varas, durante várias horas’”.

Esta flagelação expiatória realiza-se todos os anos em presença de Eléèjìgbò, enquanto as mulheres consagradas ao òrìsa cantam os oríkì e batem no chão com o ìsán, varinhas de atori (Glyphea laterifolia), para os mortos, e fazê-los participar da cerimônia. Elas exortam Osaguiã a fazer reinar a paz e a abundância em sua cidade e a mandar chover regularmente. Os axés do deus são trazidos da floresta sagrada, onde se encontra seu templo. Terminada a luta, forma-se um cortejo, precedido por Eléèjìgbò. A multidão entra dançando no palácio, onde os axés ficaram por algum tempo. Depois, retornarão acompanhados por Eléèjìgbò e seu séqüito até o templo de Osaguiã, em sua floresta sagrada. A multidão enche logo a clareira, levando gamelas com oferenda de alimentos, onde figura em lugar de destaque, a massa de inhame bem pisada nos pilões e que será comida em comunhão com o deus.

P. Verger, Fatumbi.

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OS OBÁS DE ILÈ IFÉ.

A cidade de Ilê-Ifé é considerada pelos yorubas o lugar de origem de suas primeiras tribos. Ifé é o berço de toda religião tradicional yoruba (a religião dos Òrìsà), é um lugar sagrado, aonde os deuses ali chegaram, criaram e povoaram o mundo e depois ensinou aos mortais como os cultuarem, nos primórdios da civilização. Ilê-Ifé é o “Berço da Terra”.

Em um tempo onde os Deuses e Heróis andavam na terra com os Homens.

  Olódùmarè

Olódùmarè o ser superior dos yorubas, que vive num universo paralelo ao nosso, conhecido como Òrún, por isso Ele é também conhecido como Àjàlórún e Olórun “Senhor ou Rei do Òrún”, que através dos Òrìsà por Ele criado, resolve incumbir um dos Òrìsà funfun (do branco), Òrínsànlá, (o grande Òrìsà) o primeiro a ser criado, também chamado de Òrìsà-nlá e de Obàtálá, de criar e governar o futuro Àiyé: a Terra, do nosso universo conhecido. Ele lhe entrega o Àpò-Iwá (a sacola da existência) o qual contém todas as coisas necessárias para a criação, e é aclamado como Aláàbáláàse, “Senhor que tem o poder de sugerir e realizar”. Como a tradição mandava, para todos, antes de iniciar a viagem ele foi consultar o oráculo de Ifá, com Òrúnmìlà, outro Òrìsà funfun, e este lhe orientou a fazer alguns sacrifícios à divindade Èsù, mas se ele já era orgulhoso e prepotente, mais ainda ficou se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortúnios poderiam ocorrer.

Òrìsànlá, de posse do Àpò-Iwá, põe-se a caminhar pelo Òrún, para chegar à “porta do espaço”, até então um vazio, que viria a ser o Àiyé. Ele é o Òrìsà que usa um cajado ritual conhecida como òpásóró, durante o caminho, com muita sede, ele se defronta com o igi-òpé (árvore do dendezeiro) e com o seu òpásóró, perfura o caule da árvore da qual começa a “jorrar o emu” (vinho de palma), e põe-se a beber, a tal ponto, que cai totalmente embriagado no pé da palmeira e dorme profundamente. O infortúnio começa acontecer.

Odùduwà, outro Òrìsà funfun, o segundo criado por Olódùmarè, por conceito “irmão mais novo” de Òrìsànlá, ficou enciumado, porque Olódùmarè tinha entregado a Òrìsànlá o Àpò-Iwá, e o estava seguindo pelos caminhos do Òrún, esperando que ele cometesse algum deslize, o que de fato aconteceu. Odùduwà, encontrando-o naquele estado, apodera-se do Àpò-Iwá e leva-o até Olódùmarè, narrando o acontecido, e, por este fato, Olódùmarè delega a Odùduwà o poder de criar o Àiyé e por punição incumbe a Òrìsànlá de somente criar e modelar os corpos dos seres humanos no Òrún, sob sua supervisão e o proíbe terminantemente de nunca mais beber o emu. Odùduwà, então, cumpre a tradição e faz as obrigações, para se tornar o progenitor dos Yorubas, do Mundo: Olófin Odùduwà, o futuro Àjàlàiyé.

Desde então a relação tempestuosa entre Odùduwà e Obàtálá se perpetuou, ora em disputas, discórdias, controvérsias e de outras formas, mas sempre munindo a eterna rivalidade.

OdùduwàOdùduwà chegando ao Àiyé cria tudo o que era necessário e delega poderes às divindades que o seguiram, conhecidos como os Àgbà*, para governarem a criação, e volta ao Òrún, e só retornaria quando tudo estivesse realmente concluído. Òrìsànlá, que tinha ficado no Òrún com seus seguidores, já tinha moldado corpos suficientes para povoar o inicio do mundo, vão então para o Àiyé, com seus seguidores, os Funfun*; fato que ocorre antes da volta de Odùduwà para o Àiyé. *Anexos.

Quando Olófin Odùduwà retorna ao Àiyé, funda a cidade de Ilê-Ifé, e vem a ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de “Oba Óòni”, ou seja, o primeiro Óòni de Ifé, e a cidade se torna a morada dos deuses e dos novos seres.

Durante todo este tempo, Odùduwà que já estava casado com Ìyá Olóòkun, divindade feminina, responsável e dona dos mares, tem dois filhos, o primogênito, a divindade Ògún e uma filha de nome Ìsèdélè. O tempo passa, e Odùduwà, que era uma divindade negra, porém albina incumbe seu filho Ògún de ir para a aldeia de Ògòtún, vizinha de Ifé, conter uma rebelião.

Ògún, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua missão e realiza o intento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanje era espólio de Odùduwà, o Óòni de lfé, portanto intocável, mas Lakanje era muito bela e extremamente sensual e Ògún não resistiu aos seus encantos e com ela teve várias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegando a lfé, ele entrega os espólios da conquista, inclusive Lakanje, a seu pai Odùduwà, que também não resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje e por ela se apaixona e acabaram por casar-se. Ògún nada tinha contado a seu pai dos fatos ocorridos e logo após o casamento Lakanje está grávida, desta gravidez nasce um filho de nome Odéde.

Só que o destino foi fatídico, Odéde nasceu metade negro, como a pele de Ògún e metade branco, como a pele do albino Odùduwà, revelando assim, a traição de Ògún para com a confiança do seu pai, esta situação gerou muita discussão entre Odùduwà e Ògún, mas a principal foi “quem tinha razão”, ou, quem teria mais “genes” no filho em comum, Odéde, e cada um se posicionava com a seguinte frase : “a minha palavra triunfou” ou “a minha palavra é a correta”, que aglutinada é Òrànmíyàn e foi assim que ele passou a ser chamado e conhecido.

Com Lakanje, uma das muitas esposas de Odùduwà*, ou com outras, teve ou já tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um número maior ainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dos Obas Yorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, ou mais, que deram origem à civilização dos yorubas, e religiosamente falando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Odùduwà, os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação yoruba, portanto Olófin Odùduwà Àjàlàiyé é aclamado como “O Patriarca dos Yorubas”. *Anexo

Obàtálá (Òrìsànlá), que também já estava no Àiyé com sua comitiva, mas devido à grande rivalidade com Odùduwà, foi expulso de Ilê-Ifé e funda a cidade de Ìgbò e se torna o primeiro Obà Ìgbò chamado também de Bàbá Ìgbò, pai dos ìgbòs. Numa sociedade polígama, Òrìsànlá é um caso raro de monogamia, pois a divindade Yemowo foi sua única esposa e não tiveram filhos.

  Olódùmarè 

Olódùmarè o ser superior dos yorubas, que vive num universo paralelo ao nosso, conhecido como Òrún, por isso Ele é também conhecido como Àjàlórún e Olórun “Senhor ou Rei do Òrún”, que através dos Òrìsà por Ele criado, resolve incumbir um dos Òrìsà funfun (do branco), Òrínsànlá, (o grande Òrìsà) o primeiro a ser criado, também chamado de Òrìsà-nlá e de Obàtálá, de criar e governar o futuro Àiyé: a Terra, do nosso universo conhecido. Ele lhe entrega o Àpò-Iwá (a sacola da existência) o qual contém todas as coisas necessárias para a criação, e é aclamado como Aláàbáláàse, “Senhor que tem o poder de sugerir e realizar”. Como a tradição mandava, para todos, antes de iniciar a viagem ele foi consultar o oráculo de Ifá, com Òrúnmìlà, outro Òrìsà funfun, e este lhe orientou a fazer alguns sacrifícios à divindade Èsù, mas se ele já era orgulhoso e prepotente, mais ainda ficou se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortúnios poderiam ocorrer.

Òrìsànlá, de posse do Àpò-Iwá, põe-se a caminhar pelo Òrún, para chegar à “porta do espaço”, até então um vazio, que viria a ser o Àiyé. Ele é o Òrìsà que usa um cajado ritual conhecida como òpásóró, durante o caminho, com muita sede, ele se defronta com o igi-òpé (árvore do dendezeiro) e com o seu òpásóró, perfura o caule da árvore da qual começa a “jorrar o emu” (vinho de palma), e põe-se a beber, a tal ponto, que cai totalmente embriagado no pé da palmeira e dorme profundamente. O infortúnio começa acontecer.

Odùduwà, outro Òrìsà funfun, o segundo criado por Olódùmarè, por conceito “irmão mais novo” de Òrìsànlá, ficou enciumado, porque Olódùmarè tinha entregado a Òrìsànlá o Àpò-Iwá, e o estava seguindo pelos caminhos do Òrún, esperando que ele cometesse algum deslize, o que de fato aconteceu. Odùduwà, encontrando-o naquele estado, apodera-se do Àpò-Iwá e leva-o até Olódùmarè, narrando o acontecido, e, por este fato, Olódùmarè delega a Odùduwà o poder de criar o Àiyé e por punição incumbe a Òrìsànlá de somente criar e modelar os corpos dos seres humanos no Òrún, sob sua supervisão e o proíbe terminantemente de nunca mais beber o emu. Odùduwà, então, cumpre a tradição e faz as obrigações, para se tornar o progenitor dos Yorubas, do Mundo: Olófin Odùduwà, o futuro Àjàlàiyé.

Desde então a relação tempestuosa entre Odùduwà e Obàtálá se perpetuou, ora em disputas, discórdias, controvérsias e de outras formas, mas sempre munindo a eterna rivalidade.

OdùduwàOdùduwà chegando ao Àiyé cria tudo o que era necessário e delega poderes às divindades que o seguiram, conhecidos como os Àgbà*, para governarem a criação, e volta ao Òrún, e só retornaria quando tudo estivesse realmente concluído. Òrìsànlá, que tinha ficado no Òrún com seus seguidores, já tinha moldado corpos suficientes para povoar o inicio do mundo, vão então para o Àiyé, com seus seguidores, os Funfun*; fato que ocorre antes da volta de Odùduwà para o Àiyé. *Anexos.

Quando Olófin Odùduwà retorna ao Àiyé, funda a cidade de Ilê-Ifé, e vem a ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de “Oba Óòni”, ou seja, o primeiro Óòni de Ifé, e a cidade se torna a morada dos deuses e dos novos seres.

Durante todo este tempo, Odùduwà que já estava casado com Ìyá Olóòkun, divindade feminina, responsável e dona dos mares, tem dois filhos, o primogênito, a divindade Ògún e uma filha de nome Ìsèdélè. O tempo passa, e Odùduwà, que era uma divindade negra, porém albina incumbe seu filho Ògún de ir para a aldeia de Ògòtún, vizinha de Ifé, conter uma rebelião.

Ògún, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua missão e realiza o intento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanje era espólio de Odùduwà, o Óòni de lfé, portanto intocável, mas Lakanje era muito bela e extremamente sensual e Ògún não resistiu aos seus encantos e com ela teve várias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegando a lfé, ele entrega os espólios da conquista, inclusive Lakanje, a seu pai Odùduwà, que também não resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje e por ela se apaixona e acabaram por casar-se. Ògún nada tinha contado a seu pai dos fatos ocorridos e logo após o casamento Lakanje está grávida, desta gravidez nasce um filho de nome Odéde.

Só que o destino foi fatídico, Odéde nasceu metade negro, como a pele de Ògún e metade branco, como a pele do albino Odùduwà, revelando assim, a traição de Ògún para com a confiança do seu pai, esta situação gerou muita discussão entre Odùduwà e Ògún, mas a principal foi “quem tinha razão”, ou, quem teria mais “genes” no filho em comum, Odéde, e cada um se posicionava com a seguinte frase : “a minha palavra triunfou” ou “a minha palavra é a correta”, que aglutinada é Òrànmíyàn e foi assim que ele passou a ser chamado e conhecido.

Com Lakanje, uma das muitas esposas de Odùduwà*, ou com outras, teve ou já tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um número maior ainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dos Obas Yorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, ou mais, que deram origem à civilização dos yorubas, e religiosamente falando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Odùduwà, os deuses, semideuses e/ou heróis, formaram a base da nação yoruba, portanto Olófin Odùduwà Àjàlàiyé é aclamado como “O Patriarca dos Yorubas”. *Anexo

Obàtálá (Òrìsànlá), que também já estava no Àiyé com sua comitiva, mas devido à grande rivalidade com Odùduwà, foi expulso de Ilê-Ifé e funda a cidade de Ìgbò e se torna o primeiro Obà Ìgbò chamado também de Bàbá Ìgbò, pai dos ìgbòs. Numa sociedade polígama, Òrìsànlá é um caso raro de monogamia, pois a divindade Yemowo foi sua única esposa e não tiveram filhos.

Òrànmíyàn

Após grandes vitórias, Òrànmíyàn torna-se o braço direito de seu pai em Ilê-Ifê, pois seus outros irmãos foram povoar regiões distantes, menos Obàlùfan Ògbógbódirin. Odùduwà ordena então que Òrànmíyàn conquiste terras ao norte de Ifé, mas Òrànmíyàn não consegue cumprir a tarefa e sai derrotado e, com vergonha de encarar seu pai, não volta mais a Ifé, com isso funda uma nova cidade e lhe dá o nome de Oyó, tornando-se o primeiro Oba Aláàfin de Oyó.

Casado com Morèmi, uma bela mortal, nativa de Òfà, que se tornou mais tarde uma heroína em Ilê-Ifé, da qual tem um filho, que recebe o nome de Ajaká. Após algum tempo, Òrànmíyàn investe em novas conquistas e volta a guerrear contra a Nação dos Tapas, onde havia sido derrotado, mas desta vez consegue uma grande vitória sobre Elémpe, na época rei dos Tapas. Por sua derrota, Elémpe entrega-lhe sua filha Torosí, para que se case com ele. Retornando a Oyó, Òrànmíyàn casa-se com Torosí e com ela tem um filho, chamado de Sòngò, um mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai semideus, portanto com ascendentes divinos por parte de pai.

Após este período com inúmeras vitórias, a cidade de Oyó torna-se um poderoso império, Òrànmíyàn, prestigiado e redimido de sua vergonha, volta para Ilê-Ifé, deixando em seu lugar, em Oyó, o príncipe coroado, seu filho Ajaká, que se torna o segundo Aláàfin de Oyó.

Em uma de suas conquistas, a da cidade de Benin, anterior a fundação de Oyó, Òrànmíyàn termina com a dinastia de Ogìso, o então rei, expulsando-o e assumindo o trono, tornando-se o primeiro Obabínín, e inicia sua dinastia tendo um filho, chamado Èwékà, com uma mulher do local. Antes de deixar a cidade, ele torna Èwékà como seu sucessor no trono do Benin. (Atual cidade na Nigéria, antigo Reino do Benin, não confundir com a República do Benin, antigo país chamado Daomé.)

Durante sua longa ausência em Ilê-Ifé, Obàlùfan Ògbógbódirin, seu irmão mais velho, se tornou o segundo Óòni de Ifé, após o reinado de Odùduwà. Quando Obàlùfan morreu, e ninguém sabia do paradeiro de Òrànmíyàn, o povo de Ifé aclamou Obàlùfan Aláyémore como sucessor direto de seu pai.

Quando Òrànmíyàn chega a Ifé, Obàlùfan Aláyémore já reinava como o terceiro Óòni de Ifé, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo de Ifé que haviam aclamado Aláyémore, e que o tinham chamado para combater possíveis inimigos, o poderoso guerreiro colérico, comete varias atrocidades e só para quando uma anciã grita desesperada que ele está destruindo seus “próprios filhos”, o seu povo. Atônito, ele finca no chão seu asà (escudo) que imediatamente se transforma em uma enorme laje de pedra, num lugar hoje chamado de “Ìta Alásà”, e decide ir embora e nunca mais voltar à Ifé.

Quando rumava para fora dos arredores de Ifé, em Mòpá, foi interceptado pelo povo que o saudavam como Óòni de Ifé e suplicavam por sua volta. Ele então satisfeito e envaidecido, atende ao povo e finca no chão seu òpá (seu bastão de guerreiro) transformando-o em um monólito de granito (ver foto: Òpá Òrànmíyàn) selando assim o acordo com o povo e volta em uma procissão triunfante ao palácio de Ifé.

Sabendo disso, Obàlùfan Aláyémore abandona o palácio e se exila na cidade de Ìlárá. Òrànmíyàn ascende ao trono e se torna o 4ª Óòni de Ifé até sua morte. Obàlùfan Aláyémore retorna do exílio e reassume como o 5ª Óòni de Ifé e reina desta vez, com sucesso até a sua morte.Ajaká

O Aláàfin de Oyó, o Oba Ajaká, meio irmão de Sòngò, era muito pacifico, apático e não realizava um bom governo.

Sòngò, que cresceu nas terras dos Tapas ( Nupe), local de origem de Torosí, sua mãe, e mais tarde se instalou na cidade de Kòso, mesmo rejeitado pelo povo por ser violento e incontrolável, mas sendo tirânico, se aclamou como Oba Kòso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu em Oyó, num bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu Kòso e com isso manteve seu titulo de Oba Kòso. Sòngò percebendo a fraqueza de seu irmão e sendo astuto e ávido por poder, destrona Ajaká e torna-se o terceiro Aláàfin de Oyó.

Ajaká, também chamado de Dadá, exilado, sai de Oyó para reinar numa cidade menor, Igboho, vizinha de Oyó, e não poderia mais usar a coroa real de Oyó. E, com vergonha por ter sido deposto, jura que neste seu reinado vai usar outra coroa (ade), que lhe cubra seus olhos envergonhados e que somente irá tirá-la quando ele puder usar novamente o ade que lhe foi roubado. Esta coroa que Dadá Ajaká passa a usar é rodeada por vários fios ornados de búzios no lugar das contas preciosas do Ade Real de Oyó, e esta se chama Ade Bayánni (ver fotos). Dadá Ajaká então casa-se e tem um filho que se chama Aganju, que vem a ser sobrinho de Sòngò.

Sòngò reina durante sete anos sobre Oyó e com intenso remorso das inúmeras atrocidades cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Oyó e se refugia na terra natal de sua mãe em Tapa. Após um tempo, suicida-se, enforcando-se numa árvore chamada de àyòn (àyàn) na cidade de Kòso. Com o fato consumado, Dadá Ajaká volta à Oyó e reassume o trono, retira então o Ade Bayánni e passa a usar o Ade Aláàfin, tornando-se então o quarto Aláàfin de Oyó. Após sua morte, assume o trono seu filho Aganju, neto de Òrànmíyàn e sobrinho de Sòngò, tornando-se o quinto Aláàfin de Oyó.

Com Aganju, termina o primeiro período da formação dos povos yoruba e após seu reinado se dá inicio ao segundo período, o dos reis históricos. Vimos: “De Ifé até Oyó, de Odùduwà a Aganju, passando por Sòngò.”

Òrànmíyàn 

Após grandes vitórias, Òrànmíyàn torna-se o braço direito de seu pai em Ilê-Ifê, pois seus outros irmãos foram povoar regiões distantes, menos Obàlùfan Ògbógbódirin. Odùduwà ordena então que Òrànmíyàn conquiste terras ao norte de Ifé, mas Òrànmíyàn não consegue cumprir a tarefa e sai derrotado e, com vergonha de encarar seu pai, não volta mais a Ifé, com isso funda uma nova cidade e lhe dá o nome de Oyó, tornando-se o primeiro Oba Aláàfin de Oyó.

Casado com Morèmi, uma bela mortal, nativa de Òfà, que se tornou mais tarde uma heroína em Ilê-Ifé, da qual tem um filho, que recebe o nome de Ajaká. Após algum tempo, Òrànmíyàn investe em novas conquistas e volta a guerrear contra a Nação dos Tapas, onde havia sido derrotado, mas desta vez consegue uma grande vitória sobre Elémpe, na época rei dos Tapas. Por sua derrota, Elémpe entrega-lhe sua filha Torosí, para que se case com ele. Retornando a Oyó, Òrànmíyàn casa-se com Torosí e com ela tem um filho, chamado de Sòngò, um mortal, nascido de uma mãe mortal e um pai semideus, portanto com ascendentes divinos por parte de pai.

Após este período com inúmeras vitórias, a cidade de Oyó torna-se um poderoso império, Òrànmíyàn, prestigiado e redimido de sua vergonha, volta para Ilê-Ifé, deixando em seu lugar, em Oyó, o príncipe coroado, seu filho Ajaká, que se torna o segundo Aláàfin de Oyó.

Em uma de suas conquistas, a da cidade de Benin, anterior a fundação de Oyó, Òrànmíyàn termina com a dinastia de Ogìso, o então rei, expulsando-o e assumindo o trono, tornando-se o primeiro Obabínín, e inicia sua dinastia tendo um filho, chamado Èwékà, com uma mulher do local. Antes de deixar a cidade, ele torna Èwékà como seu sucessor no trono do Benin. (Atual cidade na Nigéria, antigo Reino do Benin, não confundir com a República do Benin, antigo país chamado Daomé.)

Durante sua longa ausência em Ilê-Ifé, Obàlùfan Ògbógbódirin, seu irmão mais velho, se tornou o segundo Óòni de Ifé, após o reinado de Odùduwà. Quando Obàlùfan morreu, e ninguém sabia do paradeiro de Òrànmíyàn, o povo de Ifé aclamou Obàlùfan Aláyémore como sucessor direto de seu pai.

Quando Òrànmíyàn chega a Ifé, Obàlùfan Aláyémore já reinava como o terceiro Óòni de Ifé, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo de Ifé que haviam aclamado Aláyémore, e que o tinham chamado para combater possíveis inimigos, o poderoso guerreiro colérico, comete varias atrocidades e só para quando uma anciã grita desesperada que ele está destruindo seus “próprios filhos”, o seu povo. Atônito, ele finca no chão seu asà (escudo) que imediatamente se transforma em uma enorme laje de pedra, num lugar hoje chamado de “Ìta Alásà”, e decide ir embora e nunca mais voltar à Ifé.

Quando rumava para fora dos arredores de Ifé, em Mòpá, foi interceptado pelo povo que o saudavam como Óòni de Ifé e suplicavam por sua volta. Ele então satisfeito e envaidecido, atende ao povo e finca no chão seu òpá (seu bastão de guerreiro) transformando-o em um monólito de granito (ver foto: Òpá Òrànmíyàn) selando assim o acordo com o povo e volta em uma procissão triunfante ao palácio de Ifé.

Sabendo disso, Obàlùfan Aláyémore abandona o palácio e se exila na cidade de Ìlárá. Òrànmíyàn ascende ao trono e se torna o 4ª Óòni de Ifé até sua morte. Obàlùfan Aláyémore retorna do exílio e reassume como o 5ª Óòni de Ifé e reina desta vez, com sucesso até a sua morte.

Ajaká

O Aláàfin de Oyó, o Oba Ajaká, meio irmão de Sòngò, era muito pacifico, apático e não realizava um bom governo.

Sòngò, que cresceu nas terras dos Tapas ( Nupe), local de origem de Torosí, sua mãe, e mais tarde se instalou na cidade de Kòso, mesmo rejeitado pelo povo por ser violento e incontrolável, mas sendo tirânico, se aclamou como Oba Kòso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu em Oyó, num bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu Kòso e com isso manteve seu titulo de Oba Kòso. Sòngò percebendo a fraqueza de seu irmão e sendo astuto e ávido por poder, destrona Ajaká e torna-se o terceiro Aláàfin de Oyó.

Ajaká, também chamado de Dadá, exilado, sai de Oyó para reinar numa cidade menor, Igboho, vizinha de Oyó, e não poderia mais usar a coroa real de Oyó. E, com vergonha por ter sido deposto, jura que neste seu reinado vai usar outra coroa (ade), que lhe cubra seus olhos envergonhados e que somente irá tirá-la quando ele puder usar novamente o ade que lhe foi roubado. Esta coroa que Dadá Ajaká passa a usar é rodeada por vários fios ornados de búzios no lugar das contas preciosas do Ade Real de Oyó, e esta se chama Ade Bayánni (ver fotos). Dadá Ajaká então casa-se e tem um filho que se chama Aganju, que vem a ser sobrinho de Sòngò.

Sòngò reina durante sete anos sobre Oyó e com intenso remorso das inúmeras atrocidades cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Oyó e se refugia na terra natal de sua mãe em Tapa. Após um tempo, suicida-se, enforcando-se numa árvore chamada de àyòn (àyàn) na cidade de Kòso. Com o fato consumado, Dadá Ajaká volta à Oyó e reassume o trono, retira então o Ade Bayánni e passa a usar o Ade Aláàfin, tornando-se então o quarto Aláàfin de Oyó. Após sua morte, assume o trono seu filho Aganju, neto de Òrànmíyàn e sobrinho de Sòngò, tornando-se o quinto Aláàfin de Oyó.

Com Aganju, termina o primeiro período da formação dos povos yoruba e após seu reinado se dá inicio ao segundo período, o dos reis históricos. Vimos: “De Ifé até Oyó, de Odùduwà a Aganju, passando por Sòngò.”

Sòngò

O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que se fala de Sòngò, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.

Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único, é o pai do povo yorubano e não uma simples “qualidade” de Òrìsànlá, ou seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam, pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Dona do Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o Òrìsà Yemojá, “Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn”, divindade de água doce, e muito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà a ela atribuídos. Notar a acentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavras distintas.

Quanto a Sòngò, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé, portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O que ocorreu em sua vida foi que uma de suas esposas, e a única que o acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o “ressuscita” como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores, ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por paixão.

Esta afirmação é facilmente notada, pois Sòngò é a única divindade do panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é, em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comuns, o carneiro; existem também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar. Leia em artigos: O Culto dos Egúngún

Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo “qualidades” de Sòngò, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sòngò, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de “Coroa de Dadá” ou “Adê Baiani”. Que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Sòngò chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Sòngò. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sòngò lhe roubou o trono, e que a mãe de Sòngò foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.

Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sòngò, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sòngò.

NOTA**: Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos, por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana. Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos, pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela arqueologia, que pouco investiu, os “pouquíssimos” artefatos que foram achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.

*Nota atual do autor para este site.

Texto de Aulo Barretti Filho: “IIê-Ifé : o berço religioso dos yorubas , de Odùduwà a Sòngò” In : Revista Ébano, São Paulo ,nº 23 : 33 , Junho de 1984

Sòngò

O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que se fala de Sòngò, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.

Inicialmente, averiguamos que Odùduwà é um Òrìsà funfun masculino e único, é o pai do povo yorubano e não uma simples “qualidade” de Òrìsànlá, ou seja, são divindades totalmente distintas, inclusive, não se suportavam, pelos fatos vistos; e que também Ìyá Olóòkun, é um Òrìsà feminino e a Dona do Mar, portanto da água salgada, é quem governa os oceanos e não o Òrìsà Yemojá, “Senhora do rio Yemojá e do rio Ògùn”, divindade de água doce, e muito menos mãe de Ògún e de outros filhos Òrìsà a ela atribuídos. Notar a acentuação diferente no nome do Òrìsà Ògún e do rio, pois são palavras distintas.

Quanto a Sòngò, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé, portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O que ocorreu em sua vida foi que uma de suas esposas, e a única que o acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oya, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oya, Ele o “ressuscita” como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores, ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por paixão.

Esta afirmação é facilmente notada, pois Sòngò é a única divindade do panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é, em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comuns, o carneiro; existem também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar. Leia em artigos: O Culto dos Egúngún

Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo “qualidades” de Sòngò, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sòngò, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de “Coroa de Dadá” ou “Adê Baiani”. Que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Sòngò chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Sòngò. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sòngò lhe roubou o trono, e que a mãe de Sòngò foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.

Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sòngò, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sòngò.

NOTA**: Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos, por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana. Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos, pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela arqueologia, que pouco investiu, os “pouquíssimos” artefatos que foram achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.

Texto de Aulo Barretti Filho: “IIê-Ifé : o berço religioso dos yorubas , de Odùduwà a Sòngò” In : Revista Ébano, São Paulo ,nº 23 : 33 , Junho de 1984

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Os Àgbàgbà

Uns dos seus partidários, dos 16, foram Orèlúéré e Obawinni.

Os “dezesseis” àgbà (anciões) que vieram com Odùduwà para criar o Àiyé, que por este motivo se tornou Olófin Odùduwà, o Àjàlàiyé.

– Máscara de cobre, que dizem representar o segundo Óòni de Ilê-Ifé, o Oba Obàlùfan Ògbógbódirin, filho de Odùduwà, alguns falam que foi o primeiro Oba a ser realmente coroado e o primeiro a usar a então tradicional coroa, o Ade Aré. –


1. Òrúnmìlà ou Àgbónmìrégún: “Senhor do Oráculo de Ifá“, foi o primeiro companheiro e o Chefe Conselheiro de Odùduwà, um primeiro ministro, orientando sobre tudo e a todos, inclusive em assuntos governamentais de Ilê-Ifé.

2. Obàtálá: também chamado de Òrìsànlá: considerado o primeiro e principal artesão, por modelar os corpos dos seres humanos, é aclamado como Alámòrere, “Senhor da boa argila”, por extensão, o patrono dos artistas, principalmente dos escultores.

3. Olúorogbo ou Òrìsà Aláse: foi o terceiro àgbà em importância depois de Odùduwà, aquele que foi o “Salvador do Mundo”, que fez chover numa grande seca, pois foi o chefe mensageiro entre o Oba Orún e o Oba Àiyé, ou seja, entre Olódùmarè e Odùduwà.

4. Uamiri: também chamado de Alapa-Aharemadà: foi o seu “general”.

5. Orèlúéré ou Orè (Oré): Olóde Orè, o chefe dos caçadores e guardião das tradições e da moral. Para uns, após Odudùwà ter criado o mundo, o primeiro a pisar na terra e depois explorá-la, foi Olóde Orè, antes de qualquer um, como manda a tradição era uma das funções dos caçadores, por isto é também aclamado como Onílè, “Senhor da terra”. Dizem que mais tarde, ele se tornou um dos companheiros de Òbàtálá.

6. Obasìn ou Èsù Obasin: Era quem controlava os intempéries da natureza, e mais tarde, tornou-se o principal assistente de Òrúnmìlà.

7. Obàgèdè ou Obàgîdî: foi o chefe mensageiro de Obamèrì.

8. Ògún: foi o chefe dos guerreiros.

9. Obamakin: sem dados…

10. Obawinni Oreluko: também chamado de Oro-Apasa, que mais tarde se tornou um dos companheiros de Òbàtálá, foi ele quem tornou Òbàtálá o 1º Oba dos Ìgbò, quando da retirada deles de Ilê-Ifé, imposta por Obamèri. Depois que Òbàtálá se foi, ele os liderou e se tornou o 2º Oba dos Ìgbò.

11. Aje Saluga: “Senhor da Riqueza”, foi o “financeiro” de Odùduwà. Outras fontes dizem que foi uma filha de Olóòkun com Odùduwà. É interessante notar, que como divindade feminina, seu símbolo seja uma grande concha marinha, que estranhamente é também um dos símbolos de Olóòkun.

12. Èrìsilè: sem dados…

13. Élésìje: Foi um ervanário, que iniciou a pratica da medicina tradicional.

14. Olósé: sem dados…

15. Alajó: sem dados…

16. Èsìdálè: que cuida daqueles que morrem tragicamente, como mulheres que morrem ao dar à luz, inclusive os suicidas.

Outros incluem na comitiva:

Olóòkun: Deus do mares e oceanos.

Òrìsàtéko Ìjùgbè ou Obaresé: um grande guerreiro e companheiro muito ligado a Obàtálá.

Yemowo: que foi a única esposa de Obàtálá.

Outros não consideram Obàtálá como um dos 16, pois chegou somente após os 16, porém, antes da segunda vinda de Odùduwà.

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YEMONJÁ

Yemoja na Africa, cujo nome deriva de Yèyé omo ejá (“Mãe cujos filhos são peixes”), é o orisá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemoja. As guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokutá, no início do século XIX. Evidentemente, não lhes foi possível levar o rio, mas, em contrapartida, transportaram consigo os objetos sagrados e os suportes do àse da divindade O rio Ògùn
que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Yemonjá. Este rio Ògùn não deve, entretanto, ser confundido com Ògún, o deus do ferro e dos caçadores, contrariamente à opinião de numerosos que escreveram sobre o assunto no fim do século passado.

O principal templo de Yemonjá está localizado em Ibará, um bairro de Abeokutá. Os fiéis desta divindade vão todos os anos buscar a água sagrada para lavar os asés, não no rio Ògùn, mas numa fonte de um dos seus afluentes, o rio Lakasa. Essa água é recolhida em jarras, transportada numa procissão seguida por pessoas que carregam esculturas de madeira (ère) e um conjunto de tambores. O cortejo na volta vai saudar as pessoas importantes do bairro, começando por Olúbàrà, o rei de Ibará.

Yemonjá seria a esposa de Olokun, Deus em Benin, ou deusa, em Ifé, do mar. Numa das histórias ela aparece casada pela primira vez com Orunmilá, o Senhor das Adivinhações, depois com Olofin, o Rei de Ifé.

Deusa das águas, mares e oceanos, é a manifestação da procriação, da restauração, das emoções e símbolo da fecundidade. Yemonjá: Yeye-omo-ejá_mãe cujos filhos são peixes, que são seus filhos e estão contidos em suas estranhas de água. Está associada ao poder genitor, a interioridade, aos filhos contidos em si mesma. Seu abebé (leque) simboliza a cabeça mestra. Ela é muito bonita, vaidosa e dança com o obebé (espelhinho) e pulseiras.

No Novo Mundo Yemonjá é uma divindade muito popular. Principalmente no Brasil . Seu ibá é assentado sobre pedras marinhas e conchas.

Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e
vestem-se, de preferência, de azul-claro.

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Yewá

Yewá

Yewá é a divindade do rio Yewá. Na Bahia é cultuada somente em três casas antigas, devido à complexidade de seu ritual. As gerações mais novas não captaram conhecimentos necessários para a realização do seu ritual, daí se ver, constantemente, alguém dizer que fez uma obrigação para Yewá, quando na realidade o que foi feito é o que se faz normalmente para Osun ou Oya. O desconhecimento começa com as coisas mais simples como a roupa que veste as armas e insígnias que segura e os cânticos e danças, isso quando não diz que Yewá é a mesma coisa que Osun, Oya e Yemoja. Yewá usa ofa que utiliza na guerra ou na caça. No seu ritual é imprescindível, dentre outras coisas, o iko (palha da costa), existe mesmo um ese Ifa do odu Otuamosun (oturá irosun), que fala de Yewá saindo de uma floresta de iko (22). O seu grande ewo (coisa proibida) é a galinha.

Na África, o rio Yewá é a morada dessa deusa, mas sua origem gera polêmicas. A quem diga que, a exemplo de Osumaré, Nanã e Omulú, Yewá era cultuada inicialmente entre os Mahi e foi assimilada pelos Iorubás e inserida em seu panteão. Havia um Orisá feminino oriundo das correntes do Daomé chamado Dan. A força desse Orisá estava concentrada em uma cobra que engolia a própria cauda, o que denota um sentido de perpétua continuidade da vida, pois o círculo nunca termina. Yewá seria a resignificação de Dan ou uma de suas metades –A outra seria Osumaré. Existem, porém, os que defendem que Yewá já pertencia à mitologia Nagô, sendo originária na cidade de Abeokutá. Estes, certamente, por desconhecer o panteão Efon –No qual o Vodun Eowa, da família Danbirá, seria o correspondente da Yewá dos Nagôs, –Confundem Yewá com uma qualidade de Yemonjá. Erram porque Yewá é um Orisá independente, mas sua origem não se esclarece sequer entre os Efon, pois em respeitados templos de Voduns afirma-se que Eowa é Nagô.

Yewá é simbolizada pelos raios brancos do sol, da neve, o sumo branco das folhas, o branco do arco-íris, os espermatozóides, a saliva e, ainda, o rio Yewá e a lagoa do mesmo nome. Orisá dos astros, guerreira valente, é também a Orisá das florestas. É um orisá muito difícil de aparecer no Brasil, ela requer muita consciência.

Yewá é uma bela virgem que entregou seu corpo jovem a Sòngò, marido de Oya, despertando a ira da rainha dos raios. Yewá refugiou-se nas matas inalcançáveis, sob a proteção de Osòósi, e tornou-se guerreira valente e caçadora habilidosa.

Conseguiu frustrar a vingança de Oyá, afastou de si a morte certa.

As virgens contam com a proteção de Yewá e, aliás, tudo que é inexplorado conta com a sua proteção: a mata virgem, as moças virgens, rios e lagos onde não se pode nadar ou navegar. A própria Yewá acreditam alguns só rodariam na cabeça de mulheres virgens (o que não se pode comprovar), pois ela mesma seria uma virgem, a virgem da mata virgem.

Yewá domina a vidência, atributo que o deus de todos os oráculos, Orunmilá lhe concedeu.

Yewá foi uma cobra muito má e por isso foi mandada embora. Acabou encontrando abrigo entre os Iorubás, que a transformaram em uma cobra boa e bela, –A metade feminina de Osumaré. Por esse motivo, Osumaré e Yewá, em qualquer ocasião, dançam juntos.

 

Lendas

… A Maldição

Corre a lenda entre as casas antigas da Bahia que cultuam Yewá, que certa vez indo para o rio lavar roupa, ao acabar, estendeu-a para secar. Nesse espaço veio a galinha e ciscou, com os pés, toda sujeira que se encontrava no local, para cima da roupa lavada, tendo Yewá que tornar a lavar tudo de novo. Enraivecida, amaldiçoou a galinha, dizendo que daquele dia em diante haveria de ficar com os pés espalmados e que nem ela nem seus filhos haveriam de comê-la, daí, durante os rituais de Yewá, galinha não passar nem pela porta. Verger encontrou esse ewo na África e uma lenda idêntica (23).

… A Gratidão

Na Nigéria, Abimbola publicou um itan Ifa (história de Ifa), falando que de carta feita estando Yewá à beira do rio, com um igba (gamela) cheio de roupa para lavar, avistou de longe um homem que vinha correndo em sua direção. Era Ifa que vinha esbaforido fugindo de iku (a morte). Pedindo seu auxílio, Yewá despejou toda roupa no chão, que se encontrava no igba, emborcou-o em cima de Ifa e sentou-se. Daí a pouco chega à morte perguntando se não viu passar por ali um homem e dava a descrição. Yewá respondeu que viu, mas que ele havia descido rio abaixo e a morte seguiram no seu encalço. Ao desaparecer, Ifa saiu debaixo do igba e Yewá, são e salvo. Este, agradecido, deu a Yewá o dom da vidência. Logo Yewá pensou algo e Orunmilá deu-lhe imediatamente a resposta, antes que ela fizesse a pergunta: “Sim, dentro em breve você terá um filho.” E este foi o segundo grande presente que Orunmilá deu a Yewá. Então, levou-a para casa, a fim de tornar-se sua mulher (24)…

… A Vingança

Era mais que o medo… Era o medo…
Era à noite, na noite do medo…
Era o vento, era a chuva, era o céu, era o mar…
Era a vingança de Oyá… Epa hei!
Assustava o escuro da noite e assustava a luz azulada dos raios…
O silêncio se ouvia da noite nos pés medrosos que corriam sobre as poças de água na areia batida
Até o silêncio fugia do rugido do trovão…
Era o medo, era mais do que medo de Yewá correndo com os pés descalços sobre as poças de areia batida.
O mar lambia seus pés, querendo tragá-la por sua boca faminta de coisas vivas,
A noite engolia em sua goela escura e a vomitava no clarão dos raios…
A luz azulada de raios brilhando no corpo nu e úmido de Yewá…
Era mais do que medo.. era o medo…
Era Oyá que vingava seu amor traído…
Era a senhora dos ventos que zuniam nas cabeleiras histéricas das palmeiras…
Era o céu que arregalava os olhos de fogo, procurava a fugitiva que corria sem onde se esconder…
As risadas do trovão divertiam-se com o medo de YEWÁ… Ai YEWÁ…
Por que cedeste este corpo moço e belo ao seu rei Sàngó?… Ai YEWÁ…
Por que entregaste a maciez de teus seios e o mel de teu sexo ao esposo de Oyá?… Ai YEWÁ…
Não sabias que a ira de Oyá é maior do que o desejo de Sàngó?
Ai YEWÁ… Não sabias que a vingança de Oyá é a morte?…
Era o canto de morte que o vento cantava entre as cabeleiras histéricas das palmeiras… Corre YEWÁ… Corre YEWÁ…
Fujas das praias que não podem te abrigar…
Fujas para as matas que talvez possam te abrigar…
Era a morte na espada de Oyá brilhando na luz dos raios
Era o raio… Era a vingança… Era a morte…
Mais se na mata consegue se esconder
Pede ao rei de Keto, sua proteção… Da fúria de Oyá… Amparar…
Pede a Dada, a Deusa do sexo, sua ajuda… Ri Ro YEWÁ! Ai YEWÁ
Provou que nem mesmo a Oyá consegui a sua vingança de morte…
Ri da risada histérica da Oyá na garganta do céu…
No rugido do trovão… do lamento da Oyá…
A vingança não consumada… Epa hei! Ri Ro YEWÁ!!!

… O rio

Havia uma mulher que tinha dois filhos, aos quais amava mais do que tudo. Levando as crianças, ela ia todos os dias à floresta em busca de lenha, lenha que ela recolhia e vendia no mercado para sustentar os filhos. Yewá, seu nome era Yewá e esse era seu trabalho, ia ao bosque com seus filhos todo dia.
Uma vez, os três estavam no bosque entretido quando Yewá percebeu que se perdera. Por mais que procurasse se orientar, não pôde Yewá achar o caminho de volta. Mais e mais foram os três se embrenhando na floresta. As duas crianças começaram a reclamar de fome, de sede e de cansaço. Quanto mais andavam, maior era a sede, maior a fome. As crianças já não podiam andar e clamavam à mãe por água. Yewá procurava e não achava nenhuma fonte, nenhum riacho, nenhuma poça d’água. Os filhos já morriam de sede e Yewá se desesperava.
Yewá implorou aos deuses, pediu a Olodumare. Ela deitou-se junto aos filhos moribundos e, ali onde se encontrava, Yewá transformou-se numa nascente d’água. Jorrou da fonte água cristalina e fresca e as crianças beberam dela. E a água matou a sede das crianças. E os filhos de Yewá sobreviveram. Mataram a sede com a água de Yewá.
A fonte continuou jorrando e as águas se juntaram e formaram uma lagoa. A lagoa extravasou e as águas mais adiante originaram um novo rio.

Era o rio Yewá, o Odo Yewá.

… Quem entrega à Oya

Yewá, filha de Obatalá e Nanã, vivia em seu castelo como se estivesse numa clausura. O amor de Obatalá por ela era muito estranho. A fama da beleza e da castidade da princesa chegou a todas as partes, inclusive ao reino de Sango.
Mulherengo como era, Sango planejou como iria seduzir Yewá. Empregou-se como jardineiro no palácio de Obatalá. Um dia Yewá apareceu na janela e admirou-se de Sango. Nunca havia visto um homem como aquele. Não se tem notícia de como Yewá se entregou a Sango, no entanto, arrependida de seu ato, pediu ao pai que lhe enviasse a um lugar onde nenhum homem lhe enxergasse.
Obatalá deu-lhe o reino dos mortos. Desde então é Yewá quem, no cemitério, entrega a Oyá os cadáveres que Obaluwaiê conduz para que Orisá-Okô os coma.

… Yewá é escondida por seu irmão Òsunmarè

Filha de Nanã também é Yewá. Yewá é o horizonte, o encontro do céu com a terra. É o encontro do céu com o mar. Yewá era bela e iluminada, mas era solitária e tão calada. Nanã, preocupada com sua filha, pediu a Orunmilá que lhe arranjasse um amor, que arranjasse um casamento para Yewá. Mas ela desejava viver só, dedicada à sua tarefa de fazer criar a noite no horizonte, mandando sol com a magia que guarda na cabeça ado. Nanã, porém, insistia em casar a filha.

Yewá pediu então ajuda a seu irmão Òsunmarè. O Arco-Íris escondeu Yewá no lugar onde termina o arco de seu corpo. Escondeu Yewá por trás do horizonte e Nanã nunca mais pôde alcançá-la. Assim os dois irmãos passaram a viver juntos, lá onde o céu encontra a terra. Onde ela faz a noite com seu ado.

… Yewá é presa no formigueiro por Omulu

Yewá era uma caçadora de grande beleza, que cegava com veneno quem se atrevesse a olhar para ela. Yewá casou-se com Omulu, que logo demonstrou ser marido ciumento.

Um dia, envenenado pelo ciúme doentio. Omulu desconfiou da fidelidade da mulher e a prendeu num formigueiro. As formigas picaram Yewá quase até a morte e ela ficou deformada e feia. Para esconder sua deformação, sua feiúra, Omulu então a cobriu com palha-da-costa vermelha. Assim todos se lembrariam ainda como Yewá tinha sido uma caçadora de grande beleza.

… Yewá casa-se com Òsunmarè

Yewá andava pelo mundo, procurando um lugar para viver. Yewá viajou até a cabeceira dos rios e aí junto às fontes e nascentes e sua morada. Entre as águas Yewá foi surpreendida pelo encanto e maravilha do Arco-Íris. E dele Yewá loucamente se enamorou. Era Òsunmarè que a encantava. Yewá casou-se com Òsunmarè e a partir daí vive com o Arco-Íris, compartilhando com ele os segredos do universo.

… Yewá se desilude com Sòngò e abandona o mundo dos vivos

Yewá filha de Obatalá, viva enclausurada em seu palácio. O amor de Obatalá por ela era possessivo. A fama de sua beleza chagava a toda parte, inclusive aos ouvidos de Sòngò. Mulherengo como era Sòngò planejou seduzir Yewá. Empregou-se no palácio para cuidar dos jardins. Um dia Yewá apareceu na janela e deslumbrou-se com o jardineiro. Yewá nunca vira um homem assim tão fascinante.

Sòngò deu muitos presentes a Yewá. Deu-lhe uma cabaça enfeitada com búzios, com uma obra por fora e mil mistérios por dentro, um pequeno mundo de segredos, um adô. E Yewá entregou-se a Sòngò. Ele fez Yewá muito infeliz até que ela renegou sua paixão.

Decidiu se retirar do mundo dos vivos e pediu ao pai que a enviasse a um lugar distante, onde homem algum pudesse vê-la novamente. Obatalá deu então a Yewá o reino dos mortos, que os vivos temem e evitam. Desde então é ela quem domina o cemitério. Ali ela entrega a Oyá os cadáveres dos humanos, os mortos que Obaluwaye conduz a orisá Oco, e que orisá Oco devora para que volte novamente a terra, terra de Nanã de que foi um dia feito. Ninguém incomoda Yewá no cemitério.

… Yewá é expulsa de casa e vai morar no cemitério

Yewá era filha de Obatalá e vivia com seu pai em seu palácio. Era uma jovem linda, inteligente e casta. Yewá nunca havia demonstrado interesse por homem algum. Um dia, chegou ao reino um jovem de nome Boromu. Dias depois todos já cochichavam que Yewá estava enamorada do forasteiro. Obatalá riu-se da história, pois, confiava em sua filha. Obatalá garantiu que ela ainda era uma flor nova e não queria experimentar desse encanto.

Passado algum tempo, Yewá mudou. Tornou-se Yewá triste, distante, distraída. Obatalá fez tudo para fazer a filha novamente feliz. Obatalá enviou a filha à terra dos homens Ele não sabia que Yewá carregava um filho em seu ventre. Uma noite, Yewá sentiu as dores do parto e fugiu do palácio. Refugiou-se na mata, onde teve o filho. O rei foi informado do sumiço de Yewá e mobilizou todo o reino para encontrar sua filha. Boromu soube da fuga e partiu para procurá-la. Acabou por encontrar Yewá desfalecida no chão de terra, coberta apenas por uma saia bordada com búzios. Yewá despertou e contou-lhe o ocorrido. Fugira com vergonha de apresentar-se ao rei. Yewá sentiu então falta do rebento e perguntou por ele a boromu.

Boromu, querendo que Yewá retornasse ao palácio, escondera o recém-nascido na floresta. Mas quando o procurou já não mais o encontrou. Pois, perto do lugar onde deixou o filho, vivia Iemanjá. E Iemanjá escutou o pranto do bebê, recolheu-o e prometeu criá-lo como se fosse filho seu. Yewá nunca mais encontrou seu filho.

Tempos depois, Yewá foi ao palácio pedir perdão ao pai, mas o rei ainda estava irado e a expulsou de casa. Naquele dia Yewá partiu envergonhada. Cobriu o seu rosto com a mesma saia bordada de búzios e foi viver no cemitério, longe de todos os seres vivos. Nunca mais viu seu filho. Ele foi criado por Iemanjá, que deu a ele o nome de Sòngò. Ninguém sabe quem é a mulher do cemitério. De onde vem e por que ali está. Tudo o que ocorreu é o seu segredo.

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OBÁ

Obá

É a princesa guerreira, Orisá feminino dos Nagos (Iorubá). Em toda a África Obá era cultuada como a grande deusa protetora do poder feminino, por isso também é saudada como Iyá Agbá, e mantém estreitas relações com as Iya Mi. Era uma mulher forte, que comandava as demais e desafiava o poder masculino. Terceira mulher de Sàngó, depois de Oya e Osun. Considerada por alguns como a irmã de Oyá. Ela desafiou e venceu as lutas, sucessivamente contra Osalá, Sòngó e Orunmilá. Obá era uma mulher vigorosa e cheia de coragem. Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento. Mas ela não temia ninguém no mundo. Seu maior prazer era lutar. Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão. Obá saiu vencedora de todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orisás. Ela derrotou Obatalá, tirou Osòósi de combate, deixou no chão Orunmilá. Osumarè não resistiu à sua força. Ela desafiou Obaluwayê e botou Esú prá correr. Guerreira, veste vermelho e branco, usa escudo e lança. Altiva, sombria e muito respeitada.

Obá é a representação dos ancestrais femininos, anciã e guardiã da sociedade Eleekô. Está associada à água e à cor vermelha. Representa o mais antigo e arcaico. Símbolo genitor, capaz de grandes sacrifícios próprios, lutadora, guerreira e companheira inseparável de L’Oya.

– Obasy, rio revolto
– Obasy, mística e idosa, com bons costumes, porém, grosseira.
– Obasy, mulher valente, orisá de uma orelha só.
– Obasy, quando em fúria transborda, agita-se.

Obasy é a senhora da sociedade elekoo, porém no Brasil esta sociedade está muito restrita, sendo assim, esta sociedade passou a cultuar egungun. Deste modo, obasy é a senhora da sociedade lese-orisá.

Tudo relacionado à Obasy é envolto em um clima de mistérios, e poucos são os que entendem seus atos aqui no Brasil. Certas pessoas a cultuam como se fosse da família JI, ao passo que outras a cultuam como se fosse um Sòngo fêmea. Obasy e Yewa são semelhantes, são primas e ambas possuem oro omi osun. Obasy usa a festa da fogueira de Sòngo para poder levar suas brasas para seu reino, desta forma é considerada uma das esposas de Sòngo mais fieis a ele.

OBA é ORISÁ ligado a água, guerreira e pouco feminina. Suas roupas são vermelhas e brancas, leva um escudo, uma espada, uma coroa de cobre. Conta e lenda que OBA, foi repudiada por SÒNGO. Vivia sempre rondando o palácio para voltar.

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Osun

>>> OSOGBO – O REINO DE OSUN <<< A festa anual das oferendas a Osun, realizada em Osogbo na Nigéria é uma re-atualização do pacto que o primeiro rei local contraiu com o rio do mesmo nome. “Laro”, o antepassado … Continuar lendo

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SÒNGO

 

Deus do raio, do trovão, da justiça e do fogo. Sóngo é símbolo do Oba do Benin. É o deus do raio e do trovão. Contrariamente a Ògún (Deus dos Ferreiros) que emprega o fogo. Sóngo manipula o fogo em estado selvagem, o fogo que os homens não sabem utilizar. É um orisá temido e respeitado, é viril e violento, porém justiceiro. Costuma se dizer que Sòngo castiga os mentirosos, os ladrões e malfeitores. Seu símbolo principal é o machado de dois gumes. Deus do fogo, que pune aos que lhe querem mal com febres e ervas que lhe são atribuídas. Joga sobre os inimigos sua bola de fogo através dos raios, chamadas edunara (pedra de raio que representa o corpo de SÓNGO, seu símbolo por excelência, pela mitologia do elemento procriado por um lado e que irmana SÓNGO a Esú por outro lado). Sua dança preferida é o Alujá, apresentado com toques diferentes, a dança do machado, a dança da guerra. Branda orgulhosamente o seu Osè (uma de suas armas) e assim, na cadência, faz o gesto de que vai pegar as pedras de raio e lançá-las sobre a terra, demonstrando seu lado atrevido. Em certas festas traz sobre a cabeça uma gamela de madeira, que contém fogo que começa a engolir, revelando a origem de seu fundamento.

Osé, usado na Dança de Sòngo  

Tudo que se refere a estudos, a justiça, demandas judiciais, ao direito, contratos, pertencem a Sòngo. Ambicioso, chega ao poder destronando seu meio irmão Ajaká. Passa, então, a reinar com autoritarismo e tirania, não admitindo que sua atitudes fossem contestadas, o que possivelmente levou-o a cometer injustiças em suas decisões. Usa o poder do fogo como seu símbolo de respeito. Galante e sedutor, desperta a paixão da divindade Oyá(sua esposa).

Circulam a seu respeito, às vezes contradições, mas todos são unânimes em reconhecer seu caráter violento e fogoso. Mesmo se ignoradas em seus detalhes constatamos que sua magia profunda consiste em suprir a tempo os acontecimentos que se superpõem, ao invés de desenrolarem-se ao longo tempo linear e irreversível, ao longo de um tempo mensurável. Seu tempo não tem começo e nem fim, é um tempo reversível que supre sua duração.

Sóngo pode estar morto no rio e ao mesmo tempo estar vivo diante do rei. Está morto… e morto estar vivo. Nele as oposições existem simultaneamente. Para o ser humano tal situação é ambígua e fora de lógica, dois termos contraditórios excluem um ao outro na sincronia. Na lógica de SÓNGO os dois coexistem, pois ela é caracterizada pela sincronia e pela inter-polaridade. Mortal em seu corpo, imortal em sua essência, o OBA de BENIN é o único soberano de dupla natureza: humana e divina.”Sòngo, como todos os outros imolè (orisás e ebora), pode ser descrito sob dois aspectos: histórico e divino.”

Como personagem histórico,

Sòngo teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, “Rei de Oyó”, filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian. Sòngo cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes não o aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Oba Kòso, que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì. Dadá-Ajaká, filho mais velho de Oranian, irmão consanguíneo de Sòngo, reinava então em Oyó. Dadá é o nome dado pelos iorubás às crianças cujos cabelos crescem em tufos que se frisam separadamente. “Ele amava as crianças, a beleza, e as artes; de caráter calmo e pacífico… e não tinha a energia que se exigia de um verdadeiro chefe dessa época”. Sòngo o destronou e Dadá-Ajaká exilou-se em Igboho, durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então, em usar uma coroa feita de búzios, chamada adé de baáyàni. Depois que Sòngo deixou Oyó, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele mostrou-se agora valente e guerreiro, voltou-se contra os parentes da família materna de Sòngo, atacando os tapás.
KÁ WÒÓ, KÁ BIYÈ SÍLE : Podemos olhar vossa real majestade.

 Sòngo, no seu aspecto divino,

Permanece filho de Oranian, divinizado porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas: Oyá, Osum e Obá. Sòngo é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma, uma casa atingida por um raio é uma casa marcada pela cólera de Sòngo. O proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orisá que vêm procurar nos escombros os èdùn àrá (pedra de raio) lançados por Sòngo e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido. Esses èdùn àrá (na realidade, machado neolíticos) são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó), consagrado a Sòngo. Tais pedras são consideradas emanações de Sòngo e contém o seu àse (axé), o seu poder. O sangue dos animais sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhes a força e o poder. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo sacrifício mais lhe convém.

Fazendo-lhe também oferendas de amalá, iguaria preparada com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos e pimenta. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie sèsé. Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à mesma proibição.

Na Bahia, diz-se que exitem doze Sòngos: Dadá; Oba Afonjá; Obalubé; Ogodô; Oba Kossô; Jakutá; Aganju; Baru; Oranian; Airá Intilé; Airá Igbonam, e Airá Adjaosi. Reina uma certa confusão nessa lista, pois Dadá é irmão de Sòngo; Oranian é seu pai, e Aganju, um de seus sucessores. Também na Bahia acredita-se que Ogodô é originário do território Tapá, e que segura dois “osès” quando dança, sendo o seu èdùn àrá composto de dois gumes. Os Airá seriam Sòngos muito velhos, sempre vestidos de branco e usando contas azuis (segi) em lugar de corais vermelhos, como os outros Sòngos. Ao que parece, teriam vindo da região de Savé.

O que notamos nesse primeiro período yorubano, é que na realidade, o que se fala de Sóngo, e a sua história nos Candomblés do Brasil, e de outros acima descritos, é incorreto, levando os fiéis a crer em fatos irreais.

O que notamos é uma irrealidade neste aspecto, pois tendo sido Sòngo divinizado, esta lista de ‘qualidades’ se torna irreal, Sóngo é Sóngo e ponto final.Quanto a Sóngo, demonstramos que foi um mortal em sua vida no Àiyé, portanto quando morreu, tornou-se um egún, pois seus pais eram mortais. O que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a única que o acompanhou em sua fuga de Oyó, era a divindade Oyá, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè, e por insistência de Oyá, Ele o “ressuscita” como uma divindade, já que em vida, Oyá, perdida de amores, ensina-lhe vários segredos dos Òrìsà, principalmente o segredo do fogo que pertencia somente a Oyá, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por paixão.

Esta afirmação é facilmente notada, pois Sóngo é a única divindade do panteão que é assentada de forma material completamente diferente, isto é, em madeira, numa gamela sobre um pilão, sua roupa ritual é composta de várias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bàbá Egúngún (ancestrais) e seu animal preferido para sacrifício é também o mesmo dos egún, dos mortos comuns, o carneiro; existe também outras minúcias, que aqui não cabe mencionar.

Nos Candomblés, citam Ajaká e Aganju como sendo “qualidades” de Sóngo, que agora sabemos isto não é possível, pois, Ajaká é seu meio irmão e Aganju é filho de Dadá Ajaká, portanto seu sobrinho, notoriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da família de Sóngo, mas não tiveram a honra de tornarem-se Òrìsà, mas são ancestrais ilustres. Também no Brasil, faz-se uma cerimônia chamada de “Coroa de Dadá” ou “Adê Baiani”. que a coroa é levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo de Sóngo chamada de Banni ou lyamasse, que representa a mãe de Sóngo. Ora, sabemos que quem usou este ade foi, Ajaká, apelidado de Dadá, de quem Sóngo lhe roubou o trono, e que a mãe de Sóngo foi Torosí, filha de Elémpe, rei dos Tapa, e que ela não tem nenhuma importância teológica, somente histórica, por ter sido mãe de um Aláàfin.

Não estamos desmerecendo e nem tampouco desprestigiando o Òrìsà Sóngo, somente tentamos elucidar fatos notoriamente conhecidos na terra dos Yorubas, sob os aspectos histórico, através da tradição oral, e divino que se convergem e se conservam na grandiosidade de Sóngo.

NOTA* : Os mitos e/ou fatos relatados, são baseados em dados religiosos, por vezes dogmáticos, que pertencem ao corpo da tradição oral yorubana. Sob o ponto de vista cientifico, são considerados parcialmente históricos, pois não são dados comprovados por documentos e nem tampouco pela arqueologia, que pouco investiu, os “pouquíssimos”artefatos que foram achados e datados pelo carbono 14, são de datas recentes, perto da longínqua História da Civilização Yoruba. No contraponto, em nenhum momento afirmamos que não exista a História dos Yorubas, isto sim, seria um absurdo afirmar. A tradição oral pode ser contraditória e a cronologia praticamente inexistente, pela forma cultural dos yorubas mensurarem o tempo, mas jamais poderá ser negligenciada e nem tampouco rejeitada.

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TÁ NA HORA DE APRENDER?

TÁ NA HORA DE APRENDER?

Sempre imagino o se passa na cabeça de um neófito ou iniciado, durante qualquer rito que se faça na minha casa.

As vezes pego aqueles olhinhos aguçados, como uma criança desejando um doce, me pergunto o que será que ele está esperando de mim agora?

Um chamado, um informe, um aprendizado?

A única certeza que eu tenho é que essa pessoa precisa aprender.

Como eu pratico a religião tradicional Yoruba e não o Candomblé, fico a vontade para comentar esse assunto embora tenha uma grande consideração com a religião afro-brasileira, porque fui iniciado nela.
Primeiramente é bom que as pessoas fiquem sabendo que em território yoruba não existe obrigação de um ano, de 3 anos,  de 7 anos e muito menos a tal loucura dos 21 anos. Todo iniciado recebe junto com seu orisa o seu jogo de búzios e não existe esse festival de cargos como em nosso país, que quando o sacerdote fica em dúvida, coloca a pessoa imediatamente como Ogan ou Ekedji. Cargos esses que em muitos lugares do território Yoruba nunca ninguém ouviu falar, pelo menos não por esse nome, existe sim Alabe, Onilú e outras funções.
Essa coisa de que agora não é hora é complicado, quando então seria a hora?
Nesse caso fico com uma frase de dona Estela de Osossi que diz “Meu tempo é agora.”.
Eu pessoalmente acredito que toda pessoa que pratica a história do depois, tem um ou outro problema, ou não sabe, ou tem insegurança sobre o que sabe e se a procedência é verdadeira. O que é o mais comum, o tal de ouvi falar, muito usado no dia-a-dia.
Fica então um alerta nos dias de hoje, se não nos propomos a ensinar nossos filhos, a internet o fará. E será que ele terá condições de eleger os melhores textos para ler?
Com certeza a nossa religião perde muito no dia de hoje, mas estamos perdendo tanto e a tanto tempo que a grande maioria das pessoas já se acostumou a serem perdedores.

 Pense nisso.

 Asé o.

Texto partilhado com o Awo Gilmar OfunOyeku

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POLÊMICAS QUALIDADES DE ORISA

POLÊMICAS QUALIDADES DE ÒRÌSÁ.

Existe sem duvida no Brasil uma questão muito polêmica sobre as multiplicidades dos orisá chamada por todos de qualidade de santo.

Primeiro na África fica mais fácil o entendimento porque não há qualidade de Orisa, ou seja, em cada região cultua-se um determinado orisa que é considerado ancestral dessa região e, alguns orisá por sua importância acabam sendo conhecido em vários lugares como é o caso de

Sàngó, Orumila, etc. são de se saber que Esu é cultuado em todo território africano.

Veja bem: Osun da cidade de Osogbo é Osun Osogbo, da região de Iponda é a Osun de Iponda, Ogún da região de ire é Ogún de Ire (Onire: chefe de ire), do estado de Ondo é Ogún de Ondo, etc.

Na época do tráfico de escravos veio para o Brasil diversas etnias Ijesa, Oyo, Ibos, Ketu, etc e cada qual trouxeram seus costumes juntos com seus orisa digamos particulares, e após a mistura dessas tribos e troca de informações entre eles cada sacerdote ou quem entendia de um determinado orisa trocaram fundamentos e a partir daí surge às qualidades, e essa quantidade de orisa presente aqui no Brasil, sendo que o orisa é o mesmo com origens diferenciadas.

É claro que por ter origens diferenciadas seus cultos possuem particularidades religiosas e até mesmo culturais, por exemplo, Oyá Petu tem seus fundamentos assim como Oyá Tope terá o seu, isso nada mais é, que uma passagem do mesmo orisa por diversos lugares e cada povo passou a cultuá-lo de acordo com seus próprios costumes. Um exemplo mais nítido é que aqui

fazemos muitos pratos para Osun com feijão fradinho, entretanto num determinado país não há esse feijão portanto foi substituído por um grão semelhante e assim puderam continuar com o

culto a Osun sem a preocupação de importar o feijão fradinho.

Polêmica Qualidades de Orisa

 

Outro exemplo de orisa transformado em qualidade no Brasil é Osun kare, Kare é uma louvação à Osun quando se diz: Kare o Osun! A palavra kare também é uma espécie de bairro na África, logo Osun cultuada em kare é Osun kare, e por vai surgindo desordenadamente essa quantidade de orisa aqui no Brasil. Imagine um rio que atravessa todo território Nigeriano

e, em suas margens diversas etnias que num determinado local algumas pessoas diria que ali é a morada de Osun Ijimu (cidade de Ijumu na região dos Ijesa), mais para frente em Iponda diria aqui é a morada de Osun Iponda, mais para frente, em Ede esse rio terá o culto de Ologun Ede, o chefe de guerra de Ede segundo sua mitologia, e serão diversos orisá cultuados num mesmo rio por diversas etnias com pequenas particularidades. Isso acontece com todos orisá e suas mitologias fazem alusão a essas passagens e constantes peregrinação de seus sacerdotes quer por viagens comercias ou por guerras inter-tribais sempre espalharam seus

orisá em outras regiões.

Outro fato interessante é títulos que algumas divindades possuem e foram transformadas em qualidades, por exemplo, Osòósi akueran, akueran é um titulo de um determinado caçador (ancestral) com isso vamos à próxima edição analisar esses fatos e informar todas as qualidades

de orisa da nação keto que o sacerdote pode ou não mexer de acordo com o conhecimento de cada um, pois o nosso dever é informar sem a pretensão de nunca ser o dono da verdade Na próxima edição vamos diferenciar, títulos de nomes de cidades, nomes tirados de cânticos que as pessoas insistem em dizer que é qualidade de orisa.

SOBRE A MULTIPLICIDADE DOS ORISA.

 

Vamos separar a qualidade como é chamada no Brasil (em Cuba chama-se caminhos), dos títulos e de nomes tirados de cantigas como insistem pseudo sacerdotes. Já sabemos que os orisa são venerados com outros nomes em regiões diferentes como: Iroko (Yoruba), Loko (Jeje), Sango (Oyo), Oranfe (Ife), isso torna o culto diferente. Temos também o segundo nome designando seu lugar de origem como Ogun Onire (Ire), Osun Kare (Kare), etc, também temos

os orisa com outros nomes referentes as suas realizações como Ogun Mejeje refere-se as lutas contra as 7 cidades antes dele invadir Ire, Iya Ori a versão de Iyemonja como dona das cabeças, etc. Há portanto uma caracterização variada das principais divindades, ou seja, uma mesma divindade com vários nomes e, é isso que multiplica os orisá aqui no Brasil

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Reencarnação – Àtúnwa

Há diferentes caminhos para os antepassados voltarem a terra, e um dos mais comuns é que a alma seja reencarnada e nascida como um neto, bisneto, bisneta, etc… De um filho ou filha dos antigos pais, ou seja, processo de ida e vinda se dá entre o meio familiar do qual era oriundo. A isto é dado o nome de Àtúnwa (Reencarnação), aquele ou aquela que volta novamente. O mundo, segundo os yorubá, é o melhor lugar onde vivemos.

Isso é contrário ao ponto de vista de algumas tradições religiosas, que consideram o mundo um lugar de sofrimento e dor. Existe um forte desejo por parte do ser vivo, em veres reencarnados seus pais logo depois da morte deles. Daí a expressão Babá / Ìyá á yà á tètè yà o – “Que seu pai ou sua mãe venha logo”.

Este desejo é observado quando do nascimento, Ìbí, de uma criança; aos três meses de idade, um Babalawo é consultado para saber qual o antepassado que foi reencarnado, se a linhagem paterna ou materna. Esse ritual é conhecido como Mimò orí omo “Conhecendo o orí da criança” ou Gbígbó orí omo – “Ouvindo o orí da criança”. É verificado o seu Orixá, seus éwò, tabus, e o tipo de espírito encarnado (Àbìkú etc.) A partir deste conhecimento, um determinado nomes passará a fazer parte de seu nome civil para lembrar constantemente à criança a sua origem. A reencarnação de um ancestral é conhecida pelo nome de Yíya omo – “Voltar a ser criança ou tornar a encarnar”.

Ao se constatar o fato, o nome da criança poderá ser alusivo ao fato. Alguns nomes yorubá evidenciam isto e relacionamos alguns: Babátúndé – o pia voltou, ou seja, um ancestral de linhagem paterna, Ìyátúndé – a mãe voltou, Babájídé – papai acordou e chegou Ìyábò – a mãe retornou Omotúndé – a criança voltou de novo.

Nesta visão da concepção yorubá sobre a reencarnação devemos salientar que, apesar de uma criança ser chamada de Babátúndé, o espírito do antepassado ainda continua a viver no mundo espiritual, onde é invocado de tempos em tempos. Em face disso, alguns entendem que, na verdade, há uma reencarnação parcial.

Os vivos ficam satisfeitos ao verem parte de seus ancestrais nos filhos recém-nascidos, mas, ao mesmo tempo, são felizes por saberem que eles se acham no mundo espiritual, onde têm maior potencialidade no auxílio de seus familiares na terra.

“A religião dos yorubá torna-se gradualmente homogênea, e sua atual uniformidade é o resultado de uma longa evolução e da confluência de muitas correntes provindas de muitas fontes. Seu sistema religioso se baseia na concepção de que cada ser humano é um representante do deus ancestral. 

A descendência é através da linha masculina. Temos os membros da mesma família, é a posteridade do mesmo deus. Assim família é a posteridade do mesmo deus. Assim que eles morrem, retornam a esta divindade e cada criança recém-nascida representa o novo nascimento de um membro falecido da mesma família. O Orisa é o agente da procriação que decide sobre a aparição de toda criança. “

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ÒSUNMÀRÈ

Filho de nanã

Nanã, obcecada pela idéia de ter um filho de Óòsàálá, concebeu o primogênito Obaluwaiye que, por sua terrível aparência, foi desprezado por ela. Nanã consultou ifá, e este Orisá lhe disse que, numa segunda tentativa, ela daria a luz a um filho lindíssimo, tão formoso quanto o arco-íris. No entanto, preveniu-a sobre o fato que a criança jamais ficaria a seu lado.
Seu sonho parecia realizado até o momento do parto, quando deu a luz a um estranho ser que recebeu o nome de Òsunmarè. Durante seis meses a criatura tomava a forma de arco-íris, cuja função era levar a água para o castelo de Óòsàálá, que morava em orun (no céu). Depois de cumprida a tarefa, ele voltava a terra por outro seis meses, assumindo a forma de uma cobra.

Com essa aparência, ao morder a própria cauda, dando a volta em torno da terra, ele teria gerado o movimento de rotação, bem como o transito dos astros no espaço. É um Orisá que representa polaridades contrárias, como o masculino e o feminino, o bem e o mal, a chuva e o tempo bom, o dia e a noite, respectivamente, através das formas do arco-íris e serpente.

… Rei dos Jeje

Òsùmàrè, filho de Nanã, nasceu com o destino de serem seis meses um monstro com esse nome, e seis meses uma linda mulher chamada Bessem. Aos poucos Bessem revoltou-se com sua mãe Nanã, pois não conseguia ter um amor que durasse por muito tempo. Seu companheiro sempre desaparecia quando ela se transformava em monstro.
Um dia Òsùmàrè encontrou Esú e este, como sempre apreciou criar discórdias, semeou um conflito entre o deus do arco-íris e a velha Nanã, aconselhando Osunmaré a tomar a coroa do reino de jeje, que pertencia a Nanã.
Òsùmàrè foi ao palácio de Nanã aterrorizando a todos. Nanã suplicou-lhe que não matasse ninguém, tentando dissuadir o filho de seu intento. No entanto acabou entregando-lhe sua coroa de rainha. Desde então Òsùmàrè reina sobre os jejes, no entanto continua sendo um monstro chamado Osunmaré e uma linda mulher chamada Bessem.

… O consultor dos orisás

Irmão gêmeo de Ewá e tendo como irmãos mais velhos Òsonyin e Obaluwaye – todos os filhos de Nanã – Osumare sempre foi franzino, mas dotado de grande inteligência e capacidade. Um dia frente a frente com OLOKUM, pai de Yemonjá, perguntou-lhe como poderia achar pedras brilhantes, preciosas. “Osumare pensou e respondeu: Senhor dos Oceanos, é preciso que faças um investimento, me dando seis mil búzios (moeda corrente)”. “Sim respondeu, Olokum”. Osumare apontou para a própria casa de Olokum, o mar, explicando-lhe que nas partes rasas poderia encontrar o que procurava. Olokum ficou tão feliz que deu à ele, além dos seis mil búzios, a capacidade de transformar-se em serpente e poder, com a ponta do rabo tocar a terra e com a cabeça tocar o céu. Com tal poder Osumare transformou-se em serpente esticou-se até a terra de Olorum, no céu e com os seus seis mil búzios falou ao criador: -“Pai cheguei até o Senhor. Tive de esticar-me demais para pedir-lhe ajuda, para fazer de mim aquele que tem capacidade de dobrar tudo que tem”. E Olorum dobrou o número de búzios de seis para doze mil. Daí pra frente Osumare passou a ser consultado sobre os grandes negócios. Sòngo fez dele seu consultor e grande conselheiro, aumentando sua riqueza de Deus do Trovão, ao mesmo tempo que a do próprio Osumare. Este poder de se transformar em serpente e ir até o céu deu origem a um Oriki (Poema) muito bonito: “Osumare egó bejirin fonná diwó – O Arco-Íris que se desloca com a chuva e guarda o fogo no punho!”

… A armadilha

Certa vez, Sòngo viu Òsùmàrè passar, com todas as cores de seu traje e todo o brilho de seu ouro. Sòngo conhecia a fama de Òsùmàrè não deixar ninguém dele se aproximar.
Preparou então uma armadilha para capturar Òsùmàrè. Marcou uma audiência em seu palácio e, quando Òsùmàrè entrou na sala do trono, os soldados chamaram para a presença de Sòngo e fecharam todas as janelas e portas, aprisionando Òsùmàrè junto com Sòngo.
Òsùmàrè ficou desesperado e tentou fugir, mas todas as saídas estavam trancadas pelo lado de fora. Sòngo tentava tomar Òsùmàrè nos braços e Òsùmàrè escapava, correndo de um canto para outro. Não vendo como se livrar, Òsùmàrè pediu a Olorum e Olorum ouviu sua súplica. No momento em que Sòngo imobilizava Òsùmàrè, Òsùmàrè foi transformado numa cobra, que Sòngo largou com nojo e medo. A cobra deslizou pelo chão em movimentos rápidos e sinuosos.
Havia uma pequena fresta entre a porta e o chão da sala e foi por ali que escapou a cobra, foi por ali que escapou Òsùmàrè. Assim livrou-se Òsùmàrè do assédio de Sòngo. Quando Òsùmàrè e Sòngo foram feitos Orisás, Òsùmàrè foi encarregado de levar água da Terra para o palácio de Sòngo no Orum, mas Sòngo não pode nunca aproximar-se de Òsùmàrè.

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EWE II PARTE

Akoko “Akoko” ou Primeira-folha
Newboldia laevis Seem, Bignoniaceae
Irokò “Gameleira” “Gameleira-branca”
Clorophora excelsa, Moraceae ou Ficus doliaria, Moraceae
Odundum “Folha-da-costa”, ou “Saião”
Kalanchoe brasiliensis, Crassulaceae
Imu “Begônia ou Azedinha”
Begônia cucculata, Begoniaceae
Awurepepe “Pimentinha-d’água”
Spylanthes acmella, Asteraceae
Osibatá “Baronesa”
Nymphaea lotus, Nymphaeaceae
Oju Orò “Erva-de-santa-luzia”
Pistia stratiotes, Araceae
Misi misi “Vassourinha-de-relógio” ou “Vassourinha-mofina”
Scoparia dulcis, Scrophulariaceae
“ Ida Oyá” Espada-de-iansã”
Tradescantia spathacea, Commelinaceae
Owu “Algodão”
Gossypium sp., Malvaceae
Gboro ayagbá, “Salsa-da-praia” ou kissajá
Ipomea asarifolia, Convolvulaceae
Orinrin “Alfavaquinha-de-cobra”
Peperomia pellucida, Piperaceae
Etinpolá “Erva-tostão”, “Bredo-de-porco”, “Pega-pinto” ou “Tangaraca”
Boerhavia diffusa, Nyctaginaceae
Teteregun “Cana-do-brejo”
Costus spicatus, Costaceae
Tótó “Água-de-alevante” ou “Colônia”
Renealmia brasiliensis, Zimgiberaceae
Igi Opé “Dendezeiro”
Elaeis guineensis,Arecaceae
Ogbó “Orelha-de-macaco”
Niervillia umbrosa, Orchidaceae
Ewe Abebé “Capitãozinho”
Hydrocotyle bonariensis,Araliaceae
Ewe jeje “Jequiriti”
Abrus precatorius, Fabaceae
Alukeresé “Dama-da-noite”
Ipomea bona-nox, Convolvulaceae
Ewê boyí funfun “Bétís-branco”
Piper rivioides, Piperaceae
Jogbò “Neves-folha” ou “Neves”
Hyptis pectinata, Lamiaceae
Efirin “Manjericão”
Ocimum basilicum, Lamiaceae
Sunkawa “Arrozinho”
Zornia reticulata, Fabaceae
Ifin funfun “Malva-branca” ou “malva”
Abutilon x. hybridus, Malvaceae
Tamande “Arnica-do-campo”
Solidago microglossa, Asteraceae
Ewe odã “Erva-silvina” ou “Erva-fetos”
Polypodiumvulgare, Polypodiaceae
Amunimuyê “Balainho-de-velho”
Centhratherum punctatum, Asteraceae
Solé “Maria-preta”
Eupatorium ballotaefolium, Asteraceae
Iyabeyin “Mãe-boa”
Ruellia geminiflora, Acanthaceae
Ewe ajè “Erva-da-riqueza”
Alternanthera tenella, Amaranthaceae
Godogbodó “Trapoeraba”
Commelina diffusa, Cammelinaceae
Ewê Iyá “Capeba”
Potomorphe umbellata, Piperaceae
Wuê mimolé “Brilhantina”
Pilea microphylla, Urticaceae
Ejá Omodé “Aguapé”
Eichornia crassipes, Pontederiaceae
Tete ou ewe tete “Bredo” ou “Caruru-sem-espinho”
Amaranthus viridis, Amaranthaceae
Makasá ou Macassá, “Catinga-de-crioula” ou “Catinga-de-mulata”
Hyptis mollissima benth, Lamiaceae
Eré tuntún “Levante-miúda” ou “Levante”
Mentha citrata, Lamiaceae
Tanaposó “Bonina”
Mirabilis jalapa, Nyctaginaceae
Ewe minas “Pára-raio” ou “Cinamomo”
Melia azedarach, Meliaceae
Ewe diji ou Ewe ojé “Erva-prata”
Solanum argenteum, Solanaceae
Okpá orô “Capianga”
Vismia guyanensis, Clusiaceae
Botujé “Pinhão-branco”
Jatropha curcas, Euphorbiaceae
Ewe inon “Folha-de-fogo”
Clidemia hirta, Melastomataceae
Ajagbaò “Tamarineiro”
Tamarindus indica, Fabaceae
Gbji “Capim-de-burro”
Cynodon dactylon, Poaceae
Okowô “Erva-vintém”
Drymaria cordata, Caryophyllaceae
Ogbe akunko “Crista-de-galo”
Heliotropium indicum, Boraginaceae
Ajobi funfun “Aroeira-branca”
Schinus molle, Anacardiaceae
Ipesã ou ipesanhe “Birrero ou Bilreiro”
Guarea trichilioides, Meliaceae
Omun “Samambaia-de-poço”
Lygodium polimorphum, Schyzacaceae
Peregun ko “Dracena-listrada”
Dracaena fragrans var. massangeana, Ruscaceae
Pèrègún “Peregun” ou “Nativo”
Dracaena fragrans var. typica, Ruscaceae
Ewê bajutoná “Erva-pombinho” ou Quebra-pedra
Phyllanthus niruri, Phyllanthaceae
Kunkundukunku “Batata-doce”
Ipomoea batatas, Convolvulaceae
Alukpayidá “Língua-de-galinha”
Uraria picta, Fabaceae
Awian “Cascaveleira” ou xiquexique
Crotalaria retusa, Fabaceae
Afon “Espelina-falsa”
Clitoria guyanensis, Fabaceae
Atorinã “Sabugueiro”
Sambucus australis, Adoxaceae
Bujé “Jenipapo” , “Genipapero” ou “Janipapeiro”
Genipa americana, Rubiaceae
Igba ajá “Jurubeba”
Solanum paniculatum, Solanaceae
Iteté “Janaúba” ou “Agoniada”
Plumeria rubra var. lancifolia, Apocynaceae
Etítáré “Maricotinha” ou “Alfavaca-de-cobra”
Monnieria trifolia, Rutaceae
Odé okosu “Caiçara”
Solanum erianthum, Solanaceae
Ewê lará “Mamona-branca”
Ricinus communis, Euphorbiaceae
Ewê Odé “Carrapicho-beiço-de-boi”
Desmodium adscendens, Fabaceae
Ojusaju “Guiné-tupi”
Petiveria alliacea, Phytolaccaceae
Okiká “Cajazeira”
Spodia mombin, Anacardiaceae
Ewuro “Alumã” ou “Alumon”
Vernonia bahiensis, Asteraceae
Atoribé “Milhomens ou Milomens”
Aristolochia gigantea, Aristolochiaceae
Ida orisá “Espada-de-ogun”
Sansevieria zeilanica, Ruscaceae
Labelabe “Tiririca”
Fuirena umbellata, Cyperaceae
Elesu “Arrebenta-cavalo”
Solanum capsicoides, Solanaceae
Falákálá “Corredeira”
Chamaescyce hirta, Euphorbiaceae
Esisi “urtiga graúda”
Laportea aestuans, Urticaceae
Jojofá “Cansanção (planta)”
Urera baccifera, Urticaceae
Autor desconhecido
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CONHECENDO ODU

Por Awo Gilmar Ofunoyeku. A intenção, quando da criação desse texto chamado búzio para iniciantes, em nenhum momento foi de ensinar as pessoas como jogar; a idéia é falar sobre a dualidade e o odu. Fato esse ignorado por muitos em nosso país. … Continuar lendo

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EEGUNGUN

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Na  cultura  yoruba a morte é encarada com naturalidade, o povo deste território tem uma forma bem clara para definir esse momento ,a morte não representa o fim, ela representa  sim o começo de um novo ciclo.  A morte não é … Continuar lendo

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AJÈ SALUGA

Orisa da riqueza Nos dias de hoje cresce o numero de pessoa que pedem explicação sobre esse orisa, não é para menos todos precisamos de dinheiro, embora a riqueza para o povo yoruba seja considerada de forma bem mais ampla … Continuar lendo

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QUALIDADE DE ORISÁ ?

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Qualidade de orisa Criatividade brasileira ou incapacidade dos sacerdotes de entenderem o óbvio. Quando os Orisas chegaram ao Brasil vieram pelas mãos de escravos oriundos de várias partes do território Yoruba.  Evidentemente isso gerou alguns problemas, entre esses podemos citar, a … Continuar lendo

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ORÍ

UM BREVE ENSAIO SOBRE…” ORÍ ”

UMA DAS MAIS IMPORTANTES DIVINDADES NA COMPREENSÃO DAS CRENÇAS YORUBÁS É ORI. ORI É O GUIA DE CADA UM E DE TODOS PARA O SUCESSO NESTE MUNDO E TAMBÉM NO OUTRO (CÉU-ORUN). ORI É O ORISÁ SUPREMO QUE SOMENTE SE ABAIXA PARA OLODUMARÈ (OLORÚN).

MUITAS PESSOAS, NESTE PAÍS, ENVOLVIDAS NESTA RELIGIÃO, NÃO TÊM CONHECIMENTO DE ORI. E UMA PESSOA SEM CABEÇA É UMA PESSOA SEM DIREÇÃO. DEVEMOS NOTAR QUE A CABEÇA É EM GERAL A PRIMEIRA A ENTRAR NESTE MUNDO, E É O RECIPIENTE OU RESIDÊNCIA DE TODAS AS ESCOLHAS (OPÇÕES).

QUEM É ESTE ORI?

ORI-ISESÉ (CABEÇA – O DESIGNANTE), TAMBÉM ORI-OORO (CABEÇA AO AMANHECER) ORI AKOKO (A PRIMEIRA CABEÇA) OU SIMPLESMENTE ORI (CABEÇA), É ESTE O PRIMEIRO E MAIS IMPORTANTE ORISÁ NO ORUN.

E POR CAUSA DE SEU LUGAR PRIMORDIAL, ORI-ISESÉ TEM JURISDIÇÃO SOBRE ORÍ-INÚ, QUE É A CABEÇA PESSOAL OU DIVINDADE POSSUÍDA POR CADA E TODAS AS PESSOAS E ORISÁ, PORQUE TAMBÉM OS ORISÁ TÊM SEU ORI INDIVIDUAL, OU ORI INÚ.

O PODER E AUTORIDADE QUE ORI POSSUI VEM DA CRENÇA QUE ORI-ISESÉ É O CRIADOR DE TODAS AS DIVINDADES, E SOB AS ORDENS DE ORI ELES FORAM MANDADOS AS VÁRIAS LOCALIDADES AONDE SE TORNARAM RESPEITADOS.
NA CRENÇA YORUBÁ, ORI É A RESIDÊNCIA DE CADA ESCOLHA DE REALIZAÇÃO NA FORMA EM QUE LUTAM PARA ALCANÇAR SEU DESTINO. ALGUMAS VEZES É CHAMADA DE ORÍ-INÚ OU CABEÇA INTERNA OU DESTINO. HÁ TAMBÉM UM ORI ODE OU CABEÇA FÍSICA, AONDE ORI INÚ RESIDE. O CONTRAPONTO DE ORÍ-INÚ NO ORÚN SERIA ORI ISESÉ.

DEVIDO AS CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA CRIAÇÃO, TODOS OS ORISÁ TEM DE PRESTAR HOMENAGEM A ORI. TODAS AS CABEÇAS FEITAS NO CULTO OU DEVOTO TÊM DE TOCAR A TERRA COM A TESTA COMO UM ATO DE RESPEITO AO PRIMEIRO ORI. NO NASCIMENTO (PARTO), A CABEÇA FÍSICA OU ORI-ODE VEM PRIMEIRO, ENQUANTO O RESTO DO CORPO A SEGUE, O QUE AUMENTA MAIS SUA RELAÇÃO COM ORI-INU, QUE TAMBÉM É O PRIMEIRO A SER CRIADO E O ÚNICO DETERMINANTE DO DESTINO DO HOMEM NA TERRA. DEVIDO A ISTO, A CABEÇA FÍSICA É TRATADA COM MUITO RESPEITO E PROPICIADA COMO ORI-INÚ, SEU CONTRAPONTO ESPIRITUAL, RESULTANDO NA PRIMEIRA SERVIR COMUMENTE COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO COM A OUTRA.

O ORI DE UMA PESSOA É TÃO IMPORTANTE QUE DEVE SER PROPICIADO FREQUENTEMENTE E SUA AJUDA É NECESSÁRIA ANTES DE INICIAR
QUALQUER ATO E ISTO É FEITO ATRAVÉS DO EBORÍ (BORI).

OFUN-IRETE
WEREWERI NO CÉU…
OWEWÉ, AQUELE QUE LIMPA A POBREZA COM PERFEIÇÃO. FOI VISTO NO JOGO PARA SOMENTE UM ORI E TAMBÉM PARA QUATROCENTOS E UMA DIVINDADES CELESTIAIS QUEM IRIA A OLORÚN O CRIADOR-CHEFE PARA TENTAR ABRIR O OBI DO ASÉ. OGBON, SABEDORIA, OS DIRIGIU PARA FAZEREM O SACRIFÍCIO… QUATROCENTOS E UMA DIVINDADES DESOBEDECERAM A SUA ORDEM. SOMENTE ORI OBEDECEU, E SEU SACRIFÍCIO FORAM ACEITO. QUAL ERA A ORDEM DADA POR OGBON? ELES TINHAM DE ACORDAR AO AMANHECER E LOUVAR O SUPREMO CRIADOR.

TODOS OS ORISÁ PERDERAM A HORA. SOMENTE ORI ACORDOU, E SE ATIROU AO CHÃO EM HOMENAGEM A OLORÚN. DEPOIS DISTO TODOS OS ORISÁ FORAM A DEUS, O CRIADOR-CHEFE, E PEDIRAM A OGBON PARA APRESENTAR O OBI DE AUTORIDADE. TODOS TENTARAM, MAS NÃO CONSEGUIRAM ABRI-LO. SOMENTE ORI CONSEGUIU PORQUE TINHA FEITO O SACRIFÍCIO (EBÓ), E DIVIDINDO O OBI, ELE OBTEVE AS RESPOSTAS (JOGOU, ADIVINHOU).

A RESPOSTA FOI FAVORÁVEL E UMA ALTA LOUVAÇÃO OCORREU. HOUVE GRANDE EXCITAÇÃO E JÚBILO NOS CÉUS. O LUGAR MAIS ALTO E CENTRAL, APERE, DAÍ PASSOU A POR DIREITO PERTENCER A ORI. QUANDO ORI SE SENTOU, OS OUTROS ORISÁ, CHEIOS DE INVEJA, CONSPIRARAM PARA DESTRONÁ-LO.
ORISANLÁ FOI O PRIMEIRO A DESAFIAR SUA AUTORIDADE. ORI O PÔS NO CHÃO E EM AJALAMO AONDE OS DESTINOS SÃO MOLDADOS. EMAJALAMO ORISANLÁ SE TORNOU O ESPECIALISTA ESCULTOR DOS DESTINOS.

ORI CRIOU IFÁ, E IFÁ SE TORNOU UM ESPECIALISTA EM IKIN. ORI CRIOU AMAKISI NO LESTE, AONDE A LUZ MATINAL SURGE NA TERRA. ORI CONQUISTOU TODOS OS ORISÁ E OS CRIOU AONDE ELES SÃO HOJE REVERENCIADOS.
AO ACORDAR, EU HOMENAGEIO OLORÚN. DEIXE TODAS AS COISAS BOAS VIREM A MIM. MEU ORI ME DEU VIDA. DE-ME O PODER DE ULTRAPASSAR A MORTALIDADE E EU NÃO MORREREI. DEIXE TODAS AS COISAS BOAS PERTENCEREM A MIM, COMO A LUZ PERTENCE À AMAKISI.

ORI É IMPORTANTE PORQUE É O QUE ESCOLHEMOS NO ORUN PARA NOS ACOMPANHAR NESTE MUNDO PARA ATINGIRMOS NOSSO DESTINO. ORI É O QUE NOS DÁ A OPORTUNIDADE DE FAZER ESCOLHAS. MESMO ANTES DO ORISÁ, HÁ O ORI QUE NOS DIRECIONA E NADA PODE SE MANIFESTAR SE NÃO FIZERMOS UMA ESCOLHA. Ë ORI QUE NOS LEVA DE VOLTA AO ORISÁ. SE OLHARMOS O TERMO ORI (SA) É A COROAÇÃO DA CABEÇA QUE A ISTO SE REFERE. É A COROAÇÃO DO ORI DAS DIVINDADES QUE OS TORNAM ORISA.

TODOS ELES ESCOLHEM SEU DESTINO. E ESTA ESCOLHA É SEU ORI. NÃO HÁ NADA QUE POSSA ACONTECER SEM FAZERMOS UMA ESCOLHA OU SAUDARMOS ORI. POR ISTO É QUE ORI VEM PRIMEIRO, PORQUE NOS LEVA A OLODUMARE (OLORÚN). ORI É A “LIGAÇÃO DIRETA” COM OLODUMARE. LIGAÇÃO COM A FORÇA CHAMADA ELEDA, ENERGIA INCONDICIONAL, O PENSAMENTO DE OLORÚN QUE TODOS TEMOS DENTRO DE NÓS. É POR ISTO QUE É DITO QUANDO SAUDAMOS NOSSAS CABEÇAS QUE ESTAMOS SAUDANDO ELEDÁ, PORQUE ISTO É FEITO ATRAVÉS DE NOSSO ORI.

IWA LÉWA
AGORA A IMPORTÂNCIA DE ORI VEM DE IWA (LÉWA) QUE SIGNIFICA “CARÁTER É BELEZA”. É ATRAVÉS DESTAS ESCOLHAS QUE FAZEMOS QUE SEJAM CAPAZES DE SER VISTOS COMO ALGO BELO, E ESTAS ESCOLHAS SÃO ACOMPANHADAS DO DESTINO. É ATRAVÉS DESTAS ESCOLHAS QUE NOSSO CARÁTER É MOLDADO. É INTERESSANTE QUE IWA-CARÁTER E IWA-DESTINO SÃO BASICAMENTE A MESMA PALAVRA.

NÓS NÃO CONSEGUIREMOS ALCANÇAR NOSSO DESTINO A NÃO SER QUE DESENVOLVAMOS BOM CARÁTER.
E SE DURANTE A NOSSA VIDA NO MERCADO DO MUNDO NÓS DESENVOLVERMOS UM BOM CARÁTER MORAL, NÓS CONSEGUIREMOS A COROA DO ORISÁ.

HÁ OUTRA ENTIDADE QUE EXISTE COM ORI. QUANDO ORI ANDA CONOSCO PELO MUNDO, HÁ ENIKEJI, NOSSO GÊMEO ESPIRITUAL, QUE SE MANTÉM EM ESPÍRITO PARA NOS LEMBRAR DO NOSSO DESTINO ESCOLHIDO EM ILE ORUN. QUANDO FORMOS PARA CASA, POIS O MUNDO É O MERCADO, ORUN É NOSSA CASA, HAVERÁ UMA RECONEXÃO COM ENIKEJI PARA VER SE ALCANÇAMOS NOSSO DESTINO. TODOS OS ORI VEM DE ELEDÁ, OLORÚN. TUDO VEM DAQUELE QUE DÁ VIDA – OLORÚN – E SE MANIFESTA COMO VIDA – OLODUMARE.

CADA PESSOA, PEDRA, ÁRVORE, PUNHADO DE TERRA É COMPOSTO DE ODU E TEM UM ESPÍRITO DE ELEDÁ EM SI, ORI OU ORO, O QUE HABITA DENTRO. TUDO VEM DA MESMA FONTE, NÃO DIFERENTES, EU POSSO VOLTAR COMO UM PÁSSARO, MAS AINDA COM ORI, O QUE ME DÁ A ESCOLHA NECESSÁRIA DE ALCANÇAR MEU DESTINO ESCOLHIDO. MAS AINDA ASSIM ORI VEM DE ELEDÁ. O CORPO DO PÁSSARO É SOMENTE A RESIDÊNCIA DO ESPÍRITO DO PÁSSARO, E O ESPÍRITO VEM DE OLODUMARE.

IGBÁ IWA, QUE É NOSSO CORPO QUE CONTEM O NOSSO CARÁTER, É SOMENTE A RESIDÊNCIA DO ESPÍRITO, INDEPENDENTE DE SUA FORMA FÍSICA. NÓS TEMOS A TENDÊNCIA DE NOS SEPARARMOS DESTE ESPÍRITO, E É O QUE NOS IMPEDE DE ALCANÇARMOS IWA PELE.

KOTOPO-KELEBE ERA O APELIDO DE ORI ANTES DELE SE TORNAR A CABEÇA DE TODOS OS ORISÁ. ESPECIFICAMENTE, O APERE DE ORI INDICA SUA VITÓRIA SOBRE AS OUTRAS DIVINDADES, E A ASCENSÃO DE ORI AO ALTO DA PONTA DO CONE DA EXISTÊNCIA, ISTO É A RAZÃO DE EXISTIR. PARA SABER COMO ORI LIDOU COM TODAS AS AMEAÇAS DE OPOSIÇÃO DE SEUS RIVAIS E DITOU SEUS DESTINOS, É PERTINENTE PARA MOSTRAR O DUPLO SENTIDO MOSTRADO NO VERBO “DA” (VENCER OU CONQUISTAR OU CRIAR) USADO NO ODU EM ORI. NÓS TEMOS A NOÇÃO DE QUE EM PARA SER OU CRIAR ALGO, TEMOS DE SOBREPOR ALGUMA OPOSIÇÃO OU VENCER ALGUÉM. SEM LUTA, NÃO HÁ SUCESSO NA VIDA.

O MAIS ALTO LUGAR, A POSIÇÃO DE AUTORIDADE CHAMADA APERE SE TORNOU O TRONO DE ORI. ORI FOI MAIS ADIANTE PARA PROVAR SUA SUPERIORIDADE SOBRE ORISANLÁ DANDO A ELE UM LUGAR PERMANENTE CHAMADO OKE-ALAMOLEKE EM ODE IRANJÉ, E UMA FUNÇÃO ESPECÍFICA EM AJALAMO AMBOS SOBRE O CONTROLE DE ORI.

AJALAMO É UM LUGAR MUITO INTERESSANTE EM IFÉ, É UM LUGAR EM QUE UM VAI A ESPÍRITO PARA ESCOLHER SEU ORI. E A PESSOA DESIGNADA A ESTE LUGAR É CHAMADA DE AJALAMOPIN, O MOLDADOR DE ORI OU CABEÇAS, E ORISANLÁ CUIDA DE MOLDAR OS CORPOS.
HÁ OUTRO EM AJALAMO QUE NÃO É MENCIONADO, CONHECIDO PELO NOME DE KORI, O MOLDADOR DOS ESPÍRITOS DE CRIANÇAS. ORI É AQUELE COM ASÉ QUE NOS FAZ TÊ-LO.
É TÃO PODEROSO QUE ATÉ IFÁ TEM DE SE SUBMETER A SUA VONTADE.

ORI VENCEU TODOS OS ORISÁ E FOI O ÚNICO CAPAZ DE ABRIR O OBI DO ASÉ. VONTADE DITA COMO AS COISAS ACONTECEM EM NOSSA VIDA, SE DEIXARMOS ORI PARA TRÁS, NÓS PERDEMOS O DIREITO DE RECLAMAR SOBRE NOSSA SITUAÇÃO. NINGUÉM PODE APRISIONAR NOSSA MENTE, MAS SÓ NÓS PODEMOS. ESCRAVIDÃO É UMA ARMADILHA MENTAL E QUANDO NÓS DEIXAMOS DE LADO NOSSOS DIREITOS A LIBERDADE, NÓS NOS MANTEMOS ESCRAVOS.

PARA OBTER O PODER DA VONTADE DE MUDAR, PRIMEIRO TEMOS DE TER VONTADE. A MAIORIA DAS PESSOAS ACEITA AS CONDIÇÕES ESTABELECIDAS, E NÃO QUEREM MUDAR. NÓS TEMOS DE TER VONTADE DE SAIRMOS UM COM OLODUMARE. ORI NOS LEVA
DIRETAMENTE A IWA QUE CONTEM A PALAVRA CARÁTER. PARA O YORUBÁS IWA NÃO QUER DIZER CUMPRIR AS DIRETIVAS DE OLODUMARE QUE TAMBÉM É CHAMADO DE OBÁ MIMÓ,
OBA PIPÉ, SIGNIFICANDO “O REI PURO OU O REI PERFEITO” OU ALALÁ FUNFUN OKÉ “AQUELE DE BRANCO QUE HABITA NO ALTO”

É ESTA FORÇA QUE DISPERSA QUE É CHAMADO IFÁ IYÀ, OU O ORÁCULO DO CORAÇÃO. OS ORÁCULOS DO CORAÇÃO SÃO AS DIRETIVAS OU ORDENS DE OLODUMARE, AQUILO QUE É O CERTO OU ERRADO, QUE LEVA A CUMPRIR OU NÃO, O DESTINO. TODOS NÓS SABEMOS O QUE É O CERTO PORQUE ISTO TAMBÉM FOI DADO COM O SOPRO DE OLODUMARE QUE PÔS EM NÓS. É O ORÁCULO DO CORAÇÃO QUE NOS GUIA E DETERMINA NOSSA VIDA ÉTICA.O ORÁCULO DO CORAÇÃO É A CONSCIÊNCIA DA PESSOA. AS LEIS DE OLODUMARE ESTÃO ESCRITAS NO CORAÇÃO.

JE ÈWO SIGNIFICA “COMER O QUE É TABU” OU “FAZER O QUE É PROIBIDO” E GBIGBA ÈWO SIGNIFICA “RECEBER O TABU” OU “FAZER O CERTO” (CUMPRIR O PRECEITO) ESTA É UMA DAS MANEIRAS QUE UM É RECONHECIDO, NO DESENVOLVIMENTO DE IWA. MAS ANTES MESMO DE VIRMOS PARA ESTE MUNDO, NÓS APRENDEMOS E RECEBEMOS DIRETIVAS ENQUANTO ESPÍRITOS E ISTO SÃO O QUE NÓS CHAMAMOS DE INSTINTOS, OU DEJA VU, A MEMÓRIA DE ORI.

AS LEIS DOS HOMENS SÃO FEITAS PARA CONTROLAR E TIRAR AS ESCOLHAS. OLODUMARE DIZ QUE CADA UM DE NÓS TEM ESCOLHA E QUE HÁ UMA PUNIÇÃO DIVINA. NÓS TEMOS A OPORTUNIDADE DE ESCOLHER A DIREÇÃO EM QUE QUEREMOS IR, MAS TEMOS DE REALIZAR QUE TODA A DIVIDA DEVERÁ SER PAGO. É MUITO IMPORTANTE QUE NÓS MESMOS ESCOLHEMOS NOSSA PRÓPRIA DIREÇÃO PARA DESENVOLVER IWA, POR QUE ISTO DETERMINARA O SUCESSO OU INSUCESSO DE ALCANÇARMOS NOSSO DESTINO.

A COROAÇÃO FINAL DO NOSSO ORI.
DE ACORDO COM UM DOS VERSOS DE OGUNDA MEJI, ORUNMILÁ REUNIU TODOS OS ORISÁ E PERGUNTOU QUAL DELES ACOMPANHARIAM SEUS DEVOTOS NUMA VIAGEM DISTANTE ATRAVÉS DO OCEANO SEM DESERTÁ-LOS EM NENHUM LUGAR. SÀNGÔ, O DEUS DO TROVÃO E O MAIS CORAJOSO, RESPONDEU QUE ELE IRIA COM SEUS DEVOTOS PARA QUALQUER LUGAR SEM OLHAR PARA TRÁS. ORUNMILÁ CONVENCEU SÀNGÔ QUE ESTA NÃO ERA A RESPOSTA CORRETA, E UM POR UM ELE CONVENCEU CADA UM DOS ORISÁ QUE ESTA NÃO ERA A RESPOSTA A SUA PERGUNTA. ELES IMPLORARAM A ORUNMILÁ PARA REVELAR A RESPOSTA CORRETA, A QUAL ORUNMILÁ RESPONDEU QUE SOMENTE ORI, A DIVINDADE PESSOAL DE CADA UM, PODE NOS ACOMPANHAR ATÉ O LUGAR MAIS LONGÍNQUO DO MUNDO SEM VOLTAR ATRÁS.

DAI ELE RECITOU:
“SOMENTE ORI PODE ACOMPANHAR O SEU DEVOTO A QUALQUER LUGAR SEM RETORNAR, SE EU TENHO DINHEIRO,É A MEU ORI QUE EU AGRADEÇO. MEU ORI, É VOCÊ. SE EU TENHO FILHOS,É O MEU ORI QUE EU VOU CULTUAR. MEU ORI, É VOCÊ. POR TODAS AS COISAS BOAS QUE EU TENHO NA TERRA, É O MEU ORI QUE EU CULTUO.

MEU ORI, É VOCÊ “

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ÀYÀN OU ÀYON

O ORISÁ  DO ATABAQUE E DO BATÁ

As religiões de matrizes africanas há tempos vêm resgatando alguns elementos que por ventura ficaram esquecidos dos meados do ano de 1830 até o ano atual. Orisá “ÀYÀN” orisá do tambor é um desses elementos. Observando por onde eu ando, a forma como alguns, pode chamá-los de: Ogan de tambor, abatazeiros, abatás, batedores de tambor seja lá qual for à denominação que podemos chamá-los, mas algo nós chama a atenção; a preparação dessas pessoas especiais para a liturgia das religiões de matrizes africana. Assim bem como os seus segredos. Os segredos dos Tambores de Batá que é um elemento sagrado na cultura Yorubá, com rituais religiosos para sua construção, preparação e iniciação daqueles que irão tocá-lo. Os Batás sagrados são tratados como criaturas viventes, que devem ter cuidados específicos e uma variedade de regras para o seu uso.

A força espiritual contida no tambor e que o consagra e é chamado de “Ayan” ou “Ayon” O Orisá do tambor. Para que alguém possa ser iniciado para Ayan e tocar o Batá, deve cumprir rígidos rituais religiosos. No Brasil essa tradição praticamente perdeu-se, mas foi mantida na Nigéria e Benin a Terra Yorubá e em Cuba. O iniciado recebe a força espiritual necessária para tocar os tambores da forma correta, para que estes possam “falar” com os Orisás, chamando-os para as cerimônias a eles dedicadas. Ayan representa a expressão sonora das divindades; e o símbolo do tambor que serve como depositário dos poderes divinos e ele é o veiculo que Ihe da voz. A consagração de Ayan no tambor Batá e feita por meio de ritual e elementos litúrgicos sagrados, que ficam dentro do tambor, que e selado hermeticamente com as duas peles. Quando Ayan é fixado no tambor é chamado de “Eleekoto”. O ritual de consagração inclui a pintura do tambor com a assinatura de Sòngô. Eleekoto e representado por uma miniatura de tambor Batá que não pode ser tocada, pois simboliza o “Ayan.”

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ONILÉ

Os antigos povos que deram origem aos atuais iorubás ou nagôs, de cujas tradições se moldaram o candomblé no Brasil, cultuavam uma entidade da Terra, a Terra-Mãe, que recebeu muitas denominações em diferentes aldeias e cidades que formam o complexo cultural iorubá e seus entornos principais, entre os quais os jejes mahis e daomeanos e os tapas ou nupes e os ibos. Esta antiga divindade é até hoje cultuada e recebe o nome de Onilé, a Dona da Terra, a Senhora do planeta em que vivemos. Outros nomes da Terra-Mãe são: Aiê, Ilé, Ialé, também Ije, Ale, Ala, Aná, Ogerê, e mesmo Buku e Buruku. Entre os jejes do Maranhão e da Bahia é chamada Aisã. Creio que grande parte dos seguidores do candomblé nunca ouviu falar ou teve apenas vagas referências sobre Onilé, mas em certos candomblés de nação Keto, que preservam ou reconstituem tradições que em grande parte se perderam na diáspora iorubana, pratica-se um culto discreto, mas significativo a Terra-Mãe, para a qual se canta, ou no início do Sirê ou no final da chamada roda de Sòngo, a cantiga que diz “Mojubá, orisá/ ibá, orisá/ ibá Onilé”, que pode ser traduzido como “Eu saúdo o orisá/ Saúdo Onilé/ Salve a Senhora da Terra”. Onilé é uma divindade feminina relacionada aos aspectos essenciais da natureza, e originalmente exercia seu patronato sobre tudo que se relaciona à apropriação da natureza pelo homem, o que inclui a agricultura, a caça e a pesca e a própria fertilidade. Com as transformações da sociedade iorubá numa sociedade patriarcal ou patrilinear, que implicou a constituição de linhagens e clãs familiares fundados e chefiados por antepassados masculinos, as mulheres perderam o antigo poder que tiveram numa primeira etapa (um mito relata que, numa disputa entre Oyá e Ogum, os homens teriam arrebatado o poder que era antes de domínio das mulheres). Os antepassados divinizados tomaram o lugar das divindades primordiais e houve uma redivisão de trabalho entre os orisás. As divindades femininas antigas tiveram então seu culto reorganizado em torno de entidades femininas genéricas, as Yiá Mi Osorongá, consideradas bruxas maléficas pelo fato de representarem sempre um perigo para os poderios masculinos, e vários orisás tiveram dividido entre si as atribuições de zelar pela Terra, agora dividida em diferentes governos: o subsolo ficou para Omulu-Obaluaye e para Ogum, o solo para orisá-Oko e Ogum, a vegetação e a caça para os Odes e Osonyin e assim por diante. A fertilidade das mulheres foi o atributo que restou às divindades femininas, já que é a mulher que pari que reproduz e dá continuidade à vida. Constituir-se-iam elas então em orisás dos rios, representando a própria água, que fertiliza a terra e permite a vida: são as Yiagbás Yemonjá, Òsun, Obá, Oyá, Yewá e outras e também Nanã, que como antiga divindade da terra, representa a lama do fundo do rio, simbolizando a fertilização da terra pela água. Onilé teve seu culto preservado na África, mas perdendo muitas das antigas atribuições. Hoje ela representa nossa ligação elemental com o planeta em que vivemos, nossa origem primal. É a base de sustentação da vida, é o nosso mundo material. Embora sua importância seja crucial do ponto de vista da concepção religiosa de universo, os devotos a ela poucos recorrem, pois seu culto não trata de aspectos particulares do mundo e da vida cotidiana, preferindo cada um dirigir-se aos orisás que cuidam desses aspectos específicos. No Brasil, como aconteceu com outros orisás, seu culto quase desapareceu. Certamente um fator que contribuiu para o esquecimento de Onilé no Brasil é o fato de que este orisá não se manifesta através do transe ritual, não incorpora, não dança. Outros orisás importantes na África e que também não se manifestam no corpo de iniciados foram igualmente menos considerado neste País que, por influência do Kardecismo, atribui um valor muito especial ao transe. Foi o que aconteceu com Orunmilá, Oduwduwa, Orisá-Oko, Ajalá, além da Yiá Mi Osorongá. É interessante lembrar que o culto de Osonyin sofreu no Brasil grande mudança, passando o orisá das folhas a se manifestar no transe, o que o livrou certamente do esquecimento. O culto da árvore Iroko também se preservou entre nós, ainda que raramente, quando ganhou filhos e se manifestou em transe, sorte que não teve Apaoká. Na Nigéria mantém-se viva a idéia de que Onilé é à base de toda a vida, tanto que, quando se faz um juramento, jura-se por Onilé. Nessas ocasiões, é ainda costume pôr na boca alguns grãos de terra, às vezes dissolvida na água que se bebe para selar a jura, para lembrar que tudo começa com Onilé, a Terra-Mãe, tanto na vida como na morte. Um mito que já tive o prazer de contar em outras ocasiões ensina qual são a atribuição principal de Onilé, como ela está associada ao chão que pisamos e sobre o qual vivemos nós e todos os seres vivos que formam o nosso habitat, nosso mundo material. Assim conta o mito: Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare. Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via. Quase nem se sabia de sua existência. Quando os orisás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões, Onilé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques. Onilé não se sentia bem no meio dos outros. Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem: haveria uma grande reunião no palácio e os orisás deviam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois haveria muita comida, música e dança. Por todos os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento. Quando chegou por fim o grande dia, cada orisá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Olodumare. Yemonjá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola. Osòósi escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais. Osonyin vestiu-se com um manto de folhas perfumadas. Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante, enfeitada com tenras folhas de palmeira. Òsun escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios. As roupas de Osumarè mostravam todas as cores, trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva. Oyá escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade. Sòngo não fez por menos e cobriu-se com o trovão. Óòsàálá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio. E assim por diante. Não houve quem não usasse toda a criatividade para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita. Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo. Cada orisá que chegava ao palácio de Olodumare provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes. Os orisás encantaram o mundo com suas vestes. Menos Onilé. Onilé não se preocupou em vestir-se bem. Onilé não se interessou por nada. Onilé não se mostrou para ninguém. Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão. Quando todos os orisás haviam chegado, Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono. Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo e que estava tão bonito que ele não saberia escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo. Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como começar a distribuição. Então disse Olodumare que os próprios filhos, ao escolherem o que achavam o melhor da natureza, para com aquela riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo. Então Yemonjá ficava com o mar, Òsun com o ouro e os rios. A Osòósi com as matas e todos os seus bichos, reservando as folhas para Osonyin. Deu a Oyá o raio e a Sòngo o trovão. Fez Óòsàálá dono de tudo que é branco e puro, de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação. Destinou a Osumarè o arco-íris e a chuva. A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive a guerra. E assim por diante. Deu a cada orisá um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular. Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de então cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza. Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda ao orisá que a possuísse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa que fosse da predileção do orisá. Os orisás, que tudo ouviram em silêncio, começaram a gritar e a dançar de alegria, fazendo um grande alarido na corte. Olodumare pediu silêncio, ainda não havia terminado. Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições. Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos orisás. Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra. Quem seria? Perguntavam-se todos? “Onilé”, respondeu Olodumare. “Onilé?” todos se espantaram. Como, se ela nem sequer viera à grande reunião? Nenhum dos presentes a vira até então. Nenhum sequer notara sua ausência. “Pois Onilé está entre nós”, disse Olodumare e mandou que todos olhassem no fundo da cova, onde se abrigava vestida de terra, a discreta e recatada filha. Ali estava Onilé, em sua roupa de terra. Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta. Olodumare disse que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Onilé, pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa. A humanidade não sobreviveria sem Onilé. Afinal, onde ficava cada uma das riquezas que Olodumare partilhara com filhos orisás? “Tudo está na Terra”, disse Olodumare. “O mar e os rios, o ferro e o ouro, Os animais e as plantas, tudo”, continuou. “Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte”. Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé, foi à sentença final de Olodumare. Onilé, orisá da Terra, receberia mais presentes que os outros, pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem. Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído. Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare. Todos os orisás aclamaram Onilé. Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.

E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orisás1. E assim este mito, de modo didático e com muita beleza, situa o papel de Onilé no panteão dos deuses iorubás. Como é estrutural nos mitos, o tempo da narrativa não é histórico, dando a impressão que os cultos dos diferentes orisás foram instituídos a um só tempo, num só ato do supremo deus. A narrativa enfatiza, contudo, a concepção básica da religião dos orisás, isto é, que cada orisá é um aspecto da natureza, uma dimensão particular do mundo em que vivemos. Eles são o próprio mundo, com suas forças, elementos, energias e propriedades, mundo que tem por base Onilé, a Terra, o planeta que habitamos o nosso lar no universo.

Mito de Onilé. Pedro Rafael, 1999.

Na África iorubá, Onilé ocupa lugar central no culto da sociedade masculina secreta Ogboni. A escultura em bronze aqui mostrada, provavelmente do século XVIII, é originária dessa sociedade tem os olhos em semicírculos, que tudo observam em silêncio, e as mãos fechadas e alinhadas, uma sobre a outra, na altura do umbigo, num gesto que simboliza o conhecimento ancestral, conforme os símbolos Ogboni, sociedade que, até o século XIX, cuidava da justiça, julgava criminosos e feiticeiros e executava os condenados à morte.

Louvar Onilé é celebrar as origens. Por isso, quando aparecem junto aos humanos, os antepassados egungun saúdam Onilé, lembrando-nos que ela é anterior a tudo o mais, mesmo às linhagens mais antigas da humanidade.

Onilé é assentada num montículo de terra vermelha, que representa o coração da Terra, podendo também ser montado com terra de cupinzeiro, que é trazida de dentro do solo pelos insetos trabalhadores, e que é vermelha. Dentro do montículo fixa-se uma quartinha com água, pois não há vida na terra desprovida de água. A quartinha dentro da terra simboliza que a água vem de dentro da Terra e que é assim a primeira dádiva de Onilé. A água que jorra do solo forma os regatos, rios, lagos e o próprio mar, de onde sobe para as nuvens e se precipita em chuva, voltando ao solo e subsolo, num ciclo permanente de propiciação da vida. O assentamento é coberto com moedas ou búzios, que entre os antigos iorubanos era dinheiro, representando toda a riqueza e prosperidade que está na Terra, que dela extraímos e na qual vivemos. Vermelho e marrom, cores da terra, são as cores apropriadas para colares de contas que homenageiam Onilé. Na África, os sacrifícios feitos a Onilé incluem caracóis, aves fêmeas e tartarugas (Abimbola, 1977: 111). No Brasil a legislação pune como crime inafiançável o sacrifício de animais ameaçados de extinção e assim a tartaruga é substituída pela cabra. Aliás, matar um animal em extinção seria uma ofensa imperdoável a Onilé, que é a própria natureza, a grande mãe da ecologia.

Além desses animais, dá-se para Onilé tudo o que a terra produz e que o homem transforma: obis, orobôs e todas as demais frutas, inhame e outros tubérculos, feijões, milho, favas, mel, dendê, sal, vinho e tudo mais que vem da terra pela mão do homem.

Cultuada discretamente em terreiros antigos da Bahia e em candomblés africanizados, a Mãe Terra tem despertado recentemente curiosidade e interesse entre os seguidores dos orisás, sobretudo entre aqueles que compõem os seguimentos mais intelectualizados da religião. Onilé, isto é, a Terra, tem muitos inimigos que a exploram e podem destruí-la. Para muitos seguidores da religião dos orisás, interessados em recuperar a relação orisá-natureza, o culto de Onilé representaria, assim, a preocupação com a preservação da própria humanidade e de tudo que há em seu mundo. Pois é Onilé quem guarda o planeta e tudo que há sobre ele, protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida de tudo que vive sobre a Terra, as plantas, os bichos e a humanidade.

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IBEJI

Ìbejì é o Òrìsà dos gêmeos. Da-se o nome de Taiwo ao Primeiro gêmeo gerado e o de Kehinde ao último. Os Yorùbá acreditam que era Kehinde quem mandava Taiwo supervisionar o mundo, donde a hipótese de ser aquele o irmão mais velho.
Cada gêmeo é representado por uma imagem. Os Yorùbá colocam alimentos sobre suas imagens para invocar a benevolência de Ìbejì. Os pais de gêmeos costumam fazer sacrifícios a cada oito dias em honra ao Òrìsà.
Conta uma lenda que os Ibeji são filhos paridos por Oyá e jogados nas águas. Osun os abraçou e os criou como se fosse seus filhos.
O animal tradicionalmente associado à Ìbejì é o macaco colobo, um cercopiteco endêmico nas florestas da África Equatorial. A espécie em questão é o colobus polykomos, ou “colobo real”, que é acompanhado de uma grande mística entre os povos africanos. Eles possuem coloração preta, com detalhes brancos, e pelas manhãs eles ficam acordados em silêncio no alto das árvores, como se estivessem em oração ou contemplação, daí eles serem considerados por vários povos como mensageiros dos deuses, ou tendo a habilidade de escutar os deuses. A mãe colobo quando vai parir, afasta-se do bando e volta apenas no dia seguinte das profundezas da floresta trazendo seu filhote (que nasce totalmente branco) nas costas. O colobo é chamado em Yorùbá de edun oròòkun, e seus filhotes são considerados a reencarnação dos gêmeos que morrem cujos espíritos são encontrados vagando na floresta e resgatado pelas mães colobos pelo seu comportamento peculiar.

Ao contrário dos Eres, entidades infantis ligadas a todos os orixás e seres humanos, são divindades infantis, orixás-crianças. Por serem gêmeos, são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e brota: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinarem das plantas…
São divindades gêmeas infantis, é um orixá duplo e tem seu próprio culto, obrigações e iniciação dentro do ritual.

Lendas

Dois pequenos príncipes…

Existiam num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles; em troca, pediam doces balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximo a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado.

Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão, pedia sempre a Orunmilá que o levasse para perto do irmão.

Sensibilizado pelo pedido, Orunmilá resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.

Filhos de OYÁ e SÓNGO…

Iansã e Xangô tiveram dois filhos gêmeos. Só que, quando eles ainda eram pequenos, houve uma epidemia que matou muitas crianças do povo, e um dos gêmeos morreu.

Os pais ficaram desesperados e Iansã, como é amiga dos Eguns, resolveu pedir sua ajuda. Esculpiu um boneco de madeira igual ao filho que havia morrido, vestiu-o e enfeitou-o como se fosse para uma festa e colocou-o no lugar de honra da casa.

Todos os dias ela colocava uma oferenda aos pés da imagem e conversava com ela como se fosse seu filho vivo. Comovidos com seu amor pela criança, os Orixás fizeram a estátua viver e Iansã voltou a ter seus dois filhos.

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Sociedade Africanas

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Ìyámi Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyámi Osorongá chamada também de Ìyá N’Iya, a grande mãe.

Esta imensa massa energética que representa o poder da ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas “Sociedades Gëlèdé“, compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder.

O medo da ira de Ìyámi nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre as coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino .

Além da Sociedade Gëlèdé, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual Ìyámi Osorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Ìyámi quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Ìyámi é maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro.

Outra forma, e mais importante, é culto aos ancestrais masculinos é elaborada pelas “Sociedades Egungun”. Estas têm como finalidade elaborar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade.

Esses mortos surgem de forma visível porém camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte , denominada Egun ou Egungun. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantêm a individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a  dos Yorubás.

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EWE – ERVAS DE ORISÁ

Folhas Litúrgicas no Candomblé

Esù

Odun-dun – Folha-da-costa — Teté – Bredo sem espinhos — Orim-rim – Alfavaquinha — Pepé – Malmequer bravo — Labre – Tiririca — Kanan-kanan – Folha de bobó — Kan-kan – Cansanção de porco — Inã – Cansanção branco de leite — Aberê – Picão-da-praia, carrapicho-de-agulha —

Ògúm

Mariwô Folha de palmeira de dendê — Ìróko Folha-de-loko — Pepé Malmequer bravo — Teterégún Canela-de-macaco — Monam Parietária — Aferê Mutamba — Piperégún Nativo — Obô Rama de leite — Eregê Erva-tostão, graminha — Ibin Folha-de-bicho — Afoman Erva-de-passarinho — Omun Bredo
Orin-rin Alfavaquinha — Odun-dun Folha-da-costa (saião) — Teté Bredo sem espinhos — Já Capeba — Anó-peipa Cipó-chumbo

Osòósi

Teté – Bredo sem espinhos — Orin-rin – Alfavaquinha — Odun-dun – Folha-da-costa — Jacomijé – Jarrinha — Irekê-omin – Dandá do brejo — Piperégún – Nativo — Junçá – Espada de Ògún — Ìróko – Folha de loko — Mariwô – Folha de dendezêiro — Irum-perlêmin – Capim cabeludo — Akoko Fitiba – Cana-fita Monam – Parietária
Osoniyn Ganucô – Língua de galinha — Obô – Rama de leite — Aferé – Mutamba — Tolu-tolu – Papinho-de-peru — Monam – Parietária
Jamin – Cajá — Bala – Taioba — Teterégún – Canela-de-macaco — Timim – Folha de neve branca, cana-do-brejo — Pepé – Malmequer bravo — Mariwô – Folha de dendezeiro — Awô-pupa – Cipó-chumbo — Junçá – Espada de Ògún — Piperégún – Nativo — Arê-agê – Tostão — Simim-simim – Vassourinha — Afoman – Erva-de-passarinho — Omim – Alfavaquinha — Teté – Bredo sem espinho — Odum-dum – Folha-da-Costa

Òsùmárè

Ìróko – Folha de Ìróko — Monan – Parietária, brotozinho — Bala – Taioba — Jamin – Cajá — Aberê-ejó – Pente de Òsúmarè — Aferê – Mutamba — Obô – Rama de leite — Exibatá – Golfo redondo do monam — Jacomijé – Jarrinha — Tinim – Folha da neve branca, cana-de-brejo — Peculé – Mariazinha
Tolu-tolu – Papinho-de-peru

Sàngo

Teté – Bredo sem espinhos — Orin-rin – Alfavaquinha — Odum-dum – Folha da costa — Jacomijé – Jarrinha — Bamba – Folha de mibamba — Alapá – Folha de capitão — Pepê – Folha de loko — Oicô – Folha de caruru — Xerê-obá – Chocalho de xangô — Oxé-obá – Birreiro — Monan – Parietária — Aferé – Mutamba — Obô – Rama de Leite — Odidí – Bico-de-papagaio — Obaya – Beti-cheiroso – macho ou fêmea

Òyà

Teté – Bredo sem espinho — Orim-rim – Alfavaquinha — Odum-dum – Folha-da-costa — Jacomijé – Jarrinha — Afomam – Erva-de-passarinho — Abauba – Folha de imbaúba — Tepola – Pega pinto — Eregê – Erva-tostão — Já – Capeba — Obayá – Beti-cheiroso — Piperégún – Nativo — Ìróko – Folha de loko
Pepé – Malmequer — Teterégún – Canela-de-macaco — Junça – Espada de Ògún — Adimum-ade-run – Folha de fogo — Obe-cemi-oia – Espada de Oyámésèèsán rosa — Monan – Parietária — Bala – Taioba — Jamim – Cajá — Aferé – Mutamba — Gunoco – Língua-de-galinha — Obô – Rama de leite

Òsún

Teté – Bredo sem espinhos — Orim-rim – Alfavaquinha — Odum-dum – Folha da costa — Efim – Malva branca — Omim – Beldroega — Já – Capeba — Ìróko – Folha de loko — Pepe – Malmequer branco — Teterégún – Canela de macaco — Monan – Parietária — Jamin – Cajá — Tolu-tolu – Papinho de peru — Aferé – Mutamba — Eim-dum-dum – Folha da fortuna — Obô – Rama de leite — Omin-ojú – Golfo branco — Ilerin – Folha de vintém

Yemonjá

Teté – Bredo sem espinhos — Orim-rim – Alfavaquinha — Odum-dum – Folha da costa — Efim – Malva branca — Omin-ojú – Golfo branco — Jacomijé – Jarrinha — Ibin – Folha de bicho — Já – Capeba — Obaya – Beti-cheiroso — Ìróko – Folha de loko — Tinin – Folha de neve branca, cana-do-brejo
Ereximominpala – Golfo de baronesa — Teterégún – Canela de macaco — Monam – Parietária — Jamim – Cajá — Obô – Rama de leite

Obàlúwaiyè

Monam Parietária – brotozinho — Bala – Taioba — Jamim – Cajá — Aferé – Mutamba — Obó – Rama de leite — Exibatá – Ovo redondo de monãn
Jakomijé – Jarrinha — Afoxian – Erva de passarinho — Já – Capeba — Turin – Folha de neve branca — Pekulé – Mariazinha — Tolu-tolu – Papinho de peru

Òósáálà

Teté – Bredo sem espinhos — Orim-rim – Alfavaquinha — Odum-dum – Folha-da-costa — Ibim – Folha de bicho — Efim – Malva branca — Ilerim – Folha de vintém — Omim – Beldroega — Omim-ojú – Golfo branco — Jacomijé – Jarrinha — Tinin – Folha de neve branca, cana-do-brejo — Pachorô – Folha da costa branca — Monam – Parietária — Peculé – Parioba — Bala – Taioba — Jamim – Cajá — Ori-dum-dum – Folha da fortuna — Aferê – Mutamba — Obô – Rama de leite — Omim-ibá-ojú – Folha de leite
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Cuide de suas maneiras

Cuide de suas maneiras, meu amigo!

A honra pode abandonar nossa casa,

e a beleza, às vezes, acaba.

O rico de hoje pode ser o pobre de amanhã.

A honra é como o mar,

e também a onda da riqueza;

ambas podem escapar de nossa casa.

Mas as boas maneiras acompanham-nos

até ao túmulo.

O dinheiro não é nada,

As boas maneiras é que são

a beleza da humanidade.

Se você tem dinheiro, mas não se comporta bem,

quem irá confiar em você?

Ou, se você é uma mulher muito linda,

mas não se comporta de maneira adequada,

quem desejará tê-la como esposa?

Ou, ainda, se você é muito educado,

mas engana as pessoas,

quem confiará em você para negócios?

Cuide de suas maneiras, meu amigo.

Sem bons modos, a educação não tem valor.

Todos amam uma pessoa que sabe se comportar.

Esta poesia iorubá retrata bem os costumes e a importância que o povo dá à educação e à honra.

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Etnografia religiosa iorubá e probidade científica

Pierre Verger

Retomo, trocando duas palavras, o título de um artigo de três páginas escrito pelo saudoso Bernard Maupoil, cuja referência retiro da Bibliographie africaine de Fa, publicada no início de seu livro sobre La géomancie à l’anciene côte des esclaves (Maupoil, 1943:19). Não tive a oportunidade de ler sua Ethnographie dahoméene et probité scientifique, publicada em 1937 na Afrique Française, mas acho o título sugestivo e ele me incita a tecer considerações semelhantes sobre a etnografia religiosa iorubá.

As definições dadas aos orisá, os deuses iorubás, foram efetivamente, a partir de determinada época (1884, para sermos precisos) embelezadas com detalhes tão pitorescos quanto inexatos. Essas definições foram a seguir eruditamente retomadas, doutamente citadas e entusiasticamente comentadas pela maioria dos que a partir de então escreveram sobre o assunto.

Ao longo de minhas pesquisas, pude constatar de que maneira informações expressas muitas vezes descuidadamente por pessoas, respeitáveis noutros domínios, criaram uma tradição aparentemente lógica, mas enganadora. Com o tempo foi-se assim acumulando vasta documentação escrita, tida como erudita porque baseada em textos, a única fonte válida aos olhos dos letrados, mesmo que esses textos fossem inspirados por escritos anteriores incorretos e até contrários à verdade. Essas informações foram copiadas e publicadas inúmeras vezes, sem que sua autenticidade fosse posta em dúvida. O padre Labat já constava (Labat, 1831:143), e não sem ironia, em 1772, “que certas informações foram dadas por vários autores” e acrescentava: “mas talvez não tenha sido senão a opinião do que as escreveu primeiro e que os outros seguiram e copiaram sem se importar se estavam bem ou mal fundadas”.

Eis porque somos obrigados a pôr em questões neste artigo certas informações que estão na origem de sistemas teogônicos e cosmogônicos eruditos e a constatar que, estando desprovidas de fundamentos, não passam de gratuidades ou de construições mais ou menos habilidosas do espírito.

Lendas da Criação do Mundo dos Iorubás

Entre os Iorubá existem duas versões sobre a criação do mundo. Elas correspondem às tradições de duas cidades que disputam a hegemonia do mundo iorubá: de um lado Ifé, chamada de berço da civilização, e de outro Oyó, que deteve o governo efetivo. Os habitantes dessas duas cidades divinizaram os fundadores das dinastias que nelas reinaram – Oduwduwá para os primeiros e Oranmiyan para os segundos – transformando a tradição histórica da fundação das duas cidades na tradição da criação do mundo. Tanto numa quanto na outra o herói criador do mundo chegou do Além tendo recebido do Deus Supremo, Olodumaré, o saco da criação contendo uma substância escura, de natureza até então desconhecida.

Essa substância, lançada sobre a superfície das primeiras águas, formou um montículo de terra sobre o qual pousou uma galinha com cinco dedos. A galinha começou a arranhar o monte com os pés e com o bico e espalhou a matéria que recobriu pouco a pouco as águas e formou a crosta terrestre, da qual Oduwduwá, para Ifé, e Oranmiyan, para Oyó, se tornaram senhores. No caso de Ifé, a lenda se complica com uma rivalidade entre Obatalá (também chamado Orisàlá), enviado por Olodumaré para criar o mundo e Oduwduwá, que se aproveitou de um momento de intemperança de seu rival, o qual, tendo bebido em excesso vinho de palma quando estava a caminho para cumprir a sua tarefa, embriagou-se, caiu e adormeceu. Oduwduwá, que vinha atrás, surrupiou o saco da criação e tornou-se assim, ele próprio e em seu lugar, o senhor do mundo. Mais tarde, quando se reencontraram, Oduwduwá e Obatalá discutiram e lutaram ferozmente. Detalhes sobre esse assunto foram dados em outra obra (verger, 1965: cap.II e III).

Essas relações tempestuosas entre divindades, como já registramos, são transposições para o domínio religioso de acontecimentos de caráter histórico, que poderão ser resumidos da seguinte forma: Oduwduwá, o fundador da cidade de Ifé, teria encontrado à sua chegada uma população autóctone já instalada naquelas paragens, os Igbô, cujo rei teria sido Obatalá (Orisàlá). Oduwduwá, depois de ter vencido Obatalá, se teria apossado de seu reino, da mesma forma como na lenda ele teria roubado o saco da criação, tornando-se senhor do mundo em detrimento de Obatalá.

Essa lenda da criação do mundo por Oduwduwá só se tornou conhecida do grande público e dos etnólogos em 1912, quando Frobenius publicou os resultados de sua viagem à África (Frobenius, 1912:283). A lenda da criação do mundo por Oranmiyan tinha já sido publicada por Jean Hess na Revue de Paris em 1896 (Hess, 1896:603-606) e em livro dois anos mais tarde (Hess, 1898:117-176). Mas ela só interessou aos amadores de literatura exótica. Ficou e permanece totalmente ignorada do mundo da antropologia, ainda que 58 páginas do livro de Hess constituam o primeiro documento publicado acerca da história dos Iorubá, recolhida pelo autor de Oyó, “desde que aí se refugiou em 1893, depois de ter sido atacado, roubado e ferido na terra dos Bariba, ao norte de Savé, e que seus homens, batendo em retirada, o abrigaram numa aldeia na fronteira iorubá. Daí, ele foi recolhido e tratado na missão católica de Oyó, onde foi o primeiro europeu e registrar os cantos tradicionais sobre a criação do mundo, o nascimento do povo iorubá e a história de seus reis”. Foi preciso esperar até 1921 para que The history of the Yoruba fosse publicada pelo reverendo S. Johnson (Johnson, 1921), cujo manuscrito data de 1897, remontando quase à mesma época das publicações de Jean Hess.

Como Nasceram as Falsas Tradições sobre os Deuses Iorubás

Ao lado e independentemente dessa tradição oral recolhida no coração da terra iorubá, a etnografia religiosa iorubá tem sido vítima, desde 1884 (e o é ainda), de informações fantasistas recolhidas muitas vezes em regiões periféricas daquelas onde a civilização iorubá se desenvolveu. Felizmente, nos é possível encontrar os autores, assinalar o momento exato do nascimento e o encaminhamento dessas noções errôneas através dos diversos escritos que têm tratado da questão. Também nos é fácil determinar o grau de competência e de seriedade, avaliar o crédito que pode ser concedido às suas informações e compreender o que está por trás de tudo que possa influenciar o caráter dos informes publicados por eles.

Nas linhas seguintes desenvolveremos esses diversos pontos detalhadamente, pois essas falsas tradições têm figurado como um postulado e freqüentemente têm sido aceitas sem discussão por numerorso autores.

Os primeiros informes relativos aos deuses iorubás foram publicados por: Ajayi, batizado com o nome de Samuel Crowther, nascido em 1810 em Osogún, aldeia pertencente ao reinado de Oyó. Ele foi raptado e feito escravo pelos Fulani com a idade de 11 anos, vendido em Lagos e embarcado para ser revendido ao Brasil na “Esperança Feliz”. Mas o navio negreiro que o transportava foi aprisionado por um cruzador britânico da esquadra de repressão ao tráfico de escravos, e ele desembarcou já livre, em 7 de abril de 1822, em Freetown, na Serra Leoa. Foi batizado em Londres em 1825 e tornou-se missionário protestante da Church Missionary em sem próprio país. Traduziu parte da Bíblia em iorubá e em 1852 publicou um vocabulário iorubá (Crowther, 1852). Nesse vocabulário, deu algumas definições sobre orisá, de certo modo válidas, ainda que com tendência a chamar de deusas o que os Iorubá adoram como deusas. Essa imprecisão pode ser explicada pela tenra idade em que ele foi arrancado à sua família e ao seu meio.

O reverendo T. J. Bowen, missionário batista americano, que passou seis anos em território iorubá. Publicou um dicionário em 1858 (Boewn, 1858: cap.16), onde fornece algumas precisões a mais sobre os orisá. Suas informações são dignas de confiança (Verger, 1957:171 e 509).

O abade Pierre Bouche, das Missões (católicas) Africanas de Lyon, que permaneceu na África entre 1866 e 1875 e deu as mesmas informações que seus predecessores, com algumas variantes (Bouche, 1885).

O padre Noel Baudin, que viveu na África entre 1869 e 1883 em regiões não-iorubás, em Porto Novo com os Gun, em Uidá com os Hweda e em Tongo com os Ewe, e tiveram uma curta permanência em Topô e Lagos, cidades que surgiram depois de longa sujeição ao reino de Benim. De passagem pela França em 1884, publicou um dicionário (Baudin, 1884 a) altamente influenciado pelo de Crowther (as rubricas consagradas aos deuses iorubás estão redigidas nos mesmos termos) e publicou igualmente um livro (Baudin, 1884 b) que deu origem à maior das confusões sobre o conhecimento dessa religião, pois as informações publicadas por ele estão longe, como vimos, de terem sido colhidas em fontes iorubás. As informações fornecidas são extravagantes. Baudin foi levado, é verdade, por um zelo missionário evidente, acrescido de um desprezo extremo, que não procurou dissimular, por tudo que dizia respeito à religião daqueles que ele tinha por dever e vocação converter.

O tom do livro de Baudin revela a certeza de uma fé bem fundada e o sentimento bem ancorado da indignidade dos nativos. Eis alguns trechos bastante reveladores do seu estado de espírito: “Os feiticeiros (Baudin, 1884b: 86) são seres desprezíveis, mentirosos, preguiçosos, hipócritas, impudicos e refinados ladrões. Geralmente têm um aspecto sujo, vestimentas ridículas e esfarrapadas, e os que molham as mãos em sangue humano têm um ar bestial, feroz e repugnante… Quanto aos deuses e deusas, com suas ridículas lendas, os grandes feiticeiros não acreditam neles… Os ídolos (ib: 89) modelados sobre o tipo mais feio de negro de lábios grossos, de nariz chato e de queixo retraído, são verdadeiras imagens de velhos macacos”. Animado por tais sentimentos, o autor não pôde estabelecer relações de confiança e de estima recíproca, úteis em pesquisss desse tipo. Não é de admirar, portanto a extrema confusão que reina nas informações relatadas em seu livro e não devemos esquecer, sobretudo, que os dados recolhidos o foram em lugares pouco representativos das tradições iorubás, onde o pouco que se podia encontrar se chocava e se misturava em Uidá com a religão dos Fon, dos Hweda e dos Hwala, em Porto Novo, com a dos Gun, e em Lagos, com as contribuições de Benim. Baudin esteve realmente em Abeokuta e em Oyó, em território iorubá, mas já em 1886, depois da publicação do seu livro.

A confusão Criada pelo Padre Baudin

Falamos acima da criação do mundo por Oduwduwá em Ifé e da rivalidade que o opôs a Obatalá (Orisalá), de quem roubou o saco da criação. Os nomes desses orisá aparecem impressos pela primeira vez, que eu saiba, em 1852, no vocabulário da língua iorubá de Crowther (Crowther, op.cit.).

O autor indica em rubricas separadas, por um lado, que “Oduá ou Oduwduwá (Crowther, op.cit.: 207) é uma deusa de Ifê, tida como a suprema deusa do mundo” e acrescenta que “o céu e a terra são duas grandes cabaças (ele queria dizer meias cabaças, igbá), que, uma vez fechadas (ou mais precisamente, colocadas uma sobre a outra, formando um recipiente fechado), não podem ser abertas (separadas)”. Afirma ainda que houvesse “uma alusão à aparente concavidade do céu, que parece tocar a terra no horizonte”. Por outro lado, indica que “Obatalá (é) a grande deusa iorubá, a artesã do corpo da matriz” (ib.: 228). Ao mesmo tempo, Orisàlá é indicado como sendo “a grande deusa Obatalá” (ib.: 223). Já assinalamos a tendência de Crowther a chamar os deuses de deusas, mas é evidente que nos encontramos na presença de duas divindades distintas: Oduwduwá e Obatalá (Orisàlá).

Bowen publicou em 1856 (Bowen, op.cit.: cap.XVII), no seu dicionário iorubá, mais uma vez duas rubricas separadas: “Oduwduwá é o universo, está localizado em Ifé” e “Obatalá é tido como o primeiro, à maior coisa já criada. Outros, entretanto, afirmam que ele não é nada mais do que um antigo rei iorubá. Sua mulher é Iyangba, a mãe que recebe representada acariciando uma criança”.

Richard Burton cita e copia em 1863 Bowen para Obatalá e Crowther para Oduwduwá (Burton, 1863: 185 e 192).

O abade Pierre Bouche publica em 1885 um livro onde fornece as mesmas informações, mas acrescenta num espírito de sincretismo (Bouche, op.cit.: 272) que a deusa Iyangba se parece muito com a Santa Virgem. “Como ela, segura um menino nos braços; chama-se A Mãe que Salva (e não que recebe), ela salvou os homens”. O abade Bouche estava longe de supor que Iya Agba, a mãe idosa e respeitável, fosse um eufemismo utilizado para saudar Iyami Osorongá, a feiticeira dos Iorubá (Verger, 1965: 142).

A maior confusão foi criada em 1884 pelo padre Noel Baudin, notavelmente mal informado sobre a religião iorubá e dotado de uma fértil imaginação. Ele junta Iyangba e Oduwduwá, que até então eram deuses distintos, e os funde numa única e mesma divindade. Para completar essa embrulhada, intromete ousadamente Obatalá (Orisàlá) no meio das duas meias cabaças descritas por Crowther, as quais viram uma cabaça única, munida de uma tampa. Completa esse “sutil ponto de vista” com uma estranha lenda (Baudin, 1884 b: 89) onde “Obatalá e Oduwduwá” estavam no princípio estreitamente apertados e como que encerrados numa grande cabaça – Obatalá no alto, sob a tampa, e Oduwduwá embaixo, afundados nas águas, envolvidos em profundas trevas, com a noite, o medo e a fome correndo em todas as direções… Oduwduwá ficou feia e cega em conseqüência de uma briga doméstica na qual Obatalá lhe arrancou os olhos para obrigá-la a ficar quieta. Ela, na sua cólera, o amaldiçoou e disse-lhe: “Terás caramujos para te alimentares… Com efeito, este é o principal sacrifício que os negros oferecem a Obatalá”.

Não se pode ver muito bem o que essa “maldição” pode ter de dramática. O caramujo constitui um alimento apreciado também na África. Citemos de passagem, para comprová-lo, uma lenda publicada em outro lugar (Verger, 1965: 211), onde Orisàlá oferece caramujos a Odu-Iya Agba, o que provoca entusiástico comentário: “Aquilo era bom. Nunca antes lhe tinham dado de comer coisa tão boa. Esses caramujos que Orisàlá come, devem-lhos dar também daqui em diante”.

O padre Baudin acrescenta, para a alegria dos futuros estruturalistas, que “Obatalá é tudo o que está em cima e Oduwduwá é tudo o que está em baixo. Obatalá é o espírito e Oduwduwá é matéria. Obatalá é o firmamento e Oduwduwá a terra, que é simbolizada por uma cabaça branca munida de uma tampa, que se coloca nos templos”.

As Informações Fantasistas do Padre Baudin

O padre Baudin mistura e confunde com o culto de Obatalá, e sem o menor discernimento, o culto de deuses pertencentes a etnias totalmente diferentes. Ele nos revela gravemente que “em Porto Novo (Baudin, 1884 b: 8) Obatalá é ainda conhecido sob o nome de Onsé. Em todos os casos duvidosos , o rei recorre a ele para descobrir a inocência ou culpabilidade dos acusados. Esse “fetiche” consiste num grosso cilindro de madeira oca, com um metro de altura e da grossura de um homem (…) Coloca-se o “fetiche” sobre a cabeça do acusado que está de joelhos e o segura com toda a força de suas duas mãos. Se o “fetiche” cai para a frente, o acusado é declarado inocente; se cai para trás, é proclamado culpado”. “Havia”, segundo Baudin, “uma criança metida dentro do cilindro para provocar a queda numa direção ou noutra”. Essa descrição pitoresca e divertida do padre Baudin não tem, infelizmente, nada a ver com Obatalá-Orisàlá nem com a etnia iorubá.

Mais adiante (ib.: 12), Baudin divaga e faz de “Obatalá e Oduwduwá uma só e mesma divindade hermafrodita. Essa idéia é representada por uma estátua que só tem um pé e um braço, com uma cauda terminada por uma bola ou um globo”. Em seguida acrescenta, sem o menor discernimento, que “ambos se encontram ainda sob os nomes de Aroni ou Aja”, e diz “mas agora decaíram pouco a pouco ao nível de gênios ou duendes”.

O padre Baudin despoja em seguida Obatalá e Oduwduwá de seu caráter hermafrodita para separá-los “em duas divindades perfeitamente distintas”, que são então representadas separadamentes: Obatalá sob a forma de um guerreiro e Oduwduwá sob a forma de uma mulher amamentando uma criaça (retornando às características de Iyangba de Bowen e do abade Bouche).

Um pouco mais adiante, o padre Baudin separa ainda mais completamente Obatalá e Oduwduwá, “que não estão mesmo mais associados conjugalmente” e faz reinar Oduwduwá como soberana e deusa em Ado, cidade outrora dependente de reino de Benim (chamado Ado ou Edo) e submetida durante algum tempo a uma influência não iorubá. Cada vez mais inspirado o padre Baudin continua a sua descrição: “Um caçador encontra um dia Oduwduwá que passeava na floresta. A deusa propõe-lhe ficar com ele. Assim vivem durante muito tempo, entregando-se ao prazer da caça e da pesca e passando o restante do tempo numa cabana de folhagem posta ao pé de uma árvore no meio da floresta. Finalmente a deusa enjoa do mortal, como havia acontecido com o imortal, e parte, prometendo-lhe que o protegeria sempre, a ele e a todos que se estabelecessem naquele lugar e lhe erigisse um templo no local da cabana. Muitas pessoas vieram alí se fixar e dessa forma foi criada Adó que significa prostituição, em memória da deusa (…), e onde se celebram jogos imundos em sua honra”. O padre Baudin se entrega a insinuações marotas, mas parece ignorar que há numerosas cidades iorubás que têm esse nome. Citemos Adó Ekiti (Abraham, 1958:155), cujos habitantes vieram de Benim e onde os jogos nada têm de particularmente imundos.

Os Compiladores e Discípulos do Padre Baudin

O Tenente Coronel A. E. Ellis publicou por sua vez em 1894 as mesmas divagações, cuidadosamente copiadas por ele do livro do padre Baudin, e, para melhor completar o sistema dualista do tema da falsa dupla Oduwduwá-Obatalá e o tornar comparável à do Yang e do Yin chinês, não hesitou em aproximar a “deusa” Oduwduwá de dudu (Ellis, 1894) negro em iorubá, para a opor a funfun, a cor branca de Obatalá. Mas o tenente-coronel britânico não levou em conta as diferenças de tons (de uma importância primordial em iorubá) existentes entre essas duas palavras.

Além disso, os adeptos de Duduá no Daomé usam colares brancos, pela simples razão que Duduá é o nome dado nessa região do Domé a Obatalá. Mais recentemente em 1950, o padre Bertho publicou um arigo (Bertho, 1950:74) onde declarava ter visto em Porto Novo, no antigo palácio real de Akron (Lokoro dos Iorubá), “um altar dedicado a um casal de divindades, Lissa-Oduwduwá (associando o nome de um vodu fon com o de um orixá iorubá). “Lissa era representada”, escreveu ele, “por uma cabaça branca na frente de um muro pintado de branco, enquanto Oduwduwá o era por uma cabaça negra sobre um muro pintado de preto”. (É preciso notar que não se trata, nessa descrição, de uma cabaça única cortada lateralmente em duas, ou mesmo de duas meias cabaças colocadas uma sobre a outra, mas de duas cabaças completamente separadas.

Interessado por esta descrição fui visitar esses lugar em 1952. A realidade era inteiramente outra. O padre Bertho tinha feito uma terrível mistura, pois Lissa é para os Fon o que Orisàlá é para os Iorubá, e Duduá é o nome dado em Porto Novo a esse mesmo Orisàlá. O casal era formado por uma divindade única e havia realmente “uma cabaça branca na frente de um muro pintado de branco”, mas era de Duduá (que seria negra segundo Bertho), e a cabaça negra era avermelhada, posta diante de um muro pintado de vermelho, e pertencente a Sòngo, o deus do trovão dos Iorubá.

O casal divino dos Fon, do qual um único membro é citado por Bertho, deveria ser Lissa-Mawy, adaptação fon do casal Orisàlá-Yemowo, de Ifé. (1) Sabe-se, com efeito, que esse culto (Lissa-Mawu) foi levado da região de Tchetti, habitada pelas Ana ou Ifé, por Na Wangele, a mãe do rei Tegbessu, e instalado no bairro Djenna, em Abemé, nos princípios do século XVIII.

Sabemos que entre os Fon (Herskovits, 1938, v.II: 101) Lissa é o elemento masculino, que simboliza o oriente, o dia, o sol e que Mawu é o elemento feminino, que simboliza o ocidente, à noite, a lua. Trata-se de um sistem dualista, mas correspondente, como vimos, ao casal Orisàlá-Yemowo, visível sob a forma de estátuas instaladas lado a lado no ilésin, lugar de adoração do templo de Obatalá em Idetá-Ilé, no bairro Itapa em Ifé, muito diferente do casal Orisàlá-Oduwduwá que, unicamente para o padre Baudin e seus discípulos, seria constituído por dois elementos machos. A tradição de Ifé não deixa nenhuma dúvida sobre o caráter agressivo, hostil, antagônico, das relações existentes entre Orisàlá e Oduwduwá, que longe de uni-los num casal geneticamente estéril, os separa e os opõe como se depreende da história antiga do povo Iorubá.

O Padre Baudin e Iemanjá

O padre Baudin, depois de nos ter contado as brigas conjugais entre Obatalá e Oduwduwá (feminizada por ele), continua seu relato indicando (Baudin, 1884 b: 13) que “pouco depois dos esponsais de Obatalá e de Oduwduwá, esta deu à luz Aganju (o deserto) e a Iyemojá (a mãe do peixe). Iyemojá teve de seu irmão um filho, Orúngan (o meio dia, o ar, o firmamento). Mais tarde, ultrajada por seu filho Orúngan, Iyemojá fugiu inconsolável, sem escutar o culpado que a perseguia, suplicando-lhe que voltasse. Quando ele chegou quase a alcançá-la, Iyemojá caiu para trás e seus dois seios cresceram desmesuradamente e se transformaram em duas fontes que deram lugar a uma lagoa que se chama Odo Yemojá, a lagoa de Iyemojá, junto de Okiodan. Mostra-se o lugar em Ifé, a cidade santa dos Iorubá (Ifé significa crescimento). De Ifé, isto é, do seio de Iyemojá, saíram numa confusão extrema, todos os deuses e deusas”, dos quais Baudin nos dá uma quinzena de nomes. Essa lista e as características que ele atribui aos orisá citados confirmam a “confusão extrema” que reina no espírito de reverendo padre. Ele tornou feminina D’Oduwduwá, transformou Olokun, divindade feminina e mulher de Oduwduwá, (2) num deus masculino do mar das gentes de Benim, considerou erradamente Dada, o deus dos vegetais e da natureza, confundiu o deus do ferro Ògún com o rio Ògùn, e divinizou o sol (Orun) e a lua (Oxú), que não são adorados pelos Iorubá. Constatamos que ele também situa Ifé em Oke-Odan, às margens do riacho Yewa, que se encontra a várias centenas de quilômetros de sua posição geográfica real.

Além de misturar em outras partes de seu livro (ib.: 38) os orisá iorubás com os vodus daomeanos, como Ajauto, o antepassado das dinastias reais de Allada, Abomé e Porto Novo, Baudin inventa outros, como Adanzolan, (em lugar de Adandozan) um rei de Abomé destronado em 1818 por seu irmão Ghezo. Confunde igualmente égungun (ossadas) com egúngún (a alma dos mortos), o que é deplorável para o compilador de um dicionário iorubá.

As lendas redigidas pelo padre Baudin foram literalmente copiadas, traduzidas e publicadas pelo tenente-coronel A. E. Ellis, que, entretanto apimenta a história de Iemanjá perseguida por seu filho incestuoso (Ellis, op.cit. 45), atribuindo a estes últimos propósitos galantes e audaciosos quando declarava a sua mãe que ninguém saberia o que se estava passando, que não podia viver sem ela, e lhe elogiava, mesmo, a excitante perspectiva de viver (como em certos lares das upper middle class families da época vitoriana) entre dois maridos, oficialmente com um e secretamente com outro.

O Padre Baudin e Sòngo

Pode-se atribuir ao padre Baudin (Baudin, 1884 b: 22), a menos que pertença a A. L. Hethersett (Hethersett, s/d: 50), uma lenda fantasista fundada sobre uma falsa interpretação do título Oba Koso, rei Koso, usado por Sòngo antes de se tornar o terceiro Aláfin Oyó (Verger, no prelo: VIIIa), o rei dos Iorubá. Essa lenda se baseia num trocadilho publicado pelos dois autores, em que o título Oba Koso aparece como significando “o rei não se enforcou” (Obá Kòso), uma frase que os Mogba, partidários de Sòngo, teriam pronunciado para defender a memória do rei contra as alegações de seus inimigos, que afirmavam que ele teria se enforcado (Obá so) num momento de fraqueza de ânimo quando abandonou o trono. Esses relatos pitorescos e divertidos sobre o suposto fim de Sòngo foram publicados e vendidos “em proveito da” Sociedade das Missões Católicas Africanas de Lyon e da Church Missionary Society (protestante), que não tinham, nem uma nem outra, interesse algum em proclamar a glória de um deus pagão. O reverendo Epega (Epega, 1931), apesar da sua declarada simpatia pela religião iorubá, chegou até a interpretar o nome do dia da semana consagrada a Sòngo, Ojó Jakuta, o dia do lançamento da pedra (aerolito), como o dia em que Xangõ teria sido lapidado por pessoas revoltadas contra ele.

Nenhum dos autores que escreveu anteriormente sobre Sòngo relatou essas bobagens. Crowther declara (Crowther, op.cit.: 227) que “Obba-Kuso é o rei trovão e dos relâmpagos (literalmente, o rei de Kuso, o lugar onde se afirma que Sòngo desceu vivo sobre a terra). Foi assim que começou o culto de Sòngo”; Jean Hess (Hess, 1898:145), que esteve algum tempo em Oyó em 1893, também fala em Ikoso. Nenhum deles faz qualquer alusão a essa história de enforcamento, divulgada por Baudin e Hethersett e retomada por todos os autores que “eruditamente” escreveram sobre o Deus do Trovão.

Os Danos das Informações Fantasistas do Padre Baudin

Alonguei-me um pouco sobre os danos da influência das lendas inventadas pelo padre Baudin e copiadas pelo tenente coronel Ellis, mas era necessário fazê-lo, pois os absurdos publicados por eles servem de ponto de partida e de inspiração para outras e de fundamento para dissertações sobre sistemas teogônicos habilmente estruturados e ornados com efeites psicológicos e genéticos sofisticados, sobre os quais falaremos mais adiante. As lendas do padre Baudin tiveram vida longa, atravessaram o Atlântico, não na memória dos escravos transportados, pela simples razão de que o tráfico negreiro já tinha acabado na época em que Baudin convertia os pagões, mas por intermédio do livro de Ellis, de que Nina Rodrigues teve conhecimento ao escrever seu livro Os Africanos no Brasil, através de certo Lourenço Cardoso, de Lagos, que lhe servia de professor de inglês e tradutor de nagô. Nina Rodrigues publicou-a, mas fez notar que “é de crer que esta lenda seja relativamente recente e pouco espalhada entre os Nagô. Os nossos negros que dirigem e se ocupam do culto iorubano, mesmo os que estiveram na África recentemente, de todo a ignoram e alguns a contestam” (Rodrigues, 1945:353).

Ao longo de pesquisas feitas a partir de 1948 nos meios não letrados dessas regiões da África, nunca encontrei vestígios das lendas inventadas pelo padre Baudin.

Arthur Ramos, sucessor de Nina Rodrigues, cujos trabalhos são influenciados pela psiquiatria, encontrou nos textos do padre Baudin conhecidos através de Ellis (3) o ponto de partida para brilhantes considerações sobre os temas do incesto com a mãe e do triunfo sobre o pai fálico. Assim, através de uma dialética elaborada, Iemanjá acaba por se ver assimilada à mãe fálica! (Ramos, 1940:331).

Os Danos do Estruturalismo Mal Utilizado

Antes de continuar, é preciso expor o que foi escrito pelo reverendo D.Onadele Epega (Epega, op.cit. 5) por volta de 1931, e a que não falta interesse, apesar de seu caráter um pouco bíblico. “Há”, diz ele, “seiscentos imalés (que se chamam também orisá) divididos em dois grupos, duzentos do lado direito e quatrocentos do lado esquerdo. Não se pode falar dos duzentos imalés que estiveram entre os primeiros criados sobre a terra. Mas eles eram muito maus e perversos e foram destruídos. É proibido falar nisso. Ogum serve de intermediário entre esses antigos imalés e os novos. É por isso que se diz que na realidade há quatrocentos e um imalés do lado esquerdo.”

Os descendentes dos Iorubá que vivem ainda no Brasil no decorrer de certas cerimônias (Verger, 1957:272) fazem saudações tanto aos duzentos imalés do lado direito quanto aos quatrocentos do lado esquerdo. Esse número não deve ser entendido como um valor real: duzentos, na nação iorubá, eram símbolo de um número grande e quatrocentos, de um número maior ainda.

Este texto de Epega, juntamente com as indicações errôneas do padre Baudin, serve de fundamento para um livro recente intitulado Os Nagô e morte (Santos, 1975) onde a autora expõe uma concepção toda pessoal das leis que regem o que ela chama de “entidades sobrenaturais” (ib.: 72) dos Nagôs (Iorubá). Trata-se de um “sistema” habilmente estruturado e embelezado com considerações pscicológicas e genéticas cujo exame deixa o leitor inteiramente pasmo!

A autora do livro diz que essas “entidades sobrenaturais” estão divididas em dois grupos: de um lado, os orisá funfun (ib.: 75), orisá brancos, com Obatalá-Orisàlá como líder, que seriam os quatrocentos deuses da direita (em lugar dos duzentos de Epega), deteriam o poder genitor masculino e seriam portadores e transmissores do “sangue branco”, e, de outro, os eborás (ib.: 79) liderados por Oduwduwá, que seriam as duzentas divinidades da esquerda (em lugar das quatrocentas de Epega), deteriam o poder genitor feminino, constituíriam espécies de “ventres fecundados” e, graças à elaborada dialética da autora, seriam, ao mesmo tempo, portadores de “sangue branco, vermelho e preto”. Para ligar tudo, Esú (ib.: 75) — em lugar do Ogum de Epega (Epega, op.cit.: 5) — pertenceria tanto à direita quanto à esquerda, veiculando o asé (a força, o poder) a partir e e em direção de uns e de outros e fazendo com que o conjunto do sistema se intercomunicasse.

Essa estrutura dualista, onde o masculino é posto em paralelo com o feminino, seria perfeita se a feminilidade dos elementos da esquerda não fosse ilusória e não fosse também masculina como a dos elementos da direita, pois exceto para o padre Baudin e seus seguidores, Oduwduwá é do sexo masculino, guerreiro viril, vencedos dos Igbo, fundador de Ifé, pai de numerosos reis e soberano de diversas regiões iorubás. E ainda mais, um eborá é considerado pelos Iorubá como um homem valente e temível, definido no dicionário (Abraham, op.cit.: 73) como strong man, um homem vigoroso. Com isso, todo o sistema desmorona!

As substituições de Ogum por Esú explicam-se pelo interesse demonstrado pela autora por este último orixá, ao qual consagrou diversos estudos (Santos 1971 e 1973). “Ela coloca como princípio que “Esú é o elemento dinâmico” (Santos, 1975:130) (da transmissão do asé), não somente de todos os seres sobrenaturais, mas igualmente de tudo o que existe”, ainda que ela nos diga (ib.: 15) que “seus textos não devem ser considerados como uma supervalorização de Esú”. Ela porém, não deixa claro onde começa a definição de Esú e onde termina a do asé, da força, do poder. Ela dá a impressão de que Esú é ó asé, o que constitui não apenas um notável exagêro, mas também um ponto de vista falso.

Se a autora do livro conta o poder soberano e a universalidade de Esú, não faltam lendas em que, ao contrário, Esú foi vencido por diversos orisá, quando surgiram entre eles conflitos porovocados por questões de primazia e rivalidades.

A expressão “dinamismo” aparece constantemente nos escritos da autora, e esse leitmotiv não deixam de evocar as hipóteses sobre “a força mágica e suas relações com o dinamismo na ciência moderna” (Saint Yves, 1914) dos ocultistas do fim do século passado. Essa psicologia dinâmica e genética (ib.: 121) inspirou a um deles, Mr. Ravaisson, frases cheias de uma poesia um pouco antiquada: “O espírito não se manifesta somente no homem e nos animais superiores, mas murmura na planta e geme na pedra”! Dessa forma celebrava ele a energia psíquica encarada sob uma forma dinâmica… Clara à autora, mas talvez menos familiar ao babalawo iorubá.

No decorrer de suas investigações, a autora recolheu um determinado número de “declarações” em apoio a suas teorias (Santos, 1975:131) sobre a universalidade das atividades de Esú, mas não posso deixar de lembrar que durante a pesquisa de campo geralmente se estabelece uma situação desagradável entre o pesquisador e a pessoa entrevistada. Esta última pega rapidamente o sentido e o pensamento do pesquisador, e cheia de boa vontade, dá as respostas que casam com a hipótese da pesquisa desejada. Ainda que o informante não deforme voluntariamente os fatos, tenta ao menos exprimir-se em termos que ele quer tornar compreensíveis ao interlocutor, sendo o resultado a maior satisfação deste último e um grande prejuízo para a verdade. O abade Bouche reconhecia isso entre 1866 e 1975 (Bouche, op.cit.: 109), dizendo “que os intérpretes negros visam menos a ser exatos do que a não descontentar o branco (freqüentemente irascível quando se vê contrariado em suas teorias pré-estabelecidas), (4) e eles (os intérpretes) não se incomodam com interpretações que sabem ser de seu gosto, ou, pelo menos, de suas idéias”.

É um pouco isso o que deve ter acontecido com as pesquisas da autora. Fui freqüente testemunha da enérgica insistência e da paixão com que ela dirige suas entrevistas, e também do espírito de “compreensão” do babalawo que respondia a suas perguntas. Trabalhei cerca de 15 anos com ele e aconteceu-me recolher as mesmas histórias publicadas pela autora, mas as duas versões apresentam, às vezes, variantes significativas. É verdade que no meu caso as informações eram espontâneas, porque eu não pretendia com essas histórias provar quaisquer teorias pré-estabelecidas.

Esse babalawo tem, entretanto, memória muito segura, e aconteceu de ele me contar a mesma história nos mesmos termos com dez anos de diferença. Mas também aconteceu, quando perguntei se conhecia uma história contada por outro babalawo, de contá-la por sua vez, não sem eu notar que certas frases que eu havia dito para orientá-lo apareciam com insistência, para me demonstrar que não só ele conhecia a história, mas que era a história que eu desejaria ouvir. Parece-me que foram nesse mesmo estilo de oratória que o nosso babalawo deu à autora as informações desejadas por ela sobre a multiplicidade de Esús. Ele satisfez os desejos dela, chegando mesmo a lhe dar os nomes dos Esús pessoais dos 256 odus de Ifá (Santos, 1975:132), atribuindo a esses Esús imaginários, sem maiores preocupaçòes, os mesmos nomes dos citados odus.

A autora de Os Nagôs e a morte afirma igualmente que nos Nagô-Iorubá existem três espécies de sangue (ib.: 41):

  1. O “sangue” vermelho
  2. O “sangue” branco
  3. O “sangue” preto.

Cada um desses “sangues” comporta:

  1. sangue” do reino animal
  2. sangue” do reino vegetal
  3. sangue” do reino mineral.

Não se sabe muito bem por que e onde a autora foi procurar todos esses “sangues”, mas certamente não foi nas tradições conhecidas dos Nagôs (Iorubá). Além disso, salvo quando cita o “sangue vermelho do reino animal” (o sangue dos animais sacrificados), ela fala de seiva, de esperma, de secreções, de hálitos, de metais, de diversas bebidas, de carvão e de cinza, que parecem difíceis de classificar, ainda que simbolicamente, sob o nome de “sangue”.

Encontram-se algumas vezes três cores em certas histórias de Ifá, mas elas são classificadas noutra ordem: branco, vermelho e preto, que evocam alternadamente a cor do céu durante o dia, no crepúsculo e quando chega à noite. Várias páginas do livro de Victor Turner (Turner, 1967:68-81), The Forest of symbols, citado na bibliografia do livro da autora, são consagradas a essas três cores, mas trata-se de um ritual ndembu que não tem nada a ver com o nagô (iorubá).

Outros exemplos de certos tipos de “sangues” dados pela autora em apoio à sua teoria são ainda menos convincentes: ela dá como exemplo de “sangue branco vegetal” (ib.: 41) o Iyèròsùn. Ela declara que o seu nome científico é Eucleptes (em lugar de Euplectes) Franciscan F., que é um pássaro do mais belo “vermelho”, o cardinal BIRD dos ingleses (Abraham, op.cit.: 316). Pode tratar-se de uma planta do mesmo nome de Iyèròsùn, cujo nome científico é Baphia nitida Lodd, Papillionaceae, da qual se extrai uma tinta vermelha para tingir lã (Dalziel, 1948:232) e lenços vermelhos chamados bandana. Esse “sangue”, para empregar a expressão da autora, dificilmente passaria por branco!

Etnografia Religiosa Iorubá e Probidade Científica

O que nos entristece e nos constrange no livro da autora — que é sua tese de doutoramento de terceiro ciclo pela Sorbonne — não é tanto o fato de ela haver-se inspirado em informações errôneas ou provenientes de etnias não-nago, mas o fato de que, para edificar e “estruturar” sua obra, ela manipule e modifique os documentos citados em apoio ao sistema concebido por ela, o que é grave e constitui falta total de probidade científica.

É difícil não mencionar a constante e sistemática confusão criada por ela entre igbádù, a cabaça dos odus, possuída por raros babalaôs e descrita por Maupoil (op.cit.: 84-111), Johnson (Dennett, 1906:253), Bertho (1951:331-350) e Bascom (1969:82) e igbá Odùa, de que falam, como vimos acima, Crowther e em seguida Baudin, Ellis e seus seguidores, porém com características já modificadas.

A autora escreve, por exemplo, que “segundo certos mitos (ib. 59), Odùdua, igualmente chamado de Odùa, é a representação deificada de Iyámi (a feiticeira), a representação coletiva das mães ancestrais e princípio feminino, origem de tudo”. Assim, Oùa corresponde a Obatalá ou Orisàlá, que é o princípio masculino. A autora faz alusão (ib.: 108), para justificar essa afirmativa, a uma história de Ifá por mim publicada (Verger, 1965:151 e 205-206), na qual ela substitui Odù por Odùa e atribui em conseqüência a Odùa o que está dito a respeito de Odùna minha história. Ela escreve então: “Três orisá, Odùa [Odù no meu texto], Obarixá, (Obatalá-Orisàlá) e Ogum chegaram a terra. Odùa [em vez de Odù] é a única mulher entre eles e queixa-se a Olorum (Deus supremo) de que não tem nenhum poder. Olorum escolhe-a para ser a mãe para a eternidade. Ele lhe dá asé (o poder) sob a forma de uma cabaça contendo um pássaro, símbolo do poder das feiticeiras…” Mas trata-se, repetimos, de Odù e não de Odùa na história publicada por mim, tendo ela feminizado Odùa (Odùduà), que é do sexo masculino. Não se trata de um erro de leitura ou de redação, pois a autora deixa permanecer Odù em várias passagens de seu livro (ib. 109, linhas 18 a 21).

Reciprocamente, ela troca o Igbá Odùa por Igbádù (ib. 66), quando escreve: “Segundo os autores mais antigos, partindo do rev. Crowther e passando pelo rev. Bowen e tantos outros, o Igbádù tem sido objeto de considerável interesse…” Graças a essas confusões, atribuindo a Odùa (que é masculino) as características de Odù (que é feminino), a autora de Os Nagôs e a morte justifica o sistema dualista imaginado por ela.

Contrariamente ainda ao que escreve a autora em questão, não existem seiscentos imalés formando dois grupos onde quatrocentos machos se opõem a duzentas fêmeas, que também não formam um grupo hierárquico, único e idêntico para o conjunto do território iorubá. O culto dos orisá está ligado à noção de família, à família entendida como originária de uma cidade bem determinada. Resulta daí, de acordo com as diversas regiões, variações locais onde os orisá que ocupam uma posição dominante em certos lugares são toalmente desconhecidos em outros. O culto de Sòngo, que ocupa o primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexistente em Ifé, onde um deus local, Oramfé, é ligado ao trovão em seu lugar. Oxum, cujo culto está muito evidência na nação Ijexa, é ausente na nação de Egba etc.

A posição de todos esses orisá depende da história das cidades onde reprentam divindades protetoras. Sòngo, quando vivo, era o terceiro rei de Oyó; Oxum fez um pacto em Oxogbo com Laro, o fundador da dinastia dos reis locais; Odùdùa, fundado da cidade de Ifé, cujos filhos se tornaram reis de outras cidades iorubás, conservou um caráter mais histórico e até mais político que divino e não tem nada a ver com os “ventres fecundados” da autora de Os Nagôs e a morte. Outros orisá têm uma área de difusão muito maior, como Obatalá, o antigo rei dos Igbô, divinizado (5) como deus da criação, ou Ogum, deus dos ferreiros e dos que utilizam o ferro, cuja importância ultrapassa o quadro familiar de origem.

Algumas divindades disputam entre si as mesmas atribuições em lugares diferentes: Sòngo em Oyó, Oramfé em Ifé, Aira em Savé, são todos senhores do trovão; Ogum encontra êmulos guerreiros e caçadores em diversos lugares, como Ija na região de Oyó, Oxóssi em Ketu, Oré em Ifé, e como Logunede, Ibualama e Erinle na nação Ijexa; Osanyin em Oyó e entre os Egba desempenha o mesmo papel curandeiro que Elesijé em Ifé.

Em vista dessa extrema diversidade e das numerosas variações de coexistência entre os orisá, é impossível ficar cético diante de concepções sistematicamente estruturadas.

Nessa constante procura de elementos diversos para elaborar seu sistema dualista, a autora não se contenta com “os orisá masculinos da direita e os eborás pseudo-femininos da esquerda”, todos em princípio ancestrais longíquos divinizados, mas passa do domínio dos deuses para o das almas-do-outro-mundo e das feiticeiras, reunidas, escreve ela, em duas sociedades, uma de antepassados masculinos reservada aos homens agrupados em volta dos egúngún, e outra de antepassados femininos reservada às mulheres agrupadas em volta dos geledé, pessoas mascaradas (sempre homens, entretanto) que dançam para acalmar e tornar favoráveis as Iya Aje. Essas feiticeiras controlam a fecundidade das mulheres e têm tendência a manifestar seu mau humor, desencadeando diversas calamidades, como secas prolongadas que destroem as colheitas, invasões de ratos, epidemias e outras manifestações maléficas.

A autora escreve poeticamente (ib.: 92) que “as folhas brotadas sobre os ramos e os troncos (das árvores) simbolizam descendentes. As palmas recém-nascidas do igi-opé (palmeira) chamadas màrìwò, (6) constituem a representação mais importante de Ogum (ib. 93). Ela aproxima então esse màrìwò (que consta de três sílabas de tom grava) a outro màríwo (7) (cujas sílabas são de tons graves, agudo e médio), que em iorubá forma uma palavra completamente diferente da primeira na significação e na grafia. Esse segundo màríwo significa “a voz ou grito de Egúngún”.

Aproximando essas duas palavras, a autora escreve (ib. 126): “os Ojé constituem o corpo sacerdotal do culto (dos Egúngún)”, e acrescenta “Màrìwò [em vez de Màríwo] é o nome simbólico dos Ojé, associado às palmas desfiadas do igi-òpe, os descendentes da palmeira, identificada com os ancestrais”. Tinha ela, porém escrito o contrário num trabalho anterior (Santos, 1969:98): “O Ojé é também conhecido como Màrìwò [em vez de Màríwo]. A relação deste nome com o màrìwò, palma desfiada, tem ainda de ser estabelecida.”

Ela fundamenta então agora uma teoria bastante sofisticada, confundindo, entretanto, e reunindo sob uma mesma designação noções que é na realidade diferente, sem haver mesmo entre elas nenhuma relação de significado. O mais grave é que o conteúdo da obra Os Nagôs e a morte como aconteceram com escritos precedentes, citados no início deste artigo serve de referência e ponto de partida para novos trabalhos baseados assim em informações inexatas.

Exsite na autora uma tendência um pouco hoffmanesca para as almas-do-outro-mundo, as feiticeiras e Esú. Ela tem todo o direito de seguir suas inclinaçòes, mas onde estamos menos de acordo é quando, partindo de dados inexatos, algumas vezes manipulados, ela edifica “sistemas” de uma lógica impeçavel, muito bem acolhidos, diga-se de passagem, nos congressos científicos internacionais, mas que, examinados com cuidado, são um tecido de suposições e de hipóteses inteligentemente apresentadas, não tendo nada a ver com a cultura dos Nagô-Iorubá e correndo o risco de contaminar as tradições transmitidas oralmente, ainda conservadas nos meios não-eruditos. Nós não estamos mais no tempo de Nina Rodrigues, quando as tradições eram ainda bastante fortes para negar e rejeitar as extravagâncias do padre Baudin, do tenente-coronel Ellis e de compiladores e intelectuais diversos.

NOTAS

1. Quando uma palavra passa do vocabulário iorubá para o fon, tem sempre suprimida a volgal do início e os r se transformam em l.

2. “Olokun chegou a Ifé ao mesmo tempo em que Odùdùa. Ela era uma mulher elegante que ele gostava de exisbir em público, adornada com muitas jóias.”

3. De fato, parece que Ramos teve conhecimento dos textos de Ellis através de Nina Rodrigues. Escreve ele na página 31 de O negro brasileiro que “adianta Ellis que este mito de Iemanjá é comparativamente recente“, porém esta frase fora escrita por Nina Rodrigues, sendo opinião pessoal.

4. A frase entre parênteses é do autor deste artigo.

5. Obatalá depois de sua derrota perdeu o trono, mas passou à categoria de divindade.

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OSONYIN

OSONYIN, O SENHOR DAS FOLHAS.

Originário de Iraò, atualmente na Nigéria, não fazia parte dos 16 companheiros de Odùwdùwa quando da chegada de OBATÁLÁ (OSÀLÁ). Patrono da vegetação rasteira, das folhas e de seus preparos, defensor da saúde, é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas. Cada Orisá tem a sua folha, mas só Osonyin e Erinlé detêm seus segredos. E sem as folhas e seus segredos não há asé, portanto sem ele nenhuma cerimônia é possível. Osonyin usa uma cabaça chamada Igbá-Osonyin. Fuma, come mel e bebe bebida alcólica.

Osanyin também é um feiticeiro, por isto é representado por um pássaro chamado Eleyé, que reside na sua cabaça. As proprietárias do pássaro do poder são as feiticeiras. Ele carrega também sete lanças com um pássaro em cima da haste, o qual é seu mensageiro e voa para trazer-lhe notícias. Osanyin está extremamente ligado a Orunmilá, Senhor das Adivinhações. Estas relações, hoje cordial e de franca colaboração, atravessaram no passado período de rivalidade.

Osonyin recebeu de Olodunmaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidentes. Os outros Orisás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Osonyin para manter sua saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.

As folhas de Osanyin veiculam ao asé oculto, pois o verde é uma das qualidades do preto. As folhas e as plantas constituem a emanação direta do poder da terra fertilizada pela chuva. São como as escamas e as penas, que representam o procriado. O sangue das folhas é um dos asés mais poderosos, que traz em si o poder do que nasce e do que advém.

OSANYIN existe em todas as folhas, por isso quando se queima a mata ele fica revoltado com o ser humano, que destrói a força da natureza, que é a cura de todas as doenças que existem e que vão existir.

Lendas

… Osonyin foi escravo

A história revela que Osonyin era escravo de orunmilá e recusava-se a cortar as folhas que teriam inúmeras utilidades na manutenção da saúde das pessoas: ervas que curam febres, as dores de cabeça e as cólicas. Tomando conhecimento do fato, Orunmilá quis ver quais eram as ervas de tão grande valor. Convencido do conhecimento de Osonyin, Orunmilá percebeu que ele poderia lhe ser útil e o manteve para sempre a seu lado para as consultas.

… O segredo das folhas lhe pertence

Sòngo, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e impetuoso, irritado por não deter os conhecimentos secretos sobre a utilização das folhas, usaram de um ardil para tentar usurpar de Osonyin a propriedade das folhas. Falou dos planos à sua esposa Oyá, a senhora dos ventos. Explicou-lhe que, em certos dias, Osonyin pendurava, num galho de Iroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas. “Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias”, disse-lhe Sòngo.

Oyá aceitou a missão com muito gosto. O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram. Os Orisás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Osonyin permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. E, assim, continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto. Graças ao poder (asé) que possui sobre elas.

… O nome das plantas

Òrúnmílá dá a Òsonyìn o nome das plantas. Ifá foi consultado por Òrúnmílá que estava partindo da terra para o céu e que estava indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse, eis todas as folhas que queria pegar o que fará com elas? Òrùnmílá respondeu que iria usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra. Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou Òsonyìn no caminho
Perguntou: Òsonyìn aonde vai? Òsonyìn disse; “Vou ao céu, disse ele, vou buscar folhas e remédios”. Òrúnmílá disse muito bem, disse, que já havia ido buscar folhas no céu, disse, para benefício dos seres humanos da terra. Disse, olhe todas essas folhas, Òsonyìn pode apenas arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer remédios (feitiços) com elas, porém não conhecia seus nomes. Foi Òrúnmílá quem deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia. Ele disse, você Òsonyìn carrega todas as folhas para a terra, disse, volte, iremos para terra juntos.
Foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsonyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsonyìn o nome das folhas apanhadas.

… Livre para o mundo

Desde pequeno Òsonyìn andava metido mata adentro. Conhecia todas as folhas, sabendo empregá-las na cura de doenças e outros males. Um dia Òsonyìn resolveu partir pelo mundo. Por onde andava era aclamado como o grande curandeiro.
Certa vez salvou a vida de um rei, que em recompensa deu-lhe muitas riquezas. Òsonyìn não aceitou nada daquilo; disse que aceitaria somente os honorários que seriam pagos a qualquer médico.
Tempos depois, a mãe de Osonyin adoeceu. Sendo procurado por seus irmãos e para espanto destes, Osonyin exigiu o pagamento de sete cauris por seus serviços, pois não poderia trabalhar para quem quer que fosse ao mundo, sem receber algo. Mesmo contrariados os irmãos pagaram-lhe os sete cauris e sua mãe foi salva. Osonyin curou a mãe e seguiu caminho, pois ele é a folha e tinha que estar livre para o mundo.

… Novamente Sango

Òsonyìn havia recebido de Olodunmaré o segredo das ervas. Estas eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Sangô se queixou à sua mulher, Oyá, senhora dos ventos, de que somente Òsonyìn conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no mundo sem possuir poder sobre nenhuma planta.
Oyá levantou as saias e agitou-as, impetuosamente. Um vento violento começou a soprar. Òsonyìn guardava o segredo das ervas numa cabaça pendurada num galho de Iroco. Quando viu que o vento havia soltado a cabaça e que esta tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou “Ewê O!! Ewê O!” (Oh! as folhas!! Oh! as folhas!!)
As folhas voaram pelo mundo e os Orisás se apoderaram de algumas delas, mas Òsonyìn continuou dono do segredo das suas virtudes e dos cantos e palavras que devem se dizer para que sua força, Asé, apareça.

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CRANIO DE CRISTAL. 1

Os crânios são feitos de cristal de rocha, alguns de ametista. Datam de 12.000 anos. Estudos provam q demoraram-se em média 150 anos para esculpir alguns dos mais perfeitos. Foram achados nas ruínas Mayas, no México, em 1889. Foi encontrada também na América do Sul, Rússia, Europa. Os parapsicólogos descobriram q emana uma intensa energia desses crânios e aí q está à dúvida, como q essa energia se manteve?

 
Palavras expelidas by HarleyWoman  

Crânios de cristal foram encontrados no México, América Central e América do Sul e é uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX. Cada peça foi esculpida em um único bloco de cristal por volta do ano 1.000 a.C., com uma perfeição de detalhes que só poderia ser repetida pela tecnologia atual. O peso médio de cada crânio é de 5 quilos, com as dimensões de 13 cm de altura, 13 cm de frente e 18 cm de profundidade. Ao todo são 13 peças, hoje espalhadas por museus de todo mundo. As teorias sobre quem teria confeccionado os crânios apontam desde os Aztecas até inteligências extraterrestres, mas ainda não podemos ter a menor idéia de ‘como’ eles fizeram isso… Muitas pessoas acreditam que os crânios são capazes de transmitir e absorver “vibrações”, agindo como condutores de energia psíquica.

Você deve achar que vivemos num mundo tecnologicamente desenvolvido, certo?

De certa forma, sim. Temos computadores, facilidade de comunicação, maquinas que substituem o homem, etc. Mas como podemos analisar a tecnologia empregada em grandes obras/objetos descobertos ao longo da história, tais como as pirâmides do Egito, o Círculo de Stonehenge, os Crânios de Cristal? Hum? Crânios de Cristal? Isso mesmo!

E o que são os Crânios de Cristal?

Bem, os Crânios de Cristal são antigos artefatos místicos, que foram encontrados em ruínas arqueológicas na América Central, México e América do Sul. São objetos de uma complexidade imensa. Tal complexidade não permite que as pesquisas sobre estes estranhíssimos artefatos sejam conduzidas dentro das técnicas convencionais. Por isso, todos os fenômenos observados nos Crânios, por enquanto, são inexplicáveis.

Os Crânios têm o formato de um crânio humano, com aspecto e dimensões semelhantes. São feitos, obviamente, de cristais, mais especificamente, de tipos de cristais de quartzo. Esse cristal possui uma série de propriedades específicas, o que deve ter sido fundamental para a escolha de tal material. O chamado “Efeito Piezelétrico” é uma das características do quartzo. Segundo DaEl, o quartzo amplifica, transforma, concentra e transfere energia. Essa teoria foi parcialmente comprovada por meu professor de física, Sérgio Coelho, que, em recente entrevista concedida a mim, afirmou: “Meu filho, o que se sabe é que o quartzo também funciona como um capacitor…” (Valeu Sérgio!) Outro fato importante: quando submetido à pressão, o quartzo é capaz de gerar eletricidade. Esse tipo de cristal tem uma possível capacidade de assimilar informações, que seriam armazenadas em estruturas atômicas altamente ordenadas.

Um processo de armazenamento desse tipo possibilitaria a manutenção de formas de pensamento (memórias), energia e impressões visuais. Acredita-se que os Crânios de Cristal registraram vibrações em forma de imagens dos eventos que ocorreram nas proximidades deles. São imagens holográficas, formadas internamente, que retratam alguns momentos de antigas civilizações e da própria história da Terra.

O Crânio de Mitchell – Hedges (considerado o mais poderoso de todos), por exemplo, revela imagens de culturas altamente desenvolvidas: uma que, supostamente, teria vivido (ou ainda vive) no mundo submarino, outra que vivia no interior da Terra e uma terceira, que habitava um lugar desconhecido deste planeta. O Crânio de MH revela que a Terra teria passado por quatro grandes catástrofes geográficas (Zonas glaciais transformadas em tropicais, áreas tropicais movendo-se para o Sul e transformando em glaciais. Ocorrência de grandes terremotos, inundações etc.). Cada vez que ocorria uma dessas catástrofes, surgiam estranhos objetos, parecidos com (ou eram?) naves espaciais, que retiravam as pessoas das regiões atingidas. Essas imagens podem ser observadas por qualquer pessoa que mantenha contato com um dos crânios. As formas de ativação são diferentes, em geral, a ativação é feita através da respiração, luzes, sons e toques. De acordo com os pesquisadores, cada crânio (treze são conhecidos) funcionaria como um avançado computador ligado a uma espécie de central, compartilhando, recebendo e enviando informações. Mas quem estaria no comando dessas(s) central (is)? Aliens? Muito provavelmente! Em todas as regiões onde os crânios foram encontrados, há indícios de atividades ligadas a Ovnis.

Curiosidade: em seus hieróglifos e esculturas, os egípcios retrataram a presença dos chamados “Amigos do espaço”.

Bom, estes são alguns dos Crânios de cristal:

§— Crânio de Mitchell – Hedges —§

Feito de puro cristal de quartzo transparente, o Crânio de MH, encontrado em Belize, 1924, é considerado o mais poderoso dos Crânios de Cristal. O pesquisador Frank Dorlarnd acredita que o Crânio de MH é a réplica de um crânio feminino, com idade aproximada entre 20 e 29 anos.

Em 1970, o Crânio de Mitchell – Hedges foram submetidos a uma serie de testes na empresa Hewlett-Packard, a então possuidora do mais sofisticado laboratório para a análise de cristais. Os pesquisadores descobriram que era (ainda é!) humanamente impossível fabricar outro crânio como aquele. Descobriram também, que o cristal foi esculpido (estima-se que, se esculpido manualmente, o processo teria levado mais de 300 anos) fora do seu eixo natural, ou seja, ele deveria estar em pedaços. Durante os testes, um detalhe deixou os cientistas intrigados: não importava a temperatura a que fosse submetido o crânio, ele sempre mantinha a constante de 21 graus Celsius. Misterioso?

§— Crânio de Quartzo Róseo —§

Atualmente, encontra-se na Guatemala, onde foi visto pela última vez em 1986.

§— Crânio Maia —§

Descoberto em 1912, Guatemala.

Diferentemente do que mostra o Crânio de Mitchell – Hedges, este crânio revela apenas a ocorrência de três catástrofes geográficas. Ao submeter o Crânio Maia a teste, foi possível observar que quando se projetava um feixe luminoso sobre qualquer parte o crânio, este sai pelo Terceiro Olho, ou seja, ele é prismaticamente ajustado para que isso aconteça. Também foi descoberta a capacidade que esse crânio tem de traduzir antigas linguagens em pensamentos modernos.

§— Crânio de Ametista —§

É feito de Ametista roxa e possui cerca de 3.4kg.

As pesquisas sobre o Crânio de Ametista revelam que ele, possivelmente, é o crânio mais antigo. Afirma-se também, que o Crânio de Ametista teria pertencido ao povo de Atlântida. Ao longo dos séculos, o crânio foi manipulado por diversas civilizações, dentre elas, o Egito. Muitos acreditam que o Crânio de Ametista esteve na mão de Alexandre, o Grande. Existe a lenda que diz que um dos principais motivos das Cruzadas terem ido ao Ocidente era para conseguir a posse do Crânio de Ametista, além da procura pelo Santo Grall.

Foi visto pela ultima vez na Califórnia, EUA.

§— Crânio Inglês (Asteca) —§

Encontra-se atualmente no Museu da Humanidade, em Londres.

§— Crânio Templário —§

Encontra-se em poder de uma sociedade secreta na França, que o chama de “O Sangue de Cristo“.

Dentro do crânio, são observadas imagens em que aparecem cavaleiros com grandes cruzes vermelhas sobre as armaduras. Estes seriam possíveis cavaleiros das antigas cruzadas.

§— Crânio de San José —§

Foi encontrado em uma tumba mexicana do século IX. Sua existência foi calculada anterior ao século III. Ao ser examinado com lentes, projetou uma série de imagens onde se viam batalhas, rituais e sacrifícios humanos.

§— Crânio de Paris —§

É feito de quartzo opaco, um pouco menor que o Crânio de MH.

Atualmente está no Museu Trocadero, em Paris. O Crânio de Paris, quando observado, pode causar uma sensação muito estranha, mesmo através de fotos.

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Uma coisa deve ficar bem clara: esses crânios existem realmente! Não pense que é uma historinha mirabolante! Os fatos são reais e inexplicáveis! Todos esses crânios estão ligados a fenômenos estranhos, civilizações passadas, atividade paranormal, aliens etc. Cabe a você tirar as devidas conclusões.

Quem teria confeccionado os crânios?

O Crânio de Mitchell – Hedge apresentou o que seria a prova definitiva da existência de ETs. Uma das primeiras fotos desse crânio revelou a imagem de uma nave espacial!!! Isso mesmo! A imagem de um Ovni… Será por isso que pouco se fala nos Crânios de Cristal?

Você decide!

 

:. Caveiras Compostas por Pedras

Alguns dias depois, a família maia proprietária de uma caveira contatou a loja. Após uma nova chamada telefônica, Joke aceitou ficar com a peça sem vê-la. Finalmente, em abril de 1991, tive que viajar a Los Angeles para dar uma conferência sobre as caveiras de cristal. E curiosamente, a loja envolvida na transação tinha um ponto de venda no mesmo local onde se deu a conferência, de modo que, através de seu dono, Eric conheceu Joke. Que havia viajado aos Estados Unidos para fechar o negócio com o crânio. Joke reconheceu meu nome de imediato como o autor de livros e ambos vimos o ET (como decidimos chamar a caveira) ao mesmo tempo. Estas não são as únicas. Existem outras caveiras de cristal que tem saído à luz, todas elas encontradas no início deste século. Aqui temos uma breve sinopse das mais importantes:

Crânio de Ametista – trata-se de uma peça única talhada em ametista (uma espécie de quartzo transparente de cor violeta) e descoberta por um maio em um esconderijo de relíquias no México, entre os anos de 1915 e 1920. Acredita-se que hoje esta peça encontra-se exposta em um grande banco do Japão

Crânio Maia – talhada como uma só peça de cristal de quartzo transparente e descoberto na Guatemala em 1912, também estava em poder da mesma irmandade maia. Esta caveira e a de ametista têm uma aparência similar, já que os traços faciais estão trabalhados de uma macieira parecida e ambas possuem marcas circulares na área da testa. O paradeiro, atual desta é completamente desconhecido.

Max, a caveira de cristal do Texas – atualmente em poder de Arma e Carl Parks, de Houston, Texas. Trata-se de urna peça única de quartzo transparente bastante grande e pesada, chegando a atingir mais de oito quilos. Supostamente foi doada por nativos guatelmatecos a um médico tibetano na década de 60. O Parks financiou a este médico a construção de um centro de saúde local, e quando pronto, em 1981, o tibetano enviou-lhes a caveira de cristal como sinal de agradecimento. Em 1987, após ver um programa de televisão sobre as caveiras de Mitchell-Hedge foi divulgado também a existência desta outra relíquia. Atualmente, ao menos durante dois ou três finais de semana ao mês, a senhora Parks viaja com Max pelos Estados Unidos.

Caveira do Instituto Smithsoiano – há algum tempo, o Instituto Smithsoiano de Washington adquiriu uma caveira de cristal muito grande – de 13,9 quilos -, procedente de um doador desconhecido. A característica mais importante desta caveira é a agulheta que tem em seu interior.

Crânio de José – certa vez eu dava uma conferência em Lãs Vegas, em l 989, quando um senhor ele aspecto hispano me abordou e disse que tinha em seu poder uma caveira de cristal, desde 1942 – época em que seu colégio visitou um acampamento maia. Era pequena, podia caber em uma reduzida caixa de madeira e estava cheia de quartzo transparente. Suas particularidades eram os símbolos maias talhadas na superfície. Havia um desenho espiral gravado em cada orelha e um círculo duplo na parte superior da cabeça. José lníguez. o proprietário dela, que faleceu em l 933, sempre afirmou que a partir do instante em que a teve consigo, obteve tudo o que havia desejado e sonhado em sua vida. Ao que parece, existia uma caveira de ametista no solo juntamente a esta, mas um amigo de José sumiu com ela, sem deixar vestígios.

Caveiras de cristal do Peru – um professor espiritual inca me informou que numa de suas viagens pelo norte do Peru (a cerca de 10 a 15 anos), quando ensinava aos índios a cosmologia inca, estes lhe mostraram uma caveira de quartzo transparente. Ela tinha uma forma mais parecida com a de um ET: uma mandíbula ligeiramente pontiaguda e havia estado em poder desta tribo durante bastante tempo. A caveira era de cor azul nos olhos e na parte superior do crânio.

No final da década de 1890 apareceram no México duas caveiras de quartzo transparente. Tratava-se de duas peças únicas em seu gênero, supostamente descobertas por mercenários que obtiveram as caveiras de camponeses locais, que por sua vez, roubaram de tumbas da região. Uma dessas peças é conhecida atual-mente como “a caveira de cristal britânica”. Ao que parece, a famosa joa1heria nova-iorquina Tiffany’s comprou uma das caveiras e depois, em 1898, o Museu Britânico a adquiriu por cerca de 200 Reais e ela permanece lá até hoje…

A outra é chamada de “Caveira de Paris”, exposta no Museu Trocadero, da capital francesa. Tem uma agulheta que atravessa de cima a baixo (supostamente feita por um grupo cristão para inserir nela uma cruz). Seu estilo, forma e cortes são similares a outras caveiras de cristal menores descobertas em diversas ruínas do México e atribuídas aos astecas. Os traços faciais são muito toscos se comparados com as demais do mesmo material, mas esta é quase de tamanho humano.

No momento em que saiu a público o mistério das caveiras de cristal foi aparecer em cena o chamado crânio de Mitchell-Hedges. Esta peça foi descoberta nas ruínas de uma cidade maia em Belize (Honduras Britânicas) em 1924. Naquele ano, o explorador F. A. Mitchell-Hedges realizou uma expedição ao coração de Belize com a intenção – sempre, segundo o relato de sua filha adotiva, Arma – de encontrar evidências arqueológicas da Atlântida perdida.

Famosa Caveira Achada em Caverna Maia

Os nativos locais guiaram-se até umas ruínas maias, completamente escondidas pela vegetação. Assim que a eliminaram com fogo, surgiu uma grande cidade com muitos edifícios. Ao que parece, e antes do descobrimento oficial aquela localidade recebia, no dialeto maia, o nome de Lubaantum, que significa Cidade da Pedra Caída. Arma afirma que no dia de seu 17º aniversário, enquanto caminhava pelas ruínas, algo refletiu a luz do Sol, atraindo a c sua atenção. Naqueles dias, seu pai se encontrava na Inglaterra arrecadando recursos financeiros para a expedição, e quando regressou Arma lhe mostrou imediatamente o referido lugar.

Após algumas horas levantando pedras pesadas, ajudados pela população local, acharam a parte superior de um crânio de cristal perfeito. Seis semanas mais tarde, em uma área diferente, cheia de andares, a mesma equipe de homens descobriu a sua mandíbula. Tratava-se de um objeto fabricado com quartzo transparente, formado por duas peças distintas, com uma mandíbula articulada e do mesmo tamanho que um crânio humano.

Em 1964, Arma Mitchell-Hedges conheceu um pesquisador de enigmas arqueológico chamado Frank Dor-land, durante a Exposição Universal de Nova York. Dorland investigou esta caveira de cristal durante os seis anos seguintes até que, finalmente, decidiu levá-la a Hewlett Packard, uma companhia de computadores.

Esta empresa, que dispõe de um dos laboratórios de cristal mais sofisticados do mundo, examinou o crânio em 1971. Entretanto, os especialistas não se mostraram demasiados seguros em poder duplicar a peça, mesmo empregando a tecnologia mais sofisticada ao seu alcance. Descobriram que o fabricante da caveira havia tentado seguir a natureza do quartzo, e que havia dado forma ao cristal completamente ao contrário.

[Assim mesmo, a caveira parecia dispor de um elaborado sistema interno de] entes e prismas, devido à forma que refletia e refratava a luz quando esta passava através dela. Porém, é necessário lembrar que o cristal de quartzo não apresenta tais propriedades no estado natural. E ainda que muitos escultores contemporâneos afirmem, hoje, poder duplicar a forma externa da caveira de cristal de Mitchell-Hedges, ninguém produziu uma peça sequer que produza o estranho fenômeno é observado na peça original. De resto, a expectativa criada desde o início por esta caveira levaria Arma a viajar com ela pelo mundo, partindo de seu refúgio em Toronto, Canadá. Recentemente, a filha de Mitchell-Hedges afirmou em público sua in-tensão de retirar-se da Inglaterra… Levando consigo a caveira, é lógico. Entretanto, existem outros crânios. Em 1906, uma família maia que vivia na Costa Rica, estava cavando as terras de sua propriedade quando, de repente, uma das pás bateu em algo duro.

Após escavar a área, apareceu uma caveira de cristal de tamanho humano. Embora nunca estivesse segura da importância que tinha esse objeto, a família não hesitou em utilizá-la por um tempo com propósitos cerimoniais. De resto, na divulgação posterior deste achado, contribuiu, fortuitamente, o livro de minha autoria Mysteries of tbc crystalskull revealed (Mistérios revelados da caveira de cristal).

Joke Van Dieten, que é a proprietária atual dessa peça, encontrou a obra em uma livraria de Vancouver, Canadá. Não a leu imediatamente, mas levou-a a Costa Rica, onde estava vivendo desde então. Um dia, ao abrir o livro, seus olhos se dirigiram a uma lista de vendas de cristal perto de Los Angeles. Fez uma chamada internacional e falou com o proprietário de uma delas, perguntando-lhe se tinha alguma caveira de cristal antiga de tamanho humano à venda ou se sabia de alguém que tivesse.

O dono, que era amigo meu, pensou que a senhora estava louca, e explicou-lhe que existiam poucas caveiras de cristal antigas disponíveis naquela época (1991) e nenhuma estava à venda. Então Joke, contou-lhe sobre o material que possuía e pediu para que ele entrasse em contato com ela caso conseguisse algo no mesmo estilo, porque ela estaria com pretensão de completar sua coleção.

 Valiosas Informações no Interior das Caveiras

Uma das chaves que poderiam desvendar o enigma das caveiras de cristal é o material com que foram talhadas: o quartzo. Hoje estamos familiarizados com a utilização deste material em quase todos os aparelhos eletrônicos, inclusive os microchips utilizados em computadores. A propriedade do quartzo é a sua capacidade de amplificar qualquer corrente elétrica que passe através de si.

Essa é a razão por que os computa-dores são cada vez menores, já que só necessitam de uma pequena par- cela de corrente elétrica para que funcionem. Curiosamente, muitos médicos sabem também que o quartzo tem incalculáveis efeitos terapêuticos já que o corpo humano possui um campo eletromagnético ao seu redor. O cristal tem o poder de amplificar e ativar o organismo, modificando nosso estado vital. E pode ajudar pessoas a abrirem-se mentalmente e desenvolver por completo seus próprios dons psico-espirituais.

Espetáculo Programado do Conhecimento

Mas existe mais. Diversos estudiosos calculam que o material com que foram fabricadas as caveiras permita armazenar em seu interior, devido a algum sistema que desconhecemos in-formações valiosas; pensa-se também que, para acessá-las, bastaria que a pessoa alcançasse uma vibração interna apropriada e tivesse o coração aberto. Essa idéia apareceu pela primeira vez no livro The skull speaks, escrito em meados dos anos 80, e se baseia na in-formação canalizada pela médium britânica Carrel Advise que nunca esteve diante da caveira Mitchell-Hedges.

Durante o transe, a médium disse várias coisas interessantes. Em primeiro lugar, assegurou que esta caveira de cristal, junto a outros artigos sagrados, era um espetáculo de conhecimento que foi programado no passado mais remoto do planeta por uma raça mais evoluída de seres, provavelmente, de Atlântida. E avisou que este antigo computador (a caveira) só seria acessível a pessoas de boa intenção, com as quais compartilharia telepaticamente alguma informação.

Uma idéia curiosa que, por certo, poderia ter lógica se levarmos em conta que a imagem da caveira representa para muitas culturas o Terceiro Olho. Até agora, o consenso geral de quem investigou o mistério é que possivelmente uma ou várias civilizações antigas, dotadas de grande sabedoria e avançados conhecimentos cósmicos – se não forem de origem extraterrestre – estiveram tentando introduzir as caveiras de cristal entre seres humanos com a intenção de proporcionar-lhes uma poderosa ferramenta.

Tal instrumento seria capaz de ajudar a Humanidade a aumentar seu nível de consciência e vibração. Muito se tem a falar sobre estes enigmáticos crânios de vidro, pois as conclusões não são ainda definitivas. Tudo o que posso dizer é que aparecem cada vez mais e parece que muitas culturas indígenas – íncas, índios norte-americanos, maias, astecas, aborígenes africanos etc. – conheciam sua existência

E se falarmos de toas às lendas mantidas entre esses povos cabe deduzir que a caveira de cristal teve uma poderosa influência nas antigas civilizações; razão pela qual o estudo mitológico é um ponto importante para compreender melhor seu papel no presente. Por outro lado, e ainda que alguma vez – com muita dificuldade – tenha sido possível reunir algumas das caveiras de cristal que atualmente se conhecem, são muitos os que opinam. E á medida que nos familiarizamos com este poderoso instrumento chegara o momento propício em que todas as caveiras de cristal se reunirão…

Para algumas pessoas, a revelação pública de objetos sagrados como as caveiras de cristal e o sinal de que existiam anciãos de diferentes tribos indígenas desejando compartilhar suas antigas tradições com os demais, são referências que indicam o cumprimento de diversas profecias, as quais assinalam uma transformação global em curso. Isto significa que nosso mundo esta a ponto de se transformar em um nível mais alto de consciência e que estamos preparados para usar os instrumentos eficazes herdados de nossos antepassados para ajudar a completar esse processo.

Para muitos, existem também uma conexão entre as caveiras de cristal e os Ovnis… Na medida de que ambos os fenômenos podem ser estímulo exterior para podermos saber que estamos verdadeiramente vivendo o Tempo dos Tempos. Para a maioria, as caveiras de cristal têm ajudado a esta me contato com seu interior e a descobrir muitos dos incríveis dons que possuímos. E ainda que certamente não necessitemos das caveiras de cristal, temos que convir que seja uma poderosa lembrança de que o mundo que conhecemos vai mudar radicalmente.

Vivemos num tempo em que devemos empregar e compartilhar nossos conhecimentos e experiências com os outros e reconhecer que somos membros de uma grande família: a do Homem. A comunicação entre nós esta cada vez mais fácil, tornando nosso mundo ainda menor, graças à tecnologia atual – especialmente aos sistemas transmissores de informações e ao crescente e mais generalizadas despertarem espiritual, ambos nos conduzem a nossa própria interconexão.

Enviada por Raziel – 24/12/2001

Anos atrás, no programa “acredite se quiser” o apresentador mostrou em um museu uma caveira de cristal azul e disse que havia uma recomendação aos proprietários do museu para que nunca deixasse a caveira á noite descoberta (sem um pano negro por cima), acho as caveiras artefatos surpreendentes…, sem dúvida resquício de uma cultura superior, atlântica ou não… todavia também acredito que chegará a hora de alguma revelação…

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O SENTIDO DE COMUNIDADE.

O sentido da comunidade e a vida humana são altamente valores valorizados na vida africana tradicional. Esta indicação remanesce verdadeiramente, apesar das experiências e de guerras brutais em muitas partes do continente.

Para os africanos tradicionais, a comunidade é basicamente sagrada, melhor, secular, e cercado por diversos formas e símbolos religiosos. Um visitante a África é logo golpeado pelo uso freqüente do primeiro plural da pessoa ‘ nós ‘, nos discurso diário e na fala normal do povo africano.

Em cidades urbanas africanas modernas, a lealdade entre a comunidade, a suas  famílias numerosas e a suas vilas, continua a ser sua marca, mesmo com os que vivem afastado de suas  comunidades

Retornam geralmente a suas vilas de sua residência nas cidades de tempo em tempo, para se juntar aos membros de sua comunidade para comemorar os rituais tradicionais importantes e os eventos culturais, gostam das iniciações, e de participarem dos festivais locais.

De sua residência em cidades urbanas, emitem contribuições financeiras substanciais a suas comunidades para projetos de desenvolvimento de sustentação aos vários setores, como a provisão da eletricidade e água, e também para construir instituições educacionais e de concessões escolares, fundos para jovens  para estudos adicionais em países estrangeiros ou em seu próprio país.

O que quer que aconteça ao indivíduo é creditado o problema ao grupo todo, a comunidade toda, e o que quer que aconteça ao grupo inteiro, acontece no individual… O indivíduo pode somente dizer: “Eu sou porque nós somos, e desde que nós somos, conseqüentemente eu sou.

Vivem geralmente juntos e dão forma à comunidade.

 
Para africanos tradicionais, a comunidade é muito mais do que simplesmente agrupar socialmente nos limites dos povos juntos por razões da origem natural e/ou interesses comuns e valores profundos.

É uma sociedade em comum, uma unidade que incluem os mundos visíveis e invisíveis; o mundo fisicamente, de viver de um lado, e o mundo dos antepassados ( invisível), das divindades e das almas,  e o das crianças a serem  instruídas ainda por seus parentes( pai e mãe).

Em um sentido mais amplo, a comunidade tradicional africana compreende a totalidade do mundo da experiência africana incluindo o ambiente físico (visível), assim como de todos os espíritos (invisíveis).

A rede dos relacionamentos entre seres humanos é notavelmente forte e profunda. No fato, ‘as palavras ‘ ‘família ‘, ‘ o irmão ‘, ou ‘ a irmã ‘, etc. definem muito mais para africanos do que o que significam hoje para o europeu médio ou norte-americano.

O sistema modelo de família, para o africano, normalmente é a numerosa.

Onde normalmente vivem juntos, pai, mãe, tios, tias, primos e primas e outros parentes em um mútuo amor e respeito.

Os membros invisíveis, em especial os antepassados e os seres espirituais, divindades, são fortes presenças aos africanos. Suas realidades e suas presenças na comunidade são devidamente reconhecidas e honradas entre vários grupos africanos tradicionais.

A negligência dessa questão poderia desencadear um desastre para os seres humanos e a comunidade.

A presença dos antepassados é sentida particularmente na comunidade africana tradicional.  São creditados serem representantes benevolentes e poderosos da comunidade.

Em religiões tradicionais africanas há um contrapeso e um equilíbrio sensível e fundamental no universo, entre o mundo visível e invisível.

O criador, Olodumare entre os yorubás ou Chukwu entre o igbo, criado tudo que existe e ajusta tudo em seu lugar. Os africanos tradicionais vêem basicamente o universo como basicamente dois reinos; os reinos visíveis e invisíveis.

Agarram o cosmos como uma estrutura, consistindo no céu (mundo acima), no mundo físico e no mundo abaixo. Cada um destes é habitado por categorias diferentes de seres.

O criador, Olodumare é um anfitrião de todos os seres, dos espíritos, incluindo as divindades que habitam o céu (acima), outros divinizados, antepassados, e as miríades de espíritos que residem no mundo abaixo, e os seres humanos que ocupam a terra física.

Os seres humanos podem ser mais ou menos poderosos, mas seu mundo é o centro e o foco da atenção. Mas são aos seres humanos sensíveis demais para manter o contrapeso delicado do universo.

E é tudo isso acima descrito, que assegura a felicidade e a prosperidade dos indivíduos e da comunidade

Na área de moralidade,  contudo, é uma outra questão relevante para os africanos tradicionais que tentam dar forma aos povos e reforçar neles a idéia e os valores importantes da comunidade do bom viver em perfeita harmonia com todos os seus valores morais.

É lógico que cada grupo social evolui seu código ético distinto. Cada sociedade tem suas normas do comportamento, de tabus e de proibições aceitáveis. Muitos grupos africanos tradicionais vão além, das características e os incentivos morais, motivados através de normas de comportamento, com alguns rituais de purificação, para o bem e com medidas punitivas que tentam deter algum desvio dentro dos padrões da moralidade.

A religião pode ser distinta e separada da moralidade, entretanto, a linha que divide os dois é muito estreita, certamente. A religião tradicional africana tem um papel crucial na dinâmica ética dos diferentes grupos. No fundo, para o africano tradicional, “as divindades servem como policiais para os homens”, de  certa forma, na moral e na ética é um índice de regras e na orientação.

A conduta humana é vista como a chave na sustentação do contrapeso delicado, frágil entre o mundo visível e invisível.

A religião tradicional africana tem claramente um papel distinto como a fonte final e principal do poder e da autoridade super natural que sanciona e reforça a moralidade pública, que traz a paz, a prosperidade, com o respeito pelos antepassados, que é o espelho da moralidade familiar. 

Os africanos tradicionais acreditam no sucesso na vida, quando se incluem a presença da prole,que é a riqueza e a prosperidade, pois são todos descendentes das divindades e dos antepassados principalmente.  E só tem bons resultados na vida, quem trabalha duramente, e quem adere aos costumes, e normas tradicionais de moralidade da comunidade.

Aos que vivem estreitamente com esses ideais da comunidade tem a sua vida em uma quase perfeita harmonia. Somente tais pessoas poderiam eternizar uma esperança real de conseguir um status melhor diante da vida.

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VIDA E MORTE PARA OS YORUBÁS

Os yorubá, como os demais grupos africanos, crêem na existência ativa dos antepassados. A morte não representa simplesmente um fim da vida humana, mas a vida terrestre se prolonga em direção à vida além-túmulo, exatamente em algum dos nove espaços do Òrun, o domínio dos seres desprovidos do Èmì.

Assim, a morte não representa uma extinção, mas mudança de uma vida para outra. Os antepassados ou ancestrais são denominados Òkú Òrun e Àgbagbà, ou ainda pelo título de Ésà, usado para reverenciar os ancestrais nos ritos de Ìpàdé, dos candomblés do Brasil.

Um antepassado é alguém de quem uma pessoa descende, seja através do pai ou da mãe, em qualquer período do tempo, e que o ser vivente conserva relações filiais afetuosas. Somente alcançarão a condição de ancestral com merecimento de culto aqueles que atingiram uma idade avançada, com uma vida de boa qualidade e trabalho expressivo para a sociedade, além de terem deixado bons filhos. Para os yorubá, um casamento sem filho é algo mal sucedido.

Na verdade, seu sistema de valores tem por base três coisas: Owó (Dinheiro), Omo (Filhos) e Àíkú (Vida longa).

A Vida Longa é considerada a mais importante porque proporciona a oportunidade que pode tornar possível as duas outras. São esses e toda a linhagem de gerações passadas que, depois da morte se transformam, para seus familiares. Embora os ancestrais compreendam membros masculinos e femininos das gerações anteriores, os ancestrais masculinos são os mais importantes. Ao seguirem para o Òrun, os ancestrais são libertos de todas as restrições impostas pela terra, dessa forma, adquirem potencialidades que podem ser usadas para beneficiar seus familiares que ainda estão na terra. Por essa razão, é necessário mantê-los num estado de paz e contentamento. Quando dissemos que existe um culto ao ancestral, queremos dizer que o que existe de fato é uma manifestação de relacionamento familiar

A palavra culto então colocada tem o significado de homenagem que melhor expressa o nosso entendimento sobre o assunto. O encaminhamento do espírito, depois dos rituais realizados,corresponde a passar de volta pelo portão do Oníbodè em direção a Olódùmarè, para receber o julgamento de seus atos na terra.

De acordo com o Órun ao qual foi destinado, continuará a exercer suas funções familiares, agora de modo mais poderoso sobre seus descendentes que a ele continuam a se referir como Bàbá mi(Meu pai), ou Ìyá mi(Minha mãe). Esta forma salienta o amor e a afeição que caracterizam as relações de ambos. Trazendo ao exemplo: “Eu vou falar com o espírito de meu pai”, mas sim, “Eu vou falar com o meu pai”, numa comprovação de que eles continuam a ter o título de relacionamento que tinham enquanto chefes de família. O fim da vida na terra envolve a questão a respeito do que se transforma o homem após a vida atual. Toda religião encara isto: Nascimento, Vida e Morte( Ìbí, Ìyé, Àti Ikú), o Pós- Vida (Iyè Lébìn Kú), o Julgamento Divino (Ìdájó ti Olórun) e o possível retorno em outra vida, sucessivamente (Àtúnwa). Ikú – Morte É visto como um agente criado por Olodumaré para remover as pessoas cujo tempo na Terra tenha terminado.

A morte é denominada Ikú, e trata -se de um personagem masculino. Sua lógica é para as pessoas mais velhas e que dadas certas condições, devem viver até uma idade avançada. Por isso , quando uma pessoa jovem morre, o fato é considerado tragédia, por outro lado, a morte de uma pessoa idosa é ocasião para se alegrar. Sobre isto, costuma-se dizer: Ikú Kí pani, ayò I’o npa ni – “a morte não mata, são os excessos que matam”.

O odú òyèkú méji revela, em um de seus ìtàn, que a morte começou a matar depois que sua mãe foi espancada e morta na praça do mercado: “No dia em que a mãe da morte foi espancada No mercado de Ejìgbòmekùn A morte ouviu E gritou alto, enfurecida A morte fez do elefante a esposa de seu cavalo Ele fez do búfalo sua corda Fez do escorpião o seu esporão bem firme pronto para a luta”

Posteriormente, a morte foi subjugado depois que seus inimigos conseguiram que ela comesse o que era proibido comer, segundo o conceito do èwò, visto anteriormente,só conhecido através do jogo de ifá. Neste relato, é a esposa de Ikú, Olójòngbòdú, que revela este segredo:

“Nós consultamos Ifá para Olójòngbòdú Mulher de Ikú Ela foi chamada cedo, pela manhã Eles perguntaram o que seu marido não podia comer Que o tornasse capaz de matar outros filhos

indestrutível entre o familiar que partiu e seus descendentes que aqui ficaram.de pessoas ao redor? Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer ratos Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ratos? Ela disse que as mãos da morte tremeriam sem parar Ela disse que a Morte, seu marido, não podia comer peixe Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse o peixe? Ela disse que os pés da Morte tremeriam sem parar Ela disse que a morte, seu marido, não podia comer ovo de pata Eles perguntaram o que aconteceria se ele comesse ovo de pata? Ela disse que a morte vomitaria sem parar”.

A conclusão deste odú é que foram dados á morte todos os alimentos proibidos, o que a fez acalmar e impedir a sua tarefa que estava sendo feita sem qualquer critério, ou seja, a Morte foi subjulgada apenas depois que seus inimigos conseguiram que ele comesse o que era proibido comer.

Verificamos novamente a importância do respeito às coisas proibidas, éwò, cujo conhecimento só é possível através do sistema de ifá. Devemos registrar que, no processo de divinização de Ifá, ocorrendo a caída deste odú, irá revelar vitória de qualquer pessoa sobre a morte.

Embora a morte seja inevitável, e imprevisível, vimos que ele pode sofrer alterações através da intervenção de Orunmilá ou de qualquer outro Orisá junto a Olodumaré, e isto é previsto em outro mito, quando Exú consegue subornar o filho de Ikú, que revela o modo pelo qual Ikú matava com o uso de uma clava a fonte indispensável de seu poder.

Sem essa clava , Ikú tornava-se impotente. Exú foi ajudado pôr Ajàpàá, a tartaruga, que conseguiu o que desejava, conforme o dito: Ajàpàá gbé òrúkú I’owó Ikú – “A tartaruga tirou a clava das mãos de Ikú”. Posteriormente, fez um pacto com Orunmyilá, com a condição dele ajudá-lo a recobrar a sua clava; em troca, Ikú só levaria aqueles que não se colocarem sob a proteção de Orunmyilá ou aqueles que estivessem com a data já determinada para o fim desuas vidas na terra. Isto reflete a necessidade de um constante acompanhamento da situação de uma pessoa através do jogo. Daí o provérbio: Arùn I’a wò, a Ki Wo Ikú – “A doença pode ser curada a morte não pode ser remediada”. E ainda o odú Irò-sùn – oso revela: _Se Ikú não chegar, adoremos Oxum Se Ikú não chegar, adoremos Orixá Se ikú realmente chegar, não adianta Ikú receber sacrifício”Ìsinkú – Ritos Funerários A circunstância que cerca a morte de uma pessoa, a idade, condição social e o seu relacionamento religioso são fatores importantes que impõem a forma dos ritos funerários.

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OBALUWAYÈ

OBALUWAYE (OMOLU/SONPANÃ/OBALÚWAYÉ/OMOLU/SÀNPÒNNÁ)

 Obalúwayé na África

 Obalúwayé (“Rei Dono da Terra”) ou Omulu (“Filho do Senhor”) são os nomes geralmente dados a Sànpònná, deus da varíola e das doenças contagiosas, cujo nome é perigoso serem pronunciado.

Melhor definindo, ele é aquele que pune os malfeitores e insolentes enviando-lhes a varíola.

O culto a Obaluwaye, assim como o de Nanã Buruku, do qual trataremos no próximo capítulo, parece fazer parte de sistemas religiosos pré-Odùduà. Nem um nem outro consta da lista dos companheiros de Odùduà quando de sua chegada a Ifé, mas algumas lendas de Ifá dizem que Obaluwaye estava já instalado em Òkè Itase antes da chegada de Orunmilá, que fazia parte daquele grupo.

A antiguidade dos cultos de Obaluwaye e Nanã Buruku, freqüentemente confundidos em certas partes da África, é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe são feitos. Esse ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior a Idade do Ferro e à chegada de Ogum (que veio com Odùduà).

Algumas lendas falam de Obaluwaye e Nanã Buruku contra Ogum. Os primeiros recusam-se a reconhecer a antiguidade do deus do ferro como sendo anterior à deles próprios e, em conseqüência, de servir-se do ferroem suas atividades.

Essa disputa entre divindades poderia ser interpretada como o choque de religiões pertencentes a civilizações diferentes, sucessivamente instaladas no mesmo lugar e datando de períodos respectivamente anteriores e posteriores à Idade do Ferro. Poderia também ser conseqüência da diferença de origem de povos vindos, uns do leste, com Odùduà, e outros do oeste, anteriores a esse acontecimento.

O lugar de origem de Obaluwaye é incerto, mas há grandes possibilidades de que tenha sido em território tapá (ou nupê). Se essa não é sua origem, seria pelo menos um ponto de divisão de crença.

Frobenius escrevia que lhe fora dito em Ibadan que Sonpanâ tinha sido, antigamente, rei dos tapas.

Outra lenda de Ifá confirma essa última suposição: “Obaluwaye era originário de Empé (Tapá) e havia levado seus guerreiros em expedição aos quatro cantos da terra. Uma ferida feita por suas flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas. Obaluwaye-Sonpanâ chegou assim no território mahi no norte do Daomé, batendo e dizimando seus inimigos, e pôs-se a massacrar e a destruir tudo o que encontrava à sua frente. Os mahis, porém, tendo consultado um babalaô, aprenderam como acalmar

Sapanã com oferendas de pipocas. Assim, tranqüilizado pelas atenções recebidas, Sonpanâ mandou-os um palácio onde ele passaria a morar, não mais voltando ao país Empê. O Mahi prosperou e tudo se acalmou. Apesar dessa escolha, Sonpanâ continua a ser saudado como Kábíyèsí Olútápà Lempé (“Rei de Nupê em pais Empê”).

O culto de Sakpata, a versão fon de Sonpanâ, teria seu lugar de difusão na região mahi, na aldeia chamada Pingini Vedji, perto de Dassa Zumê, porém trazido pelos nagôs. Essa tradição é confirmada em Savalu, também na região mahi, onde Sakpata Agbosu do bairro Bla, chefe dos Sakpata da região, foi trazido, segundo dizem, ao templo de Ah_su Soha, o fundador, ou, mais exatamente, o conquistador do lugar que foi o ponto terminal de seu movimento migratório para o norte, migração empreendida para se afastar das regiões destruídas pelas campanhas dos reis de Abomey contra seus vizinhos do leste. Ahosu Soha, durante seu percurso, encontrou em Damê, no rio Weme, os kadjanu, nagôs originários da região do Egbadô, que se dirigiam também para o norte e se juntaram a ele para estabelecerem-se em Savalu com seu deus Agbosu.

As origens nagô-iorubás do vodum Sakpata são atestadas pelo fato de que, durante sua iniciação, os futuros Sakpatasi, pessoas dedicadas a Sakpata, são chamados ànàgonu (anago ou nagô) e que a língua usada no ritual de iniciação e nas orações é o ioruba primitivo, ainda falado diariamente pelos Aná.

Pesquisas feitas a respeito de Sakpata-Ainon (“Dono da Terra”) entre os fon ajudam a compreender as relações de Sànpònná-Obalúwayé, o “Rei Dono da Terra” para os iorubás, com Nanã Buruku, considerada sua mãe, no Brasil. Em Abomey, conta-se que Nàná Bùkùú ou Buruku) era mãe de um casal: K_h_su e sua mulher Ny_hwe Ananu, que são os pais de todos os Sakpata, senhores de muitas doenças temíveis de que falamos em outro trabalho.

O culto de Sakpata-Ainon, o Dono da Terra, conheceu em Abomey altos e baixos e tive disputas com a dinastia dos aladah_nu, reis do Daomé. Estes usavam alguns dos títulos gloriosos de Sakpata, tais como: Ainon (“ Senhor da Terra”) ou J_h_su (“Rei das Pérolas”). Os Sakpatanon, chefes desse culto, foram várias vezes expulsos do reino de Abomey.

Em Dassa Zumê, nos foi contada uma história sobre a origem de Sakpata-Sànpònná:

“Um caçador M_lusi (iniciado de Omolu) viu passar no mato um antílope (agbanlín). Tentou matá-lo, mas o animal levantou uma de suas patas dianteiras e anoiteceu em pleno dia. Pouco depois, a claridade voltou e o caçador viu-se na presença de um Aziza (Aroni em ioruba), que declarou ter intenção de dar-lhe um talismã poderoso para que ele colocasse sob um montículo de terra que deveria ser erguido defronte da sua casa. Deu-lhe também um apito, com o qual poderia chamá-lo em caso de necessidade. Sete dias depois, uma epidemia de varíola começou a assolar a região. O M_lusi

voltou à floresta e soprou o apito. Aziza apareceu e disse-lhe que aquilo que lhe dera era o poder de Sakpata e que era preciso construir para ele um templo e todo mundo deveria, doravante, obedecer ao M_lusi. “Foi assim que Sakpata instalou-se em Pingini Vedji”.

As proibições em relação à Sakpata são o agbalín, a galinha-d’ angola (sonu), um peixe chamado sosogulo, cujas espinhas são atravessadas, e o carneiro. As oferendas indicadas são os cabritos, galos, feijão e inhame.

Mas, voltando ao culto de Sonpanâ-Obaluwaye, haveria, segundo Frobenius, dois Sonpanâ: o que já foi referido, de origem tapá, que ele chama de Sànpònná-Airo, e o outro, que teria ido a Oyó, vindo do Daomé, que ele chama de Sànpònná-Boku, aproximando-o assim de Nanã Buruku; o que testemunharia os laços existentes entre Obaluwaye e Nanã Buruku.

Existe uma confusão muito grande a respeito de Sànpònná Obalúwayé, Omolu e Molu, que se misturam em alguns lugares e, em outros, são deuses distintos. O que dificulta o problema vem do fato de que Nanã Buruku é igualmente confundida com eles. Para não tornar muito extenso este texto, damos em notas algumas dessas variações. De sua leitura conclui-se que: ou assistimos na África a um sincretismo entre duas divindades vindas uma do leste, Sànpònná-

Obalúwayé (Nàná-Buruku), e outra do oeste, Omolu-Molu (Nàná-Brukung), que se juntaram e tomaram o caráter único de Kêto;

ou então, tratar-se-ia de uma divindade única, trazida por migrações leste-oeste, como as dos Ga, que foram de Benim para região de Acha, durante o reino de Udagbede, no fim do século XII e levada depois para seu lugar de origem, com um novo nome que, no início, era apenas um epíteto.

 Eis alguns oríkì de Sonpanâ, sob o nome de Omolu, recolhidos em Kêto e Abeokutá:

“Meu pai, filho de Savé Opara.

Meu pai que dança sobre o dinheiro.

Ele dorme sobre o dinheiro e mede suas pérolas em caldeirões.

Caçador negro que cobre o corpo com palha da costa,

Não encontrei outros orixás que façam, com ele, uma roupa de pele adornada com pequenas cabaças.

Não queremos falar (mal) de alguém que mata e come gente.

Veremos voltar, na estrada do campo, o cadáver inchado daqueles que insultam Omulu.

Ninguém deve sair sozinho ao meio-dia “ .

Essa última saudação é uma alusão ao nome de Olodé, proprietário do exterior (o que esta fora das casas), dando a Omolu e à sua presença habitual nas ruas, em horas de sol intenso, ao meio-dia… e o perigo que podem correr as pessoas desprovidas de talismãs protetores.

 Cerimônias para Obaluwaye

 Uma parte das cerimônias para Obaluwaye, em Ifanhim, passa-se no mercado. Isso se justifica pela presença, neste local, de um de seus templos, que tem a mesma forma das barracas do mercado, isto é: quatro pilastras e um simples telhado, onde o lugar consagrado ao deus é coberto por uma grande panela de barro emborcada. Nos dias de festa, depois de passarem pelo riacho sagrado, os fiéis chegam cedo pela manhã e em grupo, vindos do templo principal. O axé de Obaluwaye é trazido por uma mulher em transe que caminha com passos incertos, seguida por aquelas que levam as gamelas

com alimentos. Um elégùn possuído pelo deus a acompanha. Seu corpo foi todo salpicado, dos pés a cabeça, com pó vermelho, osùn (ossum). Ele está envolto num grande pano vermelho, bordado de búzios, que cobre sua cabeça e esconde metade do seu rosto. O cortejo se dirige ao pequeno templo do mercado e coloca, ao lado da panela de barro, duas lanças de madeira esculpida e colorida, os _k_ de Obaluwaye. O elégùn dança por um instante ao som de um conjunto de três atabaques, diante dos seus

fiéis que se prostram com a cabeça no chão. Os iniciados têm toda a cabeça recém-raspada, exceto um pequeno tufo na frente. Realiza-se, em seguida, uma refeição comum e, no fim do dia, forma-se novamente o cortejo, voltando ao templo principal, longe dos olhares indiscretos dos não iniciados.

Durante o período de iniciação, os novos seguidores de Obaluwaye são pintados com pontos e riscos brancos nos sete primeiros dias, como durante a iniciação dos elégùn de Sangô, descrita no início desse trabalho. É interessante constatar que esse costume continua a ser fielmente observado no Novo Mundo.

Tivemos oportunidade de assistir a belíssimas cerimônias num lugar chamado Isaba, no Holi do ex- Daomé, em 1953, uma época em que o modo de vista nessa região estava ainda preservado dos “ benefícios” das civilizações estrangeiras. Foi pouco antes de ser aberta a estrada Pobê— Kêto nessa região pantanosa, onde até então nenhum leito de estrada carroçável havia resistido às estações chuvosas. Essas festas realizavam-se em um templo de Sonpanâ, que tinham o nome de um rio, Idi.

Esse rio corria perto desse local, na região ahori, do lado nigeriano da fronteira.

O templo consistia em um grande cercado rústico, feito de estacas fincadas no chão, delimitando, em plena floresta, o espaço consagrado ao deus da varíola. No centro, encontrava-se um montículo de terra, sobre o qual havia uma panela de barro (ajere), cujo fundo, cheio de orifícios, lembra as cicatrizes deixadas pela varíola, simbolizando a ação do Rei Dono da Terra contra os malfeitores e os insolentes.

Duas cabanas de estilo holi estavam situadas uma defronte a outra nas duas extremidades. Eram choupanas concebidas para o clima dessa região com paredes de bambu e telhados de palha. Além delas, havia um grande abrigo, sem paredes nem cercas, que servia como local de reunião, cozinha, abrigo contra as intempéries ou dormitório para as pessoas que vinham tomar parte na festa.

Voltando a cerimônia, ela tinha por objetivo mostrar as primeiras danças dos iniciados em público.

Na noite da véspera, houve um àìsùn (“ não dormir” ). Por volta das oito horas da noite, os participantes do culto de Obaluwaye estavam reunidos no grande abrigo, sentados sobre esteiras. Os iniciados estavam deitados no chão, com a cabeça raspada, ar ausente, vestido com um pano bordado de búzios e amarrado no ombro esquerdo. Tinham inúmeras pulseiras, feitas de búzios, amarrados ao redor dos pulsos e dos tornozelos, e traziam a tiracolo longos colares feitos de búzios de maneira a imitar escamas de cobra, semelhantes aos já mencionados a Oxumaré, chamados brajá no Brasil.

Tinham o rosto, as mãos e os pés abundantemente salpicados de pó vegetal vermelho, osùn.

Os atabaques batiam de vez em quando um ritmo vivo e intermitente que animava alguns dos assistentes a dançarem por alguns instantes. Pequenas lamparinas a azeite-de-dendê (fìtílà) iluminavam suavemente a assembléia. À meia-noite, trouxeram uma taça de barro contendo azeite-dedendê, na borda da qual colocaram mechas de algodão e acenderam-nas enquanto as lamparinas eram apagadas. Toda a assembléia sentou-se em redor e um dos responsáveis pelo culto pôs-se a lançar substâncias e folhas sobre as chamas, pronunciando palavras constrangedoras. Suas mãos passavam e repassavam por cima do fogo, que ora brilhava com muito clarão e crepitava queimando aquelas substâncias, ora vacilava, parecendo extinguir-se, mas reavivava-se com novas doses produtos e folhas.

A assistência seguia atentamente todas essas operações.

Entretanto, a chama terminou por apagar-se. A escuridão foi total e os assistentes soltam um grito prolongado. Quando as lamparinas foram novamente acesas, a taça não estava mais lá. Todo mundo retomou um ar alegre e aliviado. A cinza, resultante desse trabalho, ia ser misturada às beberagens e aos banhos rituais dados aos iniciados. Houve uma refeição acompanhada de bebedeira e as coisas acalmaram-se um pouco.

No dia seguinte pela manhã, os iniciados fizeram a tradicional descia ao riacho para as abluções e, no começo da tarde, realizaram-se as primeiras danças em público.

Suas evoluções eram acompanhadas pelas dos seus iniciadores e de diversos sacerdotes de Obaluwaye, vindos dos templos das aldeias vizinhas. Os transes manifestavam-se com grandes gestos de braços, inclinações de corpos para frente e para trás e com uma tal violência, que os elégùn pareciam estar a ponto de perderem o equilíbrio. Os assistentes vinham logo amparar e abraçar seus corpos agitados.

Logo os transes acalmaram-se e foram todos se inclinar diante do montículo de terra coberto pelo ajere, e puseram-se novamente a dançar. Podia-se observar o ar trocista e desligado dos mais velhos, em contraste da expressão concentrada e tensa dos iniciados. Esses tinham uma vassoura nas mãos, chamada a África ilew_ e no Brasil “ xaxará de Obaluwaye” , símbolo da propagação e da cura das doenças.

 Obaluwaye no Novo Mundo

As pessoas que lhe são consagradas usam dois tipos de colares: o lagidiba, feito de

pequeninos discos pretos enfiados, ou colar de contas marrons com listas pretas. Quando o deus se

manifesta sobre um de seus iniciados, ele é acolhido pelo grito “Atotô!” Seus iaôs dançam

inteiramente revestidos de palha da costa. A cabeça também é coberta por um capuz da mesma palha, cujas franjas recobrem seu rosto. Em conjunto, parecem pequenos montes de palha, em cuja parte inferior aparecem pernas cobertas por calças de renda e, na altura da cintura, mãos brandindo um sasará, espécie de vassoura feita de nervuras de folhas de palmeira, decorada com búzios, contas e pequenas cabaças que se supõem conter remédios. Dançam curvados para frente, como que atormentados por dores, e imitam sofrimento, as coceiras e os tremores de febre. A orquestra toca para Obaluwaye um ritmo particular chamado opanije, significando em ioruba “ ele mata qualquer um e o come” , expressão que encontramos, anteriormente, nas saudações que lhe são dirigidas na África.

A festa anual de oferendas de comidas chama-se “Olubajé” , no decorrer da qual lhe são apresentados pratos de aberem, milho cozido enrolado em folhas de bananeira, carne de bode, galos e pipocas.

Segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. Neste dia, o chão do adro da Igreja de São Lázaro, na Bahia, é coberto de pipocas que as pessoas passam em seus próprios corpos para se preservarem de possíveis doenças contagiosas, associando, assim, numa mesma manifestação, a sua fé à força do deus africano e do santo católico.

As proibições alimentares das pessoas dedicadas a Obaluwaye são, como na África, carne de carneiro, peixe de água doce de pele lisa, caranguejos, banana-prata, jacas, melões, abóboras e frutos de plantas trepadeiras.

Diz que é filho de Nanã Buruku e originário, como ela e Osumaré, do país Mahi. Os “ pejís” dessas três divindades são, por esse motivo, reunidos numa mesma cabana, separa das dos outros orixás.

Retira do Livro Os Orisás de Verger, Pierre Fatumbi.

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